IPT 125 anos: pesquisa, apoio e conformidade técnica
Industrialização do setor e critérios de avaliação de desempenho ambiental dos produtos para construção devem fazer parte da agenda do instituto nos próximos anos. Conheça um pouco dessa história
Você sabe qual é a relação entre o avião Paulistinha, os carros movidos a gasogênio e o edifício Guinle, o primeiro com estrutura em concreto armado na cidade de São Paulo? Todos esses projetos históricos se destacam na folha de serviços prestados em pesquisa científica, desenvolvimento e inovação pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, o IPT, que acaba de completar 125 anos de existência.
Consultoria e serviços técnicos com abordagem multidisciplinar, ensaios e análises, metrologia e calibração, além de educação tecnológica, são parte do DNA do IPT, que foi criado em 1899, inicialmente como uma seção de ensaios de materiais da Escola Politécnica de São Paulo.
Junto com a embrionária indústria nacional, o instituto cresceu e se diversificou. Passou também a incluir diversas disciplinas da engenharia, tecnologia e ciência aplicada. Em 1934, foi transformado oficialmente em IPT e vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo.
Hoje, é internacionalmente reconhecido por seu papel na inovação tecnológica e no apoio ao desenvolvimento industrial e econômico do Brasil. E a construção, arquitetura e engenharia civil são parte central nessa história.
Para nos falar sobre essa relação indissociável entre o instituto e a indústria da construção, nós entrevistamos o pesquisador sênior do Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos do IPT, Eng. Claudio Mitidieri.
Doutor em engenharia civil pela Universidade de São Paulo, ele é especialista em sistemas construtivos e desempenho de edificações habitacionais, docente e coordenador da área de tecnologia do Mestrado Profissional em Habitação: Planejamento e Tecnologia, do IPT.
Confira, a seguir, a entrevista.
AECweb – Os corpos de prova extraídos pelo IPT no Edifício Guinle, o primeiro com estrutura de concreto armado em São Paulo, existem até hoje e estão preservados no acervo histórico do instituto. O que isso significa para a engenharia civil nacional?
Claudio Mitidieri – É um legado muito importante. O Edifício Guinle, de fato, foi o primeiro com estrutura de concreto na capital paulista, mas há outros corpos de prova lá também, que são mantidos em câmara úmida, há décadas, para verificar se o cimento segue registrando algum grau de hidratação ao longo do tempo. Uma das preocupações centrais do IPT sempre foi caracterizar os materiais de construção. Daí a relevância de fazer esses estudos de comportamento do concreto ao longo do tempo.
AECweb – O pioneirismo do IPT nos ensaios e análises de produtos, materiais e sistemas construtivos foi fundamental para a garantia de um patamar mínimo da qualidade na construção, principalmente habitacional, no Brasil?
Mitidieri – Sim, porque, desde a sua criação, o IPT oferece suporte técnico e de conhecimento à indústria que estava em desenvolvimento no Estado de São Paulo e no País como um todo. O parque industrial estava em processo de instalação e não havia muitas referências de propriedades e características dos materiais. O laboratório foi montado com esse objetivo, para dar apoio e orientação, caracterizando os produtos e estabelecendo parâmetros e requisitos para o desenvolvimento industrial. E tudo começou com os materiais de construção. Depois disso, vieram outros produtos, outros materiais e novas áreas de atuação.
As pessoas também perguntam:
Como se tornar um pesquisador na construção civil?
AECweb – Se tivesse que resumir em apenas cinco pontos, quais seriam as principais frentes de contribuição do IPT para a engenharia e a construção civil nacional nesses 125 anos?
Mitidieri – Destacaria, primeiro, a infraestrutura. O IPT apoiou muito a execução de barragens, pontes e viadutos. Há um modelo reduzido de parte da Usina Hidrelétrica de Itaipu que existe até hoje. A partir das décadas de 1970 e 1980, a divisão de edificações também começou a se estruturar. É importante mencionar o papel do instituto em relação à habitação de interesse social. O IPT participou ativamente, por exemplo, do Procontrol (Programa de Controle da Construção) uma iniciativa do Banco Nacional de Habitação (BNH), para melhorar a qualidade e a segurança das construções, visando garantir padrões mínimos para as obras habitacionais. Envolvia qualidade de projeto, de especificação e execução. É natural falar do IPT quando se trata de qualidade e desempenho da construção como um todo, particularmente da edificação habitacional. E, claro, inovação tecnológica. O instituto tem um papel fundamental na definição de parâmetros de análise para as inovações do setor, incluindo aí a formulação e desenvolvimento do Sinat (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas de Produtos Inovadores e Sistemas Convencionais de Construção), criado no âmbito do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). E destacaria também as normas técnicas. Os pesquisadores do IPT participam ativamente de comissões de estudo, ajudando a elaborar novos textos.
AECweb – O IPT teve um papel central na conceituação, formulação e desenvolvimento da Norma de Desempenho, a NBR 15575. Por que isso foi tão importante para o presente e, em especial, para o futuro do setor?
Mitidieri – Foi... ainda é... e será muito importante, principalmente, para o fomento da inovação na construção. Muitos dos critérios de desempenho que constam na norma são aplicáveis às inovações. Quem está desenvolvendo novos produtos e sistemas, por exemplo, ligados à industrialização ou à construção offsite, encontra ali muitas referências para análises de ordem técnica. E quanto maior o nível de esclarecimento da sociedade em relação àquilo que se pode exigir dos produtos do setor, a norma ganha muito mais importância. Veja, por exemplo, a questão da definição das responsabilidades. Isso faz parte da NBR 15575, que determina o papel do projetista, do fabricante e do construtor.
AECweb – Na sua visão, quais são as principais vertentes estratégicas para o futuro da construção civil e qual será o papel a ser desempenhado pelo IPT nesse contexto?
Mitidieri – A conformidade técnica seguirá como um vetor importante, pois é a base para a melhoria da produtividade, da redução de custos e dos processos ligados à qualidade e ao desempenho. Mas há outras coisas que são decorrentes disso, como a industrialização da construção e a transferência de muitas atividades, hoje realizadas no canteiro de obras, para um ambiente de fábrica. A industrialização, hoje, tem muito mais possibilidade de se concretizar e o IPT tem atuado tanto na parte de avaliar essas tecnologias quanto ao oferecer suporte no desenvolvimento de novos sistemas construtivos. Um aspecto extremamente importante, que vai avançar cada vez mais, se refere à sustentabilidade. Temos participado de iniciativas que visam a avaliação das condições ambientais dos produtos para construção. Participamos, inclusive, do SIDAC, o Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção. Estamos coordenando também um CCD (Centro de Ciência para o Desenvolvimento), com apoio da FAPESP, sobre cidades carbono neutro. Trata-se de um projeto com cinco anos de duração. Envolve empresas do setor, órgãos públicos e universidades. Vamos mapear demandas e procurar desenvolver questões ligadas à redução dos impactos ambientais na construção civil.
Conheça alguns dos ensaios realizados no IPT
• Esquadrias
• Argamassas
• Chapas de drywall
• Aquecedores solares de água
• Isolação sonora em edificações
Colaboração técnica
- Claudio Mitidieri – Doutor em engenharia civil pela Universidade de São Paulo, é pesquisador sênior do Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Especialista em sistemas construtivos e desempenho de edificações habitacionais, é docente e coordenador da área de tecnologia do Mestrado Profissional em Habitação: Planejamento e Tecnologia, do IPT.