Atualização da NBR 5419 deixará edificações mais seguras contra raios
Norma que dispõe sobre sistemas de proteção contra descargas atmosféricas terá novidades em relação aos procedimentos, cálculos e determinação da necessidade ou não do sistema
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Uma novidade trará mudanças aos sistemas de proteção contra descargas atmosféricas no decorrer de 2014: será publicada a nova edição da norma ABNT NBR 5419 - Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas. “A norma atual tem em torno de 45 páginas, já a nova chegará a 400. Haverá novidades em relação aos procedimentos, cálculos e determinação da necessidade ou não desse sistema. Entretanto, o assunto com maior ênfase será o cuidado com os aparelhos eletroeletrônicos, detalhando as regras para que seja realizada de maneira adequada a proteção contra queima desses equipamentos. Além de resguardar a estrutura da edificação e zelar pela integridade física de seus ocupantes, os para-raios devem prevenir a queima de aparelhos que estejam ligados nas tomadas”, detalha o engenheiro eletricista Hilton Moreno, consultor do programa Casa Segura, iniciativa do Procobre.
Nesse setor não é possível afirmar que a proteção será de 100%. “Os sistemas são projetados com base em estudos e simulações sobre o comportamento conhecido das descargas atmosféricas, entretanto, não é possível ‘controlar a vontade’ desse fenômeno natural. Um raio ‘rebelde’ pode atingir a região não coberta pelo sistema de captação do para-raios, mas a probabilidade de isso acontecer é muito pequena. Nesse caso, o risco é minimizado, mas nunca zerado, já que o raio não ‘obedece’ o ser humano e tem ‘vontade própria’”, comenta o profissional, lembrando que a função desse sistema não é evitar que um raio caia sobre um prédio ou casa, e sim dirigir de maneira organizada e controlada essa descarga para o solo.
Composição do para-raios
O assunto com maior ênfase será o cuidado com os aparelhos eletroeletrônicos, detalhando as regras para que seja realizada de maneira adequada a proteção contra queima desses equipamentos. Além de resguardar a estrutura da edificação e zelar pela integridade física de seus ocupantes, os para-raios devem prevenir a queima de aparelhos que estejam ligados nas tomadas
O para-raios é composto por três grandes partes: captores, condutores e aterramento. No topo da edificação fica localizado o sistema captor, formado por elementos metálicos que podem ter diferentes formatos. “A função desse sistema é ‘convencer’ o raio de acertá-lo ao invés de atingir a edificação. Um sistema bem projetado e com bons equipamentos quase sempre garante que o raio o acerte”, afirma Moreno.
Ligado eletricamente aos captores, está o sistema denominado condutor de descida, responsável por transferir as descargas atmosféricas até o solo. “O raio é guiado pelo interior dos condutores, que podem ser de dois tipos, estruturais ou externos. No estrutural, é possível aproveitar a própria ferragem da edificação, ou seja, os ferros utilizados nas vigas e colunas podem cumprir o papel de condutor de descida. Já nos externos, cabos metálicos preferencialmente de cobre, instalados do lado de fora da edificação desempenham essa função”, diz o engenheiro. Quando os condutores de descida chegam ao chão, há o eletrodo de aterramento, elemento metálico que fica instalado no solo e é responsável por receber as descargas e transferi-las para o solo.
Obrigatório ou não?
O primeiro passo no projeto é a chamada análise de risco. Com base em alguns dados e cálculos é possível chegar à conclusão se aquela edificação precisa ou não de um sistema de proteção. Se a conclusão for positiva, entram as questões técnicas
Moreno ressalta que nem toda edificação necessita de um sistema de proteção contra raios. “Por isso, o primeiro passo no projeto é a chamada análise de risco. Com base em alguns dados e cálculos é possível chegar à conclusão se aquela edificação precisa ou não de um sistema de proteção. Se a conclusão for positiva, entram as questões técnicas”, avalia. Existem diversas alternativas de materiais, formatos e maneiras de instalação que devem ser especificadas para cada caso. “Não há uma solução única, cabe ao profissional especializado analisar cada cenário e definir a melhor alternativa. É impossível a uma pessoa não especializada em sistema de proteção tirar conclusões”, destaca.
Assim como existem os projetistas, também há as empresas especializadas na instalação de para-raios. “Esse processo deve ser feito respeitando todas as diretrizes do projeto, sendo que no final do processo a empresa responsável deve realizar alguns ensaios previstos em norma técnica para comprovar que o trabalho foi realizado de maneira adequada”, explica o engenheiro, comentando que, de maneira geral, o mercado é bem atendido pela quantidade de empresas especializadas disponíveis e a mão de obra é treinada pelas próprias indústrias.
É possível instalar o sistema de proteção contra descargas atmosféricas tanto em edificações novas quanto nas já existentes, porém, cada caso deve ser analisado em particular. Por exemplo, em uma construção já existente é provável que não possam ser utilizas algumas técnicas de instalação empregadas em edificações novas. “Mas de qualquer maneira existem alternativas que permitem a instalação em um prédio já existente. Também é possível realizar a reforma ou atualização de um sistema que já esteja instalado”, fala o profissional.
Áreas abertas
Não existem para-raios para proteção de áreas abertas como praias ou parques. Nesse caso, uma prática internacional é o uso de equipamentos que fazem uma análise das condições climáticas e, no caso da formação de tempestades com raios, o aparelho emite um alarme para que as pessoas deixem o espaço e se abriguem, antes de a chuva chegar ao local. “Outra recomendação para ambientes abertos, onde não há edificações por perto, é a construção de pequenos abrigos – uma parede e um teto já são suficientes. No momento de uma tempestade com raios, é importante se abrigar em uma edificação ou mesmo em um veículo – isso evita que a pessoa fique exposta ao risco de ser atingida por uma descarga elétrica. Jamais permanecer em áreas abertas”, conclui Moreno.
Colaborou para esta matéria
- Hilton Moreno – Engenheiro eletricista, consultor técnico e professor universitário. É membro do Comitê Brasileiro de Eletricidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e consultor do programa Casa Segura, iniciativa do Procobre para a conscientização e orientação da população sobre os riscos de acidentes causados por instalações elétricas inadequadas e o impacto destas instalações no consumo excessivo de energia, na desvalorização das edificações e na segurança dos imóveis e de seus residentes.