Aproveitamento de fontes alternativas de água em edifícios
As formas de reutilização da água exigem projetos previamente estudados.<br>
Redação AECweb
"A atenção ao meio ambiente é uma preocupação que vai crescer muito e as construtoras terão de atender a essa necessidade. As empresas que se anteciparem vão estar bem posicionadas. Depois, será obrigatório. Quem sair na frente vai estar mais adaptado". O depoimento do arquiteto e conselheiro da Ademi (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário), Afonso Kuenerz, reflete uma tendência a ser seguida cada vez mais na construção civil, que diz respeito às práticas sustentáveis no setor.
Atualmente, as construtoras tentam minimizar o impacto ambiental ao optarem por produtos, materiais e sistemas que não prejudiquem o meio ambiente. Além de ser uma atitude ambientalmente responsável, porta-se como uma estratégia de negócio, pois permite maiores oportunidades no segmento.
Entre as medidas adotadas pelas empresas nas novas construções, está o aproveitamento de fontes alternativas de água em edifícios residenciais. Sabe-se que o conceito de reuso de água em edificações não é recente. Isso porque no ano de 1943, a prática foi introduzida no Brasil pelos norte-americanos com a construção de uma instalação na Ilha de Fernando de Noronha. No entanto, o assunto tomou grandes proporções apenas nos últimos anos, quando houve uma crescente preocupação ambiental em todos os setores.
Como explica o Sr. Orestes Gonçalves, membro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e professor da Poli-USP, “as diversas fontes alternativas de água existentes funcionam como ações positivas para a preservação ambiental, principalmente em tipologias de edifícios onde a gestão da operação do sistema seja garantida, evitando a contaminação do ambiente e preservando a saúde dos usuários”.
COMO FUNCIONA
O reaproveitamento da água define-se como a maneira pela qual essa substância - tratada ou não -, é reutilizada para o mesmo ou outro fim. Após sofrer tratamento adequado, destina-se a diferentes propósitos, com o intuito de preservar os recursos hídricos existentes e garantir a sustentabilidade.
A utilização da água, por duas ou mais vezes (após tratamento), também é um processo indicado para minimizar os impactos causados pelo lançamento de esgotos sem tratamento nos rios; reaproveitamento que também ocorre espontaneamente na natureza através do “ciclo da água”.
Dentre as fontes alternativas de águas, destaca-se o reaproveitamento de águas pluviais e o reuso de águas cinzas, aquelas provenientes do chuveiro, da máquina de lavar, da cozinha e do tanque. Mais recentemente, essa prática passou a ser utilizada para fins menos nobres, como o abastecimento das caixas de bacias sanitárias, lavagem de pisos, irrigação de jardins, entre outras.
De acordo com a CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), pode-se explicar que esse processo ocorre por meio de reutilização direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não.
Formas de reuso de água:
Reuso indireto não-planejado da água:
Acontece quando a água utilizada é descarregada no meio ambiente e novamente aproveitada, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada.
Reuso indireto planejado da água:
Processo que descarrega os efluentes de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, que por sua vez são utilizadas de maneira controlada, no atendimento de alguma necessidade.
Reuso direto planejado das águas:
É aquele cujos efluentes, depois de tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reuso. Esse método já está sendo praticado por algumas indústrias e em irrigações.
Reciclagem de água:
Reuso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição. Funciona como uma fonte suplementar de abastecimento do uso original. A reciclagem da água é um caso particular do reuso direto planejado.
VANTAGENS
O cenário demonstrado pela Agência Nacional de Águas (ANA) aponta que o setor urbano é responsável por 26% do consumo de toda água bruta do país e a construção civil responsável por 16% de toda a água potável. O uso deste recurso não se restringe ao período de construção do empreendimento; em um edifício residencial convencional os sanitários consomem aproximadamente 70% de toda a água utilizada, encarecendo os custos do condomínio.
De acordo com o CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), o uso adequado de fontes alternativas de água em substituição à água potável pode ajudar a reduzir esse valor em 30% a 40%, colaborando para a mitigação dos impactos pela construção civil no meio ambiente.
Reusar a água também oferece benefícios porque reduz a demanda nas águas de superfície e subterrâneas, além de proteger o meio ambiente, economizar energia, reduzir investimentos em infra-estrutura e proporcionar melhoria dos processos industriais. Portanto, o uso eficiente da água representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade de um modo geral.
Um dos pilares do uso eficiente da água é o combate incessante às perdas e aos desperdícios - no caso do Brasil a média de perdas nos sistemas de abastecimento é de 40%. Um sistema de abastecimento de água potável não deve ter como objetivo principal tratar água para irrigação ou para servir como descarga para banheiros ou outros usos menos nobres. Esses usos podem ser perfeitamente cobertos pelo reuso ou por água reciclada.
DESVANTAGENS
Apesar do aproveitamento de fontes alternativas de água em edifícios ser indiscutivelmente favorável a preservação do meio ambiente, alguns problemas podem ocorrer se o processo não for estudado previamente. O surgimento de doenças no reuso da água, decorrentes da falta de tratamento da substância, é um dos principais empecilhos enfrentados pela construção civil na tentativa de implantar essa prática. Como conseqüência, há casos de tubercularização, corrosão e entupimentos devidos à proliferação biótica.
Como explica Orestes Gonçalves, “o aproveitamento de fontes alternativas de água pode ser uma solução adequada para alguns tipos de edifício, desde que requisitos técnicos, gerenciais e comportamentais básicos sejam observados.”
Dentre estes requisitos, o especialista do CBCS destaca o rígido atendimento a critérios de projeto, execução, operação e manutenção dos sistemas, que evitem a ocorrência de conexão cruzada e reduzam o risco da contaminação da água potável; a implantação de um sistema de gestão da demanda de água, com foco na qualidade do insumo; o desenvolvimento de programas de educação ambiental dos usuários e de capacitação dos operadores do sistema hidráulico; e a definição das responsabilidades pela eventual ocorrência de contaminação.
Isso também implica na falta de conhecimento técnico na hora de projetar, de especificar e de implantar essas soluções. Passar por cima desses fatores técnicos pode prejudicar o bom funcionamento de estações e inviabilizar o retorno do investimento. Para evitar futuros problemas, o mais adequado é prevê-las a partir de um bom projeto, que leve em conta as necessidades e usos previstos. Outro ponto importante é a orientação do usuário quanto à correta operação dos sistemas.
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO
Tendo em vista intensificar a prática de se aproveitar fontes alternativas de águas em edifícios, as cidades brasileiras já estão tomando atitudes para se adequarem ao conceito sustentável. Em algumas regiões, foi transformada em lei a captação da água pluvial.
Outro fator observado é que Governo e Concessionárias se mobilizam no sentido de unir seus esforços para desenvolver programas de informação ao público sobre os princípios da eficiência do uso da água, explicitando como a água chega ao consumidor; os custos do serviço da água; a importância de se conservar a água e como as pessoas podem participar dos programas de conservação.
Redação AECweb