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Bloco termodissipador deixa edifícios mais arejados

Além de colaborar com o conforto térmico, solução desenvolvida por arquitetos colombianos pode melhorar a acústica das edificações

Publicado em: 11/05/2016

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Blocos termodissipadores criados pelo escritório Sumart Diseño y Arquitectura SAS (Foto: Camilo Sus)

Uma inovação no desenho da seção transversal dos tradicionais blocos de cerâmica pode resultar em melhor conforto térmico e acústico no interior das edificações. Esse é o conceito do bloco termodissipador (BT), material criado pelos arquitetos colombianos Miguel Niño e Johanna Navarro, titulares do Sumart Diseño y Arquitectura SAS, escritório que projeta e desenvolve alternativas arquitetônicas sustentáveis.

Do ponto de vista do desempenho térmico, a eficiência do componente quanto ao sombreamento pode ser maior ou menor conforme a latitude do local onde está a edificação e a orientação de sua fachada
Maria Akutsu

Seu formato é constituído por um retângulo e um triângulo escaleno, e seu método de funcionamento é simples: a separação entre blocos e dutos que contornam o triângulo escaleno permite que a ventilação passe através das peças, dissipando rapidamente a temperatura acumulada e reduzindo a quantidade de calor emitido no interior da edificação.

O bloco termodissipador apresenta o mesmo processo de fabricação dos conhecidos tijolos de argila cozida, por isso pode ser produzido pelas indústrias que já atuam nesse segmento. A principal diferença do BT para as opções tradicionais é que ele conta com quantidade maior de massa em sua composição.

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Desenho irregular da peça colabora com o conforto térmico (Créditos: Sumart Diseño y Arquitectura SAS)

FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESEMPENHO DOS BTS

Além de colaborar com o conforto térmico, o desenho irregular da peça atua como defletor de ruídos e contribui com a melhoria acústica dos ambientes. Contudo, segundo a física Maria Akutsu, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), esses benefícios estão sempre sujeitos às condições de exposição da edificação.

A geometria pode contribuir para uma maior ou menor reflexão do som incidente, de acordo com a posição da principal fonte de ruído em relação à fachada
Maria Akutsu

No caso do conforto térmico, vai depender das condições climáticas do local. Já o conforto acústico decorrerá do tipo e do nível sonoro do ruído no entorno da edificação. “Entretanto, pode-se dizer que, conceitualmente, a ideia é boa: a parcela adicional colocada num bloco comum funciona como um sombreamento para parte da superfície externa da parede e acrescenta isolação térmica, bem como modifica as características de reflexão e de absorção sonora da superfície exposta. Por acrescentar massa, pode contribuir também para aumentar a isolação sonora e a inércia térmica da parede”, explica.

O lado retangular do bloco termodissipador apresenta as mesmas dimensões dos tijolos tradicionais, o que permite integrá-lo aos mais variados tipos de obras. O triângulo escaleno tem ângulo de 114º, inclinação que faz com que os raios solares sejam refletidos para cima e não na direção do solo. “Do ponto de vista do desempenho térmico, a eficiência do componente quanto ao sombreamento pode ser maior ou menor conforme a latitude do local onde está a edificação e a orientação de sua fachada”, fala a pesquisadora.

Os tijolos tradicionais com superfícies planas ficam totalmente expostos aos ruídos externos, o que facilita o percurso da onda sonora através da parede até chegar ao ambiente interno. A forma irregular do BT atua como dissipador sonoro, rompendo a onda contínua e esvaecendo a quantidade de ruído transmitido para dentro da edificação. “A geometria pode contribuir para uma maior ou menor reflexão do som incidente, de acordo com a posição da principal fonte de ruído em relação à fachada”, completa Akutsu.

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Instalação é igual ao do tijolo tradicional, apesar de contar
com separador de juntas (Foto: Camilo Sus)

Os criadores da solução dizem que a menor face do triângulo irregular tem inclinação que diminui o acúmulo de água da chuva em qualquer posição do bloco. Mesmo assim, a quantidade de água que acaba depositada no interior dos canais dissipadores acaba ajudando a resfriar o bloco e, por consequência, o interior da edificação através da refrigeração por evapotranspiração. “Ao evaporar, a água absorve calor para passar do estado líquido para o gasoso. Materiais cerâmicos costumam ter grande capacidade de absorção da água que se acumula nos seus poros. Com a evaporação, ocorre a diminuição da temperatura do material”, explica.

INSTALAÇÃO

O processo de instalação do BT é exatamente igual ao do tijolo tradicional, apesar de a nova solução utilizar separador de juntas para corrigir sua postura e limitar a quantidade de argamassa em sua parte retangular, para que o triângulo fique completamente limpo. O uso desse recurso permite que seja alcançada a uniformidade nas separações entre blocos.

SOLUÇÃO PREMIADA

Os blocos termodissipadores foram recebidos com grande êxito pelo setor da construção civil colombiana, recebendo, inclusive, o prêmio Lápiz de Acero Verde 2015, oferecido pela revista Proyecto Diseño.

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Colaboração técnica

Maria Akutsu – Física graduada pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), mestre em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), engenheira da qualidade pela American Society for Quality Control (ASQC) e doutora em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). É pesquisadora no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) desde 1975, atuando na área de conforto ambiental. Dedica-se à pesquisa e desenvolvimento de métodos para a avaliação do desempenho térmico, acústico e lumínico de edificações. É responsável técnica pelo Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios e coordenadora do curso de Mestrado Profissional em Habitação do IPT.