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Cal hidratada x virgem: aplicações, características, prós e contras

A cal é uma matéria-prima versátil comumente utilizada na construção civil. Os dois principais tipos são divididos em subgrupos conforme o grau de pureza, os materiais presentes na composição, o processo produtivo, entre outros fatores. Saiba mais

Publicado em: 28/09/2018Atualizado em: 29/02/2024

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Versátil, a cal pode ser utilizada de diferentes maneiras na construção civil (foto: shuttestock.com / Nina . G)

Um dos materiais mais utilizados na construção civil, a cal tem origem incerta como elemento construtivo, mas existem relatos de que ela foi empregada há mais de 4 mil anos. Para os brasileiros, o uso da cal na construção civil é uma herança portuguesa, tendo em vista que o governador geral do Brasil Tomé de Souza ordenou a abertura da primeira mina de calcário conchífero. A matéria-prima produzida ali era usada para fabricação de argamassas e caiação de casas na primeira capital nacional, Salvador (BA).

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Atualmente, podemos classificar a cal para construção civil em dois principais tipos: cal virgem e cal hidratada. Cada um deles é dividido em subgrupos conforme o grau de pureza, os materiais empregados na fabricação, o processo produtivo, entre outras características.

CAL VIRGEM

A cal virgem, também conhecida como cal viva, é obtida por meio da decomposição térmica do calcário, ou seja, da extração e da calcinação do minério. Ela está dividida em três tipos, conforme a ABNT NBR 6.453/2003: CV-E, CV-C e CV-P (veja a tabela A).

De acordo com o químico Valdecir Angelo Quarcioni, pesquisador do Laboratório de Materiais de Construção Civil do Instituto de Tecnologia e Estatística (IPT), os diferentes tipos de cal virgem revelam os diversos graus de pureza da matéria-prima e as diferentes características do processo industrial de produção.

CAL HIDRATADA

Também classificada em três tipos – CH I, CH II e CH III, conforme a ABNT NBR 6.473/2003 (veja a tabela B) –, a cal hidratada possui características químicas e físicas diferenciadas. “Por exemplo, a CH I exige limite de óxidos totais (cálcio somado ao magnésio, responsáveis pela capacidade ligante do material), enquanto a CH III suporta um limite maior de material carbonático residual (fração da matéria-prima original tipicamente presente em função do processo de fabricação)”, detalha o pesquisador do IPT.

APLICAÇÕES

A cal virgem é utilizada, principalmente, na própria indústria de cal, para a produção de cal hidratada. No entanto, ainda existem lugares que a utilizam como material de construção. “Na região Sul do Brasil mantém-se a tradição do uso de cal virgem para produção de argamassas, ‘apagando’ ou hidratando a cal no próprio canteiro de obra” destaca Quarcioni. “Habitualmente, prepara-se a mistura de cal virgem, areia e adição abundante de água, que fica maturando ou “descansando” por vários dias, para adequada hidratação da cal. Em seguida, acrescenta-se cimento Portland e finaliza-se o amassamento da argamassa. Em seguida, ela pode ser usada em assentamento ou revestimento”, ele explica.

As proporções podem variar conforme o tipo de aplicação, a base, as características da obra, entre outros fatores
Valdecir Angelo Quarcioni

Já a cal hidratada é empregada, basicamente, na preparação de argamassas, tanto para assentamento de alvenarias quanto para revestimento de paredes (fachadas ou envoltórias) e divisórias, além de tetos de laje.

Quarcioni recomenda a caiação (ou pintura à base de cal hidratada) em paredes sujeitas à umidade, pois possibilita o equilíbrio higrotérmico na edificação. “Dessa forma, a água da chuva ou a umidade da própria parede (originada, por exemplo, por ascensão capilar do pavimento ou do próprio ambiente interno da edificação) poderá evaporar facilmente sem prejudicar a integridade e a estética do revestimento”, ele diz.

O traço pode variar. Contudo, existem alguns mais comuns, como:

• Argamassa simples 1:3 (cal hidratada: areia) em volume;
• Argamassa mista 1:1:6 (cimento: cal hidratada: areia) em volume – revestimentos externos;
• Argamassa mista 1:2:6 (cimento: cal hidratada: areia) em volume – revestimentos internos.

 “As proporções podem variar conforme a aplicação (manual ou mecanizada), o tipo de base (alvenarias), as características da obra, entre outros fatores. É usual empregar cal hidratada também em argamassas industrializadas, junto a aditivos químicos, para obter características especiais”, informa o químico.

Você também pode precisar de cimento.

VANTAGENS X DESVANTAGENS

O uso da cal em argamassas apresenta vantagens ambientais, pois durante o endurecimento da cal, ela reage com o CO2 presente na atmosfera, fixando-o como carbonato de cálcio ou de magnésio. Assim, a “rocha carbonática” original empregada na produção da cal é reconstituída quimicamente, praticamente zerando a geração de CO2 que causa o efeito estufa.

Não há restrições técnicas quanto ao uso de cal em argamassas, pelo contrário, é recomendável retomar e incentivar o seu uso em nossas obras
Valdecir Angelo Quarcioni 

Em termos construtivos, a cal auxilia na plasticidade da argamassa fresca e na deformabilidade da argamassa endurecida, minimizando as microfissuras, especialmente em locais sujeitos a intempéries e com oscilações bruscas de temperatura ou molhagem (devido às chuvas) e secagem reincidentes.

A desvantagem fica por conta da produtividade reduzida. A cura das argamassas simples de cal – em que a cal é o único ligante - é extremamente lenta devido ao processo de carbonatação (demora dias para o endurecimento adequado do revestimento e liberação para que o acabamento final seja feito). “De modo geral, não há restrições técnicas quanto ao uso de cal em argamassas, pelo contrário, é recomendável retomar e incentivar a o seu uso em nossas obras” finaliza Quarcioni.

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Colaboração técnica


Valdecir Angelo Quarcioni  – Possui doutorado e mestrado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). É pesquisador do Laboratório de Materiais de Construção Civil do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Atua na área de química de materiais de construção, com ênfase em caracterização de materiais por métodos de análise por vias clássica e óptica. Seu foco são ligantes, adições minerais, argamassas, concreto, durabilidade e reciclagem de materiais usados na construção civil. É professor do curso de Mestrado Profissional do IPT.