Acústica das lajes é assunto delicado
A Norma de Desempenho, que está chegando, prevê índices de isolamento acústico para as lajes. Mas o mercado precisa se preparar
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Tão incômodo quanto o ruído do tráfego de veículos, das sirenes e do latido de cães – quando não de aviões –, é o do salto do sapato, do arrastar de móveis e do som da TV no apartamento de cima. O barulho que vem de fora pode ser isolado a partir de cuidados com o sistema de fachadas, enquanto aquele transmitido internamente à edificação se refere ao desempenho da laje. Ambos são alvo da ABNT NBR 15575 – Norma de Desempenho, que contempla o ruído de impacto e o ruído aéreo e deve entrar em vigor em março.
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ExigÊncias
A parte 03 da norma - Sistema de Pisos estabelece índices mínimos L’nTw – indicador normalizado padrão ISO para desempenho acústico ao ruído de impacto. Davi Akkerman, presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica) explica que, quanto mais alto esse índice, pior o desempenho. Pela NBR 15575, o máximo aceitável será L’nTw de 80 dB. “Mais do que isso é muito ruim. Os imóveis de padrão popular construídos com lajes de 8 cm ou 9 cm, sem contrapiso flutuante, estão condenados, não passam na norma. Para passar, a laje tem que ter, no mínimo, 10 cm ou 11 cm”, reforça. A norma fixou em 65 dB o desempenho Intermediário e em 55 dB o Superior.
“Agora as construtoras já estão se preocupando em atender às exigências da regulamentação. Mas inicialmente algumas se posicionaram fortemente contrárias à norma – especialmente aquelas que não queriam ter mais custos, ou não estavam dispostas a mudar seus padrões construtivos. Para elas, quanto menor a espessura da laje, melhor, porque vão tirando centímetros de cada pano e construindo mais um andar. É economia de concreto e de peso. E depois quem sofre é o usuário, que até agora não podia reclamar, porque não havia norma regulando o desempenho acústico de impacto”, afirma Davi Akkerman, lembrando que essa é a principal reclamação dos moradores dos edifícios. Akkerman acredita que a norma vai disciplinar o desempenho acústico das lajes, apesar de os índices estabelecidos não serem os ideais: “os países europeus exigem, no mínimo, de L’nTw de 65 dB – equivalente ao nosso Intermediário”.
RuÍdo aÉreo
A NBR 15575 utiliza o DnTw – índice de redução sonora ponderado – ao estabelecer níveis aceitáveis para o ruído aéreo. Neste caso, quanto maior o índice, melhor o desempenho acústico. De acordo com o presidente da ProAcústica, esses índices dependem do tipo de uso da área que está acima e embaixo da unidade em questão. Em se tratando de dormitório, o DnTw deve ser de 45 dB e as áreas comuns dos edifícios de 45 dB.
Consultor de acústica, Akkerman acumula casos de clientes que desejam resolver o problema do ruído em seu apartamento gerado pela unidade que está acima. “Existe o desempenho ao ruído aéreo e ao ruído de impacto. O ruído aéreo tem sua origem no ar e é transmitido através do sistema piso/parede, como música, televisão, conversas”, afirma. Para isolar este tipo de ruído, o mais recomendado pela ProAcústica é a instalação de um forro sob a laje superior (teto do apartamento). Os mais habituais são os sistemas de painéis rígidos sobre perfis, como o drywall. “Para o adequado isolamento acústico, devemos deixar uma cavidade entre o forro e a laje, colocando material absorvente em seu interior. É importante lembrar que o forro deve ter estanqueidade e que, se o furarmos para colocar luminárias ou outros acessórios, podemos perder suas propriedades isolantes”, orienta.
RuÍdo de impacto
Já o ruído de impacto é produzido por impacto ou atritos sobre o piso do apartamento. “O tratamento mais recomendável para evitar este tipo de ruído e para que o impacto não seja transmitido para a estrutura do edifício, seria a instalação de um piso flexível no andar acima do tipo carpete ou vinílico espesso, ou ainda o contrapiso flutuante”, diz. Para o consultor, a laje com desempenho ideal é aquela que se compõe com um contrapiso flutuante.
“No sistema convencional de laje zero, sem contrapiso, a acústica fica condicionada à espessura e a dimensão do piso. Ou seja, para uma mesma espessura, quanto menor o pano de laje, menor o desempenho acústico. Porque as paredes também são transmissoras da vibração sonora: um pano de laje pequeno significa que o cômodo é igualmente pequeno e recebe a vibração da laje. Também vibram, em ressonância, as paredes e estruturas que envolvem a laje”, ensina.
Akkerman lembra que o contrapiso flutuante não deve ser fundido sobre a laje, mas deve ter uma manta resiliente intercalada entre ele e a laje. Com isso, é formado fisicamente um modelo de massa/mola/massa, onde a massa é o contrapiso e a laje, e a mola é a manta resiliente entre as duas massas. “Muitas vezes esse tratamento acaba sendo complicado, já que requer a instalação do piso flutuante sobre a laje do vizinho de cima, o que nem sempre é possível, após o edifício habitado. Os tratamentos para ruído de impactos mediante forros no teto não são eficazes”, ressalta.
Conforto
O contrapiso flutuante é solução normalmente adotada nas obras em que se persegue uma certificação ou um padrão de edificação residencial ou comercial de mais alto nível. Akkerman defende, porém, que é preciso proporcionar isolamento acústico mínimo eficiente a todos os apartamentos, unidades residenciais divididas por lajes. Felizmente, conta, muitos empreendedores chamam a consultoria de acústica para participar da equipe de projetistas do edifício. “Isso é o correto porque torna as soluções mais econômicas e eficientes”.
Nos edifícios corporativos, as exigências quanto ao comportamento acústico são menores. Via de regra, as lajes são mais espessas porque são grandes panos de lajes que recebem equipamentos, instalações, pisos elevados e, às vezes, forro. “E não tem um reclamante embaixo que quer dormir. Os parâmetros construtivos são superiores, se comparados aos dos prédios residenciais”, conclui.COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA
Davi Akkerman – Engenheiro civil pelo Mackenzie (SP), com Pós-Graduação/Mestrado em Building Acoustics pelo Institute of Sound and Vibration Research" da "University of Southampton" Inglaterra (80). Em 1983, Membro Eleito do "Institute of Acoustics" - Grã-Bretanha; em 2007/09, Conselheiro da Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac); Sócio-Diretor da Acústica Engenharia S/C Ltda. de 1981/93. Em 1994, fundou a Harmonia Acústica Ltda, para projetos e consultoria de acústica aplicada às edificações e controle de ruídos no meio ambiente.