AsBEA lança Guia de Sustentabilidade
Publicação inédita auxilia o arquiteto a encontrar soluções para cada projeto, com vistas a criar um empreendimento sustentável
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
O "Guia de Sustentabilidade na Arquitetura: diretrizes de escopo para projetistas e contratantes", recém-lançado pela Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA), é resultado de seis anos de trabalho desenvolvido por um grupo de 12 profissionais associados da entidade, coordenado pela arquiteta Milene Abla Scala, do escritório Vivá Arquitetura. O grupo contou com o apoio de especialistas externos, que auxiliaram no desenvolvimento de temas específicos. “A experiência heterogênea do grupo resultou em discussões pautadas por uma visão ampla e abrangente, sem perder o foco no edifício construído, mas ao mesmo tempo apresentando a importância de sua inserção no entorno e na cidade”, afirma Milene.
Segundo ela, o objetivo é alinhar as expectativas de sustentabilidade a serem incorporadas aos projetos. “Não é um guia de materiais e sim de procedimentos”, diz, acrescentando que o documento a auxilia na elaboração do projeto, oferece parâmetros de sustentabilidade aos arquitetos no momento da contratação e diretrizes para o desenvolvimento. A meta é que o guia tenha também uma função educacional, por trazer uma visão ampla e abrangente sobre sustentabilidade.
Milene lembra, ainda, que a elaboração de um projeto é trabalho colaborativo desenvolvido por equipe multidisciplinar que precisa ser gerenciado. “Neste sentido, o guia visa aprimorar este processo para que as discussões com relação à eficiência passem a ser abordadas com referências numéricas de desempenho, de modo objetivo e mensurável”, comenta. Ela espera que o guia faça parte da rotina diária de trabalho do arquiteto e informa que, neste primeiro momento, sua edição foi feita em papel e está a venda na AsBEA, mas em breve estará disponível para download na internet no site da associação.
ConteÚdo
O guia é estruturado em duas partes, sendo que na primeira trata do programa do empreendimento e das condicionantes locais e, na segunda, apresenta as diretrizes projetuais. O primeiro capítulo orienta sobre o levantamento de dados que o arquiteto deve fazer antes de iniciar o projeto do empreendimento. Diz o que é preciso saber em cada tópico e o que fazer diante de cada situação. É dividido em quatro itens:
- Programa do empreendimento, qual o desempenho desejado dentro dos conceitos de sustentabilidade, como eficiência energética, e quais parâmetros devem ser seguidos.
- O segundo orienta o arquiteto a estudar as características do entorno, configurando suas interferências. Depois, orienta o profissional a estudar a infraestrutura do local para saber como é o fornecimento de água, de energia elétrica, rede de saneamento básico, estrutura viária e condições de mobilidade.
- O último item da primeira parte trata da vizinhança do empreendimento, do perfil da comunidade local. Com esse estudo o arquiteto pode entender como é a estrutura social do entorno.
O segundo capítulo, dividido em 13 itens, aprofunda o processo de projeto, quando o arquiteto irá trabalhar com as respostas encontradas em seu levantamento de informações. Começa tratando as questões de fora para dentro do empreendimento, avaliando os aspectos urbanos, a paisagem e a mobilidade onde o empreendimento será inserido. O segundo item trata da acessibilidade e Desenho Universal. Aborda as condições de acesso do edifício, não só no cumprimento das normas técnicas, mas orienta que o projeto permita adaptações posteriores. A questão da segurança vem a seguir, lembrando que devem ser priorizados os usuários, a proteção do patrimônio e equipamentos de prevenção e combate a incêndio.
A escolha dos materiais é tratada no quarto item, onde conduz para a análise do processo, desde a fabricação do produto até a sua colocação na obra, para construções novas, reformas, retrofits e desmontagem do prédio e destino final. “O objetivo é indicar os cuidados a serem observados durante todo o ciclo de vida dos materiais utilizados na construção de um empreendimento”, afirma Milene.
Ela explica que, nesta parte, o guia orienta que o arquiteto considere o aspecto de cada material, procurando dimensionar o projeto de maneira modular, utilizando métodos construtivos que reduzam a geração de resíduos. “Não queremos dar a receita porque ela não existe. A ideia é dar uma visão ampla para que o profissional possa escolher as melhores soluções em cada situação”, explica. O item cinco continua tratando da questão de resíduos, só que do ponto de vista do empreendimento, definindo espaços adequados para os resíduos a serem gerados pelos usuários, que serão armazenados à espera da coleta pública normal como para a de recicláveis, que ocorre apenas uma vez por semana.
Água, eficiÊncia energÉtica, conforto tÉrmico e qualidade do ar
Em relação à questão da água, tratada no item seis, Milene conta que o guia ressalta a importância de se entender como funcionam os sistemas de abastecimento de água e esgoto na região, estimulando o arquiteto a ter uma visão sistêmica do processo. Nos locais sem rede de abastecimento de água, nem sistema de saneamento, o projeto precisa prever as alternativas com a ajuda de especialistas. Neste item também é tratada a questão do reúso da água, sistemas de captação de água tanto da cobertura quanto de drenagem do solo.
Os itens sete, oito e nove tratam de eficiência energética, conforto térmico e visual. Esses temas são abordados em conjunto porque estão associados e o objetivo é encontrar o equilíbrio entre eles. “O projetista precisa saber quais são as diretrizes sustentáveis e o que é esperado pelo empreendimento. O processo tem de ser pautado pela análise de desempenho, levando em conta os custos e o conforto desejado”, diz.
Já o conforto acústico é tratado à parte no item dez, focado nas normas de desempenho. Sugere que seja realizado um levantamento do perfil de ruído da região para saber em que dia e horário é mais intenso. Isso possibilitará a escolha de materiais e equipamentos, visando oferecer maior conforto aos futuros usuários. Outro sentido humano que precisa ser atendido no projeto é o olfativo, objeto do item onze, que lembra que não é em todos os locais que se pode trabalhar utilizando ventilação natural, deixando as janelas abertas. “Empreendimentos próximos à marginal do rio Pinheiros são bons exemplos. O arquiteto precisa se preocupar com sistemas que façam o tratamento e renovação do ar interno com qualidade”, pontua.
Salubridade
Na sequência, o assunto é a salubridade do ambiente e sugere que o projeto se preocupe com a umidade do ar, apresente soluções, prevendo a proteção adequada da estrutura em todas as fases do projeto. O capítulo das Diretrizes Projetuais termina com o tema Operação e Manutenção do empreendimento. De acordo com Milene, este é um tema pouco tratado, mas se não houver orientação aos usuários sobre a utilização das vantagens oferecidas por uma construção que atenda às premissas da sustentabilidade, de nada adianta o investimento.
O guia é complementado por três textos: Gestão Integrada de projetos, por Ana Rocha Melhado e Sílvio Melhado; Exigências Normativas, escrito por Maria Angélica Covelo Silva; e Metodologia de Avaliação, assinado por Clarice Degani.
Grupo de Trabalho
A realização do "Guia de Sustentabilidade na Arquitetura: diretrizes de escopo para projetistas e contratantes" contou com a colaboração de 12 profissionais associados à AsBEA, que se dedicaram à elaboração do Guia, conciliando a contribuição com suas atividades diárias. São eles: Fernando Pinheiro; Marcia Mikai; Maria Paula Ouang; Silvio Cappanari; Ana Lucia Siciliano; Ana Rocha Melhado; Eduardo Martins; Eloise Amado; Guinter Parschalk; Marcio Porto; Paulo Lisboa; e Clarice Degani. Participaram ainda 21 especialistas para opinar e criticar sobre cada um dos temas tratados. “Em cada conversa descobríamos novos aspectos relevantes que se tornaram o diferencial no conteúdo”, afirmou.
Especialistas
Acessibilidade - Silvana Cambiaghi
Segurança - Rosária Ono e Valdir Pignata e Silva
Materiais - Vera Hachich e Vanderley John
Resíduos - Sergio Ângulo
Água - Orestes Gonçalves, Carla Sautchuk e Marcelo Morgado
Energia e Conforto Térmico - Roberto Lamberts, Maria Andrea Triana, Veridiana Atanasio Scalco, Rafael Lazzarini e Letícia Neves
Conforto Acústico - David Akkerman
Conforto Olfativo e Salubridade - Paulo Saldiva e Sheila Walbe Ornstein
Operação e Manutenção - Moacyr Eduardo Alves da Graça
Gestão Integrada de Projeto - Silvio Melhado e Ana Rocha Melhado
Exigências Normativas - Maria Angélica Covelo Silva
Metodologias de Avaliação - Clarice Degani, texto revisado por Roberto Lamberts
ServiÇo
Quem quiser comprar o Guia de Sustentabilidade pode entrar em contato pelo telefone:
(11) 3168-4982 ou pelo e-mail sac@asbea.org.brCOLABOROU PARA ESTA MATÉRIA
Arquiteta Milene Abla Scala – Formada pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo em 1996. Possui mestrado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo em 1999-2001 e especialização em conforto ambiental e conservação de energia pela Fundação para a Pesquisa Ambiental (FUPAM) em 2002-2003. É arquiteta titular do escritório Vivá Arquitetura e diretora de sustentabilidade da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (ASBEA).