Arena Castelão: 1º estádio da Copa 2014 com certificado LEED
Sistema que economiza água, eficiência energética e materiais recicláveis foram algumas soluções sustentáveis que valeram ao estádio o certificado do USGBC
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A Arena Castelão, em Fortaleza, é a primeira entre as 12 que sediarão a Copa do Mundo de 2014 a conquistar a certificação ambiental LEED - Leadership in Energy and Environmental Design. É, também, a primeira da América do Sul a obter o selo concedido pelo USGBC - Green Building Council. A OTEC foi a consultoria que atuou junto à equipe de projeto e obra para obter a certificação. O projeto de arquitetura é do escritório Vigliecca & Associados.
“O envolvimento da equipe do Castelão foi exemplar tanto no que diz respeito à disponibilidade de recursos quanto no comprometimento para o alcance das metas propostas”, destaca David Douek, diretor da OTEC. Segundo ele, a construção, de acordo com critérios de sustentabilidade, permitirá ao estádio reduzir gastos com recursos naturais como água e energia, principalmente frente à realização dos eventos previstos durante e após a Copa do Mundo. “A expectativa é que o estádio sirva de referência para outros prédios públicos no que diz respeito à gestão dos recursos ambientais durante a construção e, também, durante a operação do edifício”, comenta.
A Galvão Engenharia, que encabeça o consórcio Arena Multiuso Castelão, implantou um Sistema de Gestão Ambiental, visando o uso racional dos recursos naturais e a preservação da biodiversidade, com uma melhor administração dos resíduos sólidos produzidos. No canteiro de obras, a empresa montou uma usina de reciclagem, onde todo o entulho gerado na demolição do antigo estádio foi reciclado para ser usado na pavimentação do novo estacionamento. Além disso, implantou um ‘lava-rodas’ de veículos, evitando sujeira nas vias públicas e promoveu o treinamento dos funcionários, para mostrar a importância da sustentabilidade na obra.
Sítios sustentáveis
Na categoria ‘Sítios Sustentáveis’, o empreendimento atendeu a diversos critérios, com destaque para o transporte público, que conquistou performance exemplar. O complexo é servido por quatro linhas de ônibus, que ultrapassam a frequência mínima de 200 viagens. Os dois pontos mais próximos às entradas podem ser acessados a pé num percurso de 400 metros. O projeto cuidou também de fornecer 5,1% de vagas preferenciais do total ofertado, para veículos que utilizam combustível alternativo. E quanto à capacidade de estacionamento, houve uma redução de 43% da quantidade de vagas disponibilizadas do número sugerido pelo guia ‘2003 Parking Generation Study’ elaborado pelo Institute of Transportation Engineers (ITE). Adicionalmente, foram fornecidas 5,42% de vagas preferenciais do total para veículos que fornecem carona. A totalidade das vagas do empreendimento está em estacionamento coberto, o que atende às providências para evitar o efeito ‘ilha de calor’ no piso. O mesmo vale para a cobertura do complexo, que tem 103,63% de sua superfície de acordo com o índice mínimo de refletância solar solicitado pelo LEED.
Consumo eficiente de água
A redução do consumo de água potável pelo complexo foi de 67,61%, conquistados apenas com a utilização de metais e de tecnologias economizadores. O valor é a média dos resultados obtidos pelas edificações.
No quesito ‘Tecnologias inovadoras para controle de efluentes’, foi comprovada a redução de 71,94% no volume de água potável direcionada à rede de esgoto.
Energia e Atmosfera
A expectativa é que o estádio sirva de referência para outros prédios públicos no que diz respeito à gestão dos recursos ambientais durante a construção e, também, durante a operação do edifício
O complexo do Castelão empregou sistema de condicionamento de ar que não utiliza gases refrigerantes à base de CFC (clorofluorcarbono), responsáveis pela destruição da camada de ozônio.
O atendimento do crédito de otimização do desempenho energético foi alcançado com redução comprovada de 12,7% do consumo anual de energia – média do valor obtido por ambos os edifícios.
O empreendimento se comprometeu a compartilhar informações sobre o seu consumo de água e energia, através de ferramenta aprovada pelo USGBC, o Energy Star Portfolio Manager.
Materiais e Recursos
Para atender o pré-requisito de ‘Estocagem e Coleta de Recicláveis’, foram construídas centrais de resíduos, apropriadamente dimensionadas para armazenamento de resíduos reciclados incluindo papel/papelão, plástico, vidro e metal, com frequência de coleta adequada.
O quesito ‘Gerenciamento dos resíduos de obra’ pedia que fossem desviados 50% dos aterros. Durante a obra do complexo, 97,07% dos resíduos gerados foram desviados dos aterros sanitários, sendo reutilizados e/ou reciclados. Outra conquista de performance exemplar.
O uso de madeira certificada, considerado prioridade regional para o Brasil, alcançou 92,92% de certificação pelo FSC em relação a toda a madeira permanente utilizada no empreendimento.
Qualidade ambiental no interior do edifício
O empreendimento atendeu a exigência de controle da fumaça do tabaco, com a implantação de política de proibição de fumo em todas as áreas internas do complexo e nas externas, à distância mínima de 8 metros de todas as entradas e tomada de ar dos edifícios.
No quesito ‘Materiais de baixa emissão’, 100% das colas e selantes e das tintas e revestimentos utilizados internamente atendem aos limites de compostos orgânicos voláteis (COV) padronizados. Da mesma forma, não foram utilizadas resinas com ureia-formaldeído nos compósitos de madeira, produtos de agrifibras e adesivos de laminados.
A exigência de controle dos sistemas de iluminação foi avaliada individualmente: na Secretaria de Esportes, a totalidade das estações de trabalho individuais e dos espaços compartilhados (multiocupantes) possui controles de iluminação; no Estádio Castelão, 97,44% das estações de trabalho individuais e 100% dos espaços compartilhados (multiocupantes) possuem controle de iluminação.
Foi desenvolvido um sistema de monitoramento assim como um processo de ações corretivas para garantir o conforto térmico dos usuários.
Colaborou para esta matéria
- David Douek – Arquiteto e administrador, é fundador e diretor da OTEC, empresa de consultoria de desempenho do ambiente construído, atuando em áreas que vão do urbanismo ao projeto, obra, operação e manutenção do edifício. Inclui serviços de processo de certificações como LEED, AQUA e Procel Edifica. É professor convidado de universidades como a Escola Politécnica da USP e do Mackenzie, e palestrante em congressos nacionais como o Green Building Brasil, e internacionais, como o Ecobuild, em Londres. Assina artigos técnicos publicados na mídia especializada em construção civil e sustentabilidade. Introduziu no mercado brasileiro o software inglês de simulação de desempenho energético DesignBuilder, utilizado pelos laboratórios de auditoria do Procel Edifica.