Brises, telha sanduíche...soluções para conforto térmico de fábricas
Além desses materiais, o projeto arquitetônico e as boas práticas são fundamentais para garantir o controle da temperatura nos ambientes industriais. Veja mais opções
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Em 45 anos de trabalho, o arquiteto Sidonio Porto assina um vasto acervo de projetos voltados para os segmentos residencial, comercial e industrial. Ao longo desse período, perdeu-se no tempo a imagem do chão de fábrica sujo, quente e escuro. Até porque, entende-se agora que o conforto dos funcionários está diretamente vinculado à maior produtividade e frequência no trabalho. A evolução passou a pedir um bom projeto arquitetônico com conforto térmico e, até, providências sustentáveis – quando não, certificação de impacto ambiental.
“A ênfase atual na questão ambiental, bem como a expressão sustentabilidade são novas, no entanto, a boa arquitetura sempre provou intuitivamente, ser sustentável”, defende Sidonio Porto. Ele lembra que a conservação de energia por sombreamento através de coberturas duplas, de fachadas com brises, de redução da temperatura dos ambientes pela ventilação cruzada, utilização de cores claras para reflexão do calor, o uso de materiais e técnicas locais, elementos isolantes, orientação correta em relação ao norte, e outras providências são atitudes assumidas pelos arquitetos há muito tempo.
Projetos industriais como os da Flextronics, Brastemp e GessyLever, que levam sua assinatura, adotam recursos, tecnologias construtivas e materiais que seguem esse conceito. O conforto térmico das fábricas se apoia em soluções passivas e apenas em casos especiais lança mão de sistemas de ar-condicionado. “Vamos supor uma fábrica localizada em Manaus, onde muitas vezes a temperatura é excessivamente elevada e não ventila. O resultado imediato é a queda da produção. Podemos até considerar que o condicionamento é uma solução cara e que consome energia. Mas já projetei para uma fábrica de computador, televisão e celular, tudo com ar-condicionado”, conta Sidonio Porto.
SoluÇÕes
A prioridade para promover temperaturas agradáveis nos ambientes fabris, segundo ele, começa por soluções projetuais. “São recursos arquitetônicos como a ventilação cruzada permanente, que pode ser controlada por elementos vazados, ou de caixilhos fixos abertos, ou de caixilhos móveis”, ensina. Depois, vem o uso de cores claras na envoltória e telhado, e os materiais que colaboram para o isolamento térmico. “Uso nas coberturas as estruturas metálicas com telhas do tipo sanduíche, com bons resultados”, diz.
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Sombreamento, brises
O arquiteto utiliza, também, a solução do sombreamento por meio de coberturas duplas, ou seja, sobre a laje ficam eventualmente alocados alguns equipamentos e, cobrindo essa área é instalada uma cobertura que cria um sombreamento sobre a obra. Ele lembra que a atenuação térmica da sobrecobertura independe do material.
Além das coberturas, o sombreamento também é bem-vindo nas fachadas, com a instalação de brises. “E, no caso de indústrias, o brise é muito mais simplificado do que em uma fachada cortina, por exemplo, pois pode ser uma simples tela. Inclusive, podemos deixar a vegetação subir na tela de uma parede que pega sol poente, por exemplo, criando um brise estético e funcional”, acrescenta. Os sistemas construtivos das paredes que promovem conforto nos ambientes vão dos painéis alveolares aos metálicos do tipo sanduíche. “O mesmo material usado na cobertura pode se repetir nas laterais”, diz.
Sheds
Usual em projetos de indústrias, as coberturas com sheds permitem que o ar quente, que penetra no ambiente pelas superfícies inferiores das fachadas, suba e saia naturalmente. Solução menos convencional para levar ar fresco ao chão de fábrica é o insuflamento geotérmico. “Através de um tubo enterrado, o ar do ambiente é levado para o subsolo através de bomba, e volta resfriado”, destaca Sidonio Porto que já propôs a solução em projetos, ainda não executados. “Portanto, não é possível avaliar resultados, mas visitei um prédio no Chile que adota, com sucesso, o sistema.
Área verde
A ‘cereja no bolo’ do conforto térmico de indústrias é “o paisagismo intenso, não só para criar um visual agradável, mas também para gerar sombreamento”, conclui o arquiteto.COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Sidonio Porto – Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1964. Exerceu atividade docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFMG e na Escola Panamericana de Arte, em São Paulo. Foi Diretor do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/MG) e Diretor e Conselheiro da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA/SP). Participou de todas as Bienais de Arquitetura, tendo sala especial na 5ª Bienal Internacional de Arquitetura (BIA) e inúmeras outras exposições nacionais e internacionais. Recebeu vários prêmios como Prêmio Rino Levi do IAB-SP, Prêmio ASBEA de Arquitetura Industrial, três prêmios consecutivos da Bticino e Prêmio Cauê.