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A boa gestão construtiva evita geração de resíduos na obra

Se os responsáveis pelas obras adotarem medidas para conter a produção de resíduos, os gastos e os impactos ambientais serão menores e a logística menos onerosa

Publicado em: 28/05/2015Atualizado em: 11/07/2019

Texto: Redação PE

Evitar a geração de resíduos nas obras é premissa obrigatória no check list da boa gestão construtiva. Eles são gerados em vários momentos do ciclo de vida das construções – desde as etapas de instalação do canteiro, manutenção, reformas e demolições de edifícios. Os especialistas estimam que um percentual de 42% a 80% da origem dos resíduos de construção no Brasil sejam gerados em atividades de manutenção, reformas e demolição, em proporções relacionadas ao tamanho e características de cada cidade.

Se os responsáveis pelas obras adotarem medidas para conter a produção desses resíduos, ao invés de se desdobrarem para administrar os montantes de entulhos produzidos, os gastos serão menores, os impactos ambientais reduzidos e a logística menos onerosa. Ou seja, diminuir produção de resíduos significa reduzir perdas.

“A geração do resíduo durante a fase de construção decorre das perdas nos processos construtivos”, observa o professor Vanderley John, do departamento de engenharia de construção civil da Escola Politécnica da USP, numa pesquisa feita em conjunto com Vahan Agopyan, também professor titular da Escola Politécnica da USP, e apresentada durante o Seminário Reciclagem de Resíduos Sólidos e Domiciliares, realizado pela Cetesb e Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

“A grande variação nas perdas ocorridas entre as diferentes empresas, ou em canteiros de uma mesma empresa que usam uma mesma tecnologia, mostra que essas perdas podem ser combatidas – assim como a geração de resíduos - sem mudança das tecnologias, através do aperfeiçoamento de projetos, seleção adequada de materiais, treinamento de recursos humanos, utilização de ferramentas adequadas, melhoria das condições de estoque e transporte e melhor gestão de processos”, ressalta Vanderley.

Tecnologia pode reduzir de perdas

As mudanças tecnológicas também reduzem as perdas e o entulho da construção. Processos como a incorporação de instalações em paredes de alvenaria, que exigem a quebra parcial da parede recém construída e sua reconstrução com argamassa, por exemplo, devem ser abandonados, aconselha Vahan Agopyan, da Escola Politécnica da USP.

“No entanto, nem todas as novas tecnologias adotadas recentemente colaboram com esse processo É o caso dos revestimentos internos à base de gesso, de adoção recente, com perdas de até 120% no serviço”, observa Vahan “A redução das perdas geradas na fase de construção, ao diminuir a quantidade de material incorporada às obras, reduz também a geração de geração de resíduo nas fases de manutenção e demolição”, acrescenta.

Redução de resíduos na manutenção das obras

A geração de resíduos na fase de manutenção é associada a uma série de fatores, que vão desde correções de defeitos (patologias), reformas ou modernização de edifícios, que normalmente exigem demolições parciais, até o descarte de componentes que tenham degradado e atingido o final da vida útil e por isso necessitam ser substituídos.

Nessa fase, é necessária uma melhoria da qualidade da construção, de forma a reduzir manutenção causada pela correção de defeitos. “Os responsáveis precisam adotar projetos flexíveis, que permitam modificações substanciais nos edifícios através da desmontagem com a reutilização dos componentes não mais necessários, além de aumento da vida útil física dos diferentes componentes e da estrutura dos edifícios”, explica Vahan Agopyan.

No Brasil, de maneira geral, os projetos sequer consideram a existência de atividades de manutenção e seus custos. Além disso, medidas de controle de deposição, transporte e até mesmo taxação da geração de resíduos pela construção são alternativas adicionais à disposição do poder público.

As ‘costas largas’ da construção civil

Embora o setor da construção seja um dos principais geradores de resíduos, não é possível apontar com precisão que ele seja o grande vilão das estatísticas sobre produção de resíduos sólidos no país. Quem faz essa constatação é o diretor executivo da Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), Carlos Alberto Vieira da Silva Filho. Ele diz que não há como confirmar se o setor polui mais ou menos do que outras áreas da economia.

“O peso específico do resíduo da construção civil é bastante elevado. Por ser mais pesado, ele se destaca nas estatísticas em relação a outros tipos de resíduos. Mas não há dados suficientes que permitam comparar setores que produzem mais ou menos resíduos”, afirma Carlos Alberto.

“Reciclar o material excedente é a saída para a construção civil e a Política Nacional de Resíduos Sólidos estimula isso”, diz ele. Neste sentido, algumas ideias já têm sido colocadas em prática. Belo Horizonte e Porto Alegre, por exemplo, criaram Bolsas de Resíduos, onde são publicadas ofertas de solo escavado para obras de terraplenagem e de resíduos de gesso, para serem utilizados como matéria-prima nas indústrias de cimento.

Segundo Carlos Alberto, de 30% a 37% do lixo produzido no país constitui resíduo seco que pode ser reutilizado. Outros 55% são resíduos úmidos, aí incluindo o material orgânico. Sobram, portanto, de 8% a 10% de rejeito. 

Colaboraram para esta matéria

Carlos Alberto Vieira da Silva Filho – diretor executivo da Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais)

Vanderley John – diretor executivo da Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais)

Vahan Agopyan – departamento de engenharia de construção civil da Escola Politécnica da USP