Água de ar condicionado pode ser reaproveitada
Ao ser usada nas torres de resfriamento, a medida sustentável gera economia de até 100% no consumo de água de médios e grandes empreendimentos
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Em tempos de economia dos recursos hídricos, grandes empreendimentos como shopping centers e indústrias atentam para o elevado consumo de água das torres de resfriamento do ar condicionado. Mas, se de um lado o sistema consome, de outro gera água passível de aproveitamento. Por se tratar de um pequeno volume, a produção drenada do ar condicionado é somada, de maneira complementar, aos sistemas de tratamento de água pluvial e cinza, para a alimentação das torres de resfriamento, irrigação de jardins e descarga, entre outros usos.
“No verão, a purga de água do equipamento tem volume excelente, que varia de 10 a 15% do consumo das torres de resfriamento do ar condicionado. Esse líquido pode ser direcionado diretamente para o reservatório de águas pluviais ou para o tanque de água cinza tratada. O tratamento final – filtragem e cloração – é feito para todos esses sistemas, incluindo o líquido do ar condicionado, sem qualquer alteração no resultado”, diz o engenheiro Paulino de Almeida Neto, da AcquaBrasilis. Ele acrescenta que a água vinda do equipamento é praticamente pura, afinal trata-se de vapor condensado.
Na estação quente e úmida, o condicionamento é muito mais exigido, consumindo mais água. Em contrapartida, como chove muito, é o período em que os edifícios menos irrigam e pouco lavam as áreas descobertasSibylle Muller
A engenheira Sibylle Muller, diretora da empresa, relata que o edifício corporativo Alvino Slaviero, em São Paulo, tem instalado um sistema a seco de condicionador de ar. “Portanto, não consome, apenas gera água que, junto com a pluvial e cinza tratada, é reutilizada para irrigação, vaso sanitário e limpeza. É um ótimo complemento”, diz, acrescentando que no edifício Eldorado Business Tower foi implantado sistema similar.
Para os empreendimentos que utilizam sistema de ar condicionado com torres de resfriamento, direcionar a água de reúso traz ganhos significativos ao condomínio durante o verão. “Na estação quente e úmida, o condicionamento é muito mais exigido, consumindo mais água. Em contrapartida, como chove muito, é o período em que os edifícios menos irrigam e pouco lavam as áreas descobertas, utilizando, portanto, menos água de reúso”, comenta.
CONSUMO E REAPROVEITAMENTO
De acordo com Almeida Neto, as torres de resfriamento são responsáveis pela maior parcela do consumo de água em um shopping center. Ele exemplifica: “Em um empreendimento de médio porte desse segmento, a torre de resfriamento consome em torno de 50 m³/dia. Em uma conta rápida, se multiplicamos por R$ 25 o metro cúbico, teremos R$ 1.250 por dia. Ao empregar água de reúso para as torres de resfriamento, um empreendimento de médio porte pode economizar 100% desse valor, ou seja, quase R$ 40 mil por mês e somente de água, porque esse valor dobra ao incorporar o esgoto, procedimento usual das empresas de saneamento como a Sabesp”.
Ao empregar água de reúso para as torres de resfriamento, um empreendimento de médio porte pode economizar 100% desse valor, ou seja, quase R$ 40 mil por mês e somente de água, porque esse valor dobra ao incorporar o esgotoAlmeida Neto
É o caso, cita o engenheiro, de um shopping center em Manaus, recém-inaugurado e com poucas lojas em funcionamento, que está consumindo R$ 60 mil mensais com a conta de água – boa parte referente à água consumida pelo ar condicionado. A opção do empreendimento, agora será a instalação de estação de tratamento de esgoto (ETE), que vai gerar água de reúso, além de um poço profundo. Outro case destacado é o do Shopping Village Mall, no Rio de Janeiro, que emprega a água de reúso nas torres de resfriamento do ar condicionado, obtendo economia financeira de mais de 70%, se comparado ao que pagariam à concessionária de saneamento local.
A água consumida pelas torres de resfriamento, mesmo que potável, deve ter ótima qualidade. Exige tratamento, pois qualquer resíduo ou componente químico se incrusta na tubulação, que acaba entupindo. Muitos dos problemas de funcionamento do ar condicionado são causados pela condutividade da água, que contém excesso de minerais como ferro e manganês, ou dureza da água. “A água de reúso – seja pluvial, cinza, de drenagem do ar condicionado ou o seu conjunto –, é tratada através de barreira física, ou seja, membranas com poros minúsculos de 0,2 micra, acrescida de cloração. O procedimento desinfeta e remove os resíduos”, garante Sibylle Muller.
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Sistema para aproveitamento de água da chuva
Filtro para tratamento de água
INDÚSTRIAS
Assim como as torres de resfriamento do ar condicionado, as caldeiras utilizadas por diversos setores industriais consomem grandes volumes de água. Com o aproveitamento de águas pluviais durante os períodos chuvosos, há abundante disponibilidade do recurso. “Durante cerca de seis meses ao ano, é possível economizar até 100% do consumo. A instalação é simples, porque as plantas industriais são, em geral, grandes galpões que oferecem a facilidade na implantação da tubulação hidráulica. As amplas áreas de cobertura desse tipo de construção também mostram uma condição ideal para a captação de água”, observa a diretora da AcquaBrasilis. Além das condições físicas da indústria, a instalação de sistema de aproveitamento de água pluvial conta com a disposição do proprietário que, em geral, quer reduzir o consumo para chegar a um custo menor com água, além da garantia de um payback de 12 meses, em média. “O empresário entende bem que, mesmo com um custo alto de implantação, se resultar em uma grande economia e retorno rápido do investimento, vale a pena”, diz.
IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE REAPROVEITAMENTO
Almeida Neto destaca que para a instalação de um sistema de aproveitamento de água pluvial ou de reúso de águas cinzas e de esgoto, em um prédio pronto, o processo é longo. Envolve uma série de estudos como o de viabilidade física, custo de obra civil e dos sistemas de tratamento. Ele exemplifica a partir de um edifício de um shopping center pronto: a primeira variável é o custo do consumo de água e de esgoto atual; as possibilidades de tratamento – pluvial, cinza, esgoto.
Mesmo diante da necessidade de realização de obras civis, o custo-benefício do sistema em empreendimento de compras é excelente, ao contrário dos edifícios corporativos ou residenciais, nos quais o payback será de quatro ou cinco anosSybille Muller
Depois, vêm as variáveis espaciais, ou seja, o espaço físico onde instalar a estação e quais são as obras civis necessárias para implantar o sistema e para levar a água até os pontos de consumo. As respostas a esses estudos devem apontar para uma economia de água entre 30 a 40% sobre o valor gasto mensalmente pelo empreendimento.
As principais restrições para a implantação de sistema de tratamento e reúso são os prédios muito antigos e a impossibilidade de separar a tubulação de água potável da água de reúso. “No caso de shopping centers mais antigos, há um grande número que possui banheiros em uma única prumada, permitindo a instalação de rede hidráulica separada”, diz Sybille Muller. Ele acrescenta que, mesmo diante da necessidade de realização de obras civis, o custo-benefício do sistema em empreendimento de compras é excelente, ao contrário dos edifícios corporativos ou residenciais, nos quais o payback será de quatro ou cinco anos. Isto vale especialmente para edifícios com baixo consumo na irrigação, algo em torno de 15 m³/mês”, diz.
Colaboraram para esta matéria
- Paulino Almeida Neto – Engenheiro civil formado pela EESC – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (2004). Mestrado também na EESC (2007), Departamento de Hidráulica e Saneamento. Na AcquaBrasilis, é responsável pelo Departamento Técnico.
- Sibylle Muller – Graduada em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (1982), com mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (1989). Especialista em “Gestão e tecnologias Ambientais” pelo “Programa de Educação Continuada”, da Poli-USP. Consultora do DGNB (sistema alemão de certificação ambiental) para edifícios administrativos novos, versão 2010 (2013). Diretora da AcquaBrasilis – empresa especializada em desenvolvimento de projeto e instalação de estações de tratamento de água para reúso e de sistemas de tratamento de água pluvial, desde 2001.