Acústica impacta a recuperação de pacientes em hospitais
Projetos de hospitais e clínicas podem se valer de uma ampla gama de soluções para absorver e condicionar os ruídos, sem comprometer a higiene ou a estética
O hospital DF Star recebeu diferentes soluções acústicas (Foto: Divulgação/C+A Arquitetura)
Hospitais são instalações complexas, projetadas e construídas para atender a uma série de requisitos de funcionalidade, acessibilidade, higiene e conforto. Uma das condições para que esses locais operem como um vetor de saúde é a qualidade acústica, fundamental para a recuperação dos pacientes e para o bem-estar dos demais usuários.
Garantir ruídos em níveis adequados nesses espaços exige um projeto de arquitetura que considere as necessidades e particularidades de cada ambiente hospitalar, bem como as fontes sonoras existentes. Elas podem ter origens diversas, desde aparelhos e máquinas, como respiradores, às instalações hidráulicas e de ar-condicionado.
Há, ainda, os ruídos gerados pelo tráfego de pessoas e os barulhos externos à edificação. Para tratar esses últimos, ainda nas etapas iniciais de projeto, é necessário realizar um mapeamento sonoro do entorno. A partir deste estudo, é possível tirar partido da implantação do edifício no terreno e manter os setores mais sensíveis afastados das fachadas mais expostas, assim como dimensionar vedações mais apropriadas para prover o nível de isolamento necessário.
ESPECIFICAÇÃO DE MATERIAIS
Sistemas de caixilharia com vidro duplo, paredes robustas de bom desempenho, drywall com recheio de lãs minerais, além de forros e painéis absorvedores são algumas soluções indicadas para garantir conforto acústico aos usuáriosAna Paula Naffah Perez
Em relação aos critérios de conforto acústico interno, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) recomenda níveis de pressão sonora equivalentes (LAeq) entre 35 dB e 45 dB para diferentes ambientes hospitalares.
Para atingir tal desempenho, algumas estratégias são a especificação de portas e esquadrias com foco em isolamento acústico, bem como a aplicação de revestimentos em forros e paredes para absorver e tratar o barulho indesejável. Além disso, os produtos precisam atender a outros requisitos importantes para ambientes de saúde como tratamento antibacteriano e antifúngico, atender às normas de vigilância sanitária e ter facilidade de limpeza e manutenção.
Em função do pé-direito duplo, foram utilizadas as nuvens OWAplan e os painéis Nexacustic (Foto: Divulgação/C+A Arquitetura)
“Sistemas de caixilharia com vidro duplo, paredes robustas de bom desempenho, drywall com recheio de lãs minerais, além de forros e painéis absorvedores são algumas soluções indicadas para garantir conforto acústico aos usuários”, comenta a arquiteta Ana Paula Naffah Perez, diretora comercial e de novos negócios da C+A Arquitetura.
Em especial com relação aos sistemas de forro, há linhas específicas para os ambientes de saúde. Produtos como o Ecophon Hygiene, por exemplo, podem ser introduzidos para tratar ruídos, inclusive, em salas limpas.
No DF Star, hospital de alto padrão em Brasília, os materiais especificados buscaram conciliar alta performance acústica com uma atmosfera humanizada e acolhedora. Com 30 mil metros quadrados de área, 112 leitos para a internação e 30 leitos de UTI, o hospital é uma referência no tratamento de câncer, sendo o principal centro de excelência da radioterapia na América Latina.
Ana Paula Perez conta que no lobby, em função do pé-direito duplo, foram utilizadas as nuvens OWAplan e os painéis Nexacustic. No posto de enfermagem, nas áreas de circulação e na sala multiúso, a escolha recaiu sobre o forro mineral OWA Sinfonia, que combina superfície lisa à excelente absorção sonora.
Na circulação da área de transplante de medula, o forro Sinfonia foi combinado a outro forro mineral, o Humancare, que apresenta Classe M1 de desinfecção hospitalar e Classe CP 5 de descontaminação cinética, conforme a norma de higiene hospitalar internacional NFS 90-351. Para o restaurante, os forros removíveis com placas perfuradas Gyptone Placo agregaram boa absorção acústica e fácil instalação.
QUESTÃO DE SAÚDE
Há estudos científicos que mostram que uma boa acústica pode reduzir a necessidade de medicação extra em 67% e a reinternação hospitalar em 56%Fernando Neves
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ruídos acima de 56 dB são suficientes para provocar estresse auditivo. Contudo, em algumas unidades de terapia intensiva, em função da quantidade de equipamentos ruidosos, é possível encontrar até 90 dB.
“É muito importante a sensibilização e a conscientização sobre o excesso de ruídos em hospitais, principalmente neste momento de pandemia. Há estudos científicos que mostram que uma boa acústica pode reduzir a necessidade de medicação extra em 67% e a reinternação hospitalar em 56%”, afirma Fernando Neves, coordenador de desenvolvimento de mercado acústico na Saint-Gobain.
Uma pesquisa realizada no hospital John Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos, associou o excesso de ruído à elevação do estresse e da pressão arterial, bem como à intensificação da frequência respiratória e dos batimentos cardíacos.
Quem trabalha em ambientes com excesso de barulho também sofre com irritação, dores de cabeça e baixo nível de concentração. Um trabalho realizado pela Associação Brasileira de Fonoaudiologia apontou que 83% dos enfermeiros se mostram insatisfeitos com os ruídos em seus locais de trabalho.
No restaurante, os forros removíveis com placas perfuradas Gyptone Placo agregaram boa absorção acústica e fácil instalação (Foto: Divulgação/C+A Arquitetura)
Colaboração técnica
- Ana Paula Naffah Perez — Arquiteta e urbanista, é diretora comercial e de novos negócios da C+A Arquitetura.
- Fernando Neves — Arquiteto e urbanista, especialista em conforto ambiental. É coordenador de desenvolvimento de mercado acústico na Saint-Gobain.