Centro de distribuição é certificado LEED Ouro
Empreendimento construído para uso da Procter & Gamble visa o consumo de água pluvial tratada para reuso e soluções que otimizam a iluminação natural.
Imóvel logístico construído pela Bracor para uso da Procter & Gamble utiliza recursos sustentáveis e se integra à natureza do Pico das Agulhas Negras.
Redação AECweb
O empreendimento da Bracor, construído para uso da P&G - Procter & Gamble - pelo sistema ‘build to suit’, merece atenção no universo da sustentabilidade por se tratar de um centro de distribuição que conquistou a certificação LEED categoria Gold, concedida pelo USGBC (United States Green Building Council). Com área construída de 38 mil m² em terreno de 201,6 mil m², o empreendimento é o terceiro da Bracor a obter o selo. David Douek, diretor da OTEC, empresa de consultoria em sustentabilidade e eficiência energética responsável pelo processo de certificação, elenca os diferenciais próprios de edificação com esse tipo de uso: “Imóvel de uso logístico tem a característica da horizontalidade, com ampla área de cobertura relacionada à baixa ocupação. Essa configuração oferece condições favoráveis à eficiência do consumo de água pluvial tratada para reuso, além de soluções de projeto para otimizar a iluminação natural através das fachadas e de elementos zenitais na cobertura”. O engenheiro Carlos Eduardo Poli Sisti, gerente de Engenharia da Bracor, lembra que “os 38 mil m² de área construída do centro de distribuição abriga cerca de 400 funcionários. Um prédio corporativo de igual área hospedaria quase dez vezes mais pessoas, exigindo soluções mais complexas”.
Segundo Sisti, a maior dificuldade para certificar um imóvel logístico está relacionada à localização desse tipo de empreendimento, em geral, distante dos centros urbanos.
“Os problemas vão desde a sua implantação até a operação. É o caso do bicicletário, que implica o uso de rodovia pelo funcionário, o que é incoerente. No entorno do prédio, são raros os serviços como farmácia ou agência bancária, além de limitações de linhas de transporte público”, argumenta. A despeito desses desafios, “o empreendimento da Bracor obteve uma pontuação elevada e contou com o envolvimento desejável em processo de certificação, tanto dos proprietários como das equipes de projeto e da construtora. As metas foram estabelecidas desde a fase inicial do projeto de arquitetura de autoria de Alcindo Dell´Agnese Arquitetos Associados”, revela Douek. A CMS Engenharia foi responsável pelo gerenciamento dos projetos e da obra.
Leia também: 8 benefícios de utilizar um software de gestão de facilities
INTEGRADO À NATUREZA
Com relação a implantação sustentável, a construtora Libercon estabeleceu um plano meticuloso de controle da poluição causada pela obra. Na categoria de materiais e recursos, o prédio teve atenção com a coleta seletiva. “Mais de 75% dos materiais da obra não foram enviados para aterros sanitários, o que é excelente em termos de gerenciamento de resíduos. Além disso, cerca de 20% dos materiais foram localmente extraídos, processados e armazenados, e as madeiras selecionadas com o critério da certificação FSC”, diz o consultor.
Foram vários os procedimentos para atender as exigências de qualidade ambiental interna do edifício, entre elas, a obra evitou o uso de produtos que emitem VOCs (Componentes Orgânicos Voláteis) como colas, seladoras, tintas e vernizes, inclusive com os tipos de carpetes empregados. “Durante a construção, foi criado e implementado um plano de proteção dos dutos para garantir que todo o sistema de insuflamento de ar condicionado estivesse em condições de boa manutenção no início da operação do prédio”, destaca David Douek. Optou-se pelo sistema de controle individual de iluminação, o que assegurou o conforto em cada estação de trabalho.
O projeto favoreceu as vagas de bicicleta e destinação preferencial a veículos que usam combustível alternativo. O terreno tem generosa área vegetada, sendo que parte dela é uma APP – Área de Preservação Permanente – que contribuiu para atingir o crédito de áreas mínimas com vegetação natural ou adaptável. “É um empreendimento bastante integrado com a natureza que o cerca. Um lugar muito agradável para se trabalhar”, diz Douek, comentando que isto qualifica o projeto, que fugiu completamente das soluções tradicionais de edifícios compactados e áreas externas cimentadas.
ÁGUA E ENERGIA
O centro de distribuição da P&G obteve 80% dos créditos do LEED para a categoria água. Entre outras providências, além do tratamento de água pluvial para descarga sanitária, o paisagismo adotou uma vegetação autossuficiente, dispensando o uso de irrigação permanente e, portanto, de uma rede de sprinkler e grips. Todos os metais sanitários são economizadores, além de válvulas de acionamento duplo e torneiras de pressão.
O empreendimento alcançou 90% de pontuação na categoria de eficiência energética e atmosfera do LEED, e todo o projeto foi comissionado. “O uso de iluminação zenital e da integração entre iluminação natural e iluminação artificial, e aplicação de brises em parte das fachadas são recursos que, somados à pintura branca da cobertura, permitiram drástica redução no consumo de energia projetado para o edifício. O ajuste das estratégias de projeto garantiu uma redução de 75% do uso de iluminação artificial”, revela Douek. “E uma economia de 25% no consumo de energia elétrica”, completa Carlos Sisti. Segundo ele, essas soluções dispensam o uso de iluminação artificial praticamente o dia todo. A área administrativa do prédio oferece aos funcionários o conforto de integração com o exterior, através de amplo envidraçamento, numa área de preservação ambiental privilegiada, no pé do pico das Agulhas Negras. “Por ser um lugar isolado, tem o outro lado,o da vastidão verde ao alcance dos olhos enquanto se trabalha”, observa Sisti.
O sistema de ar condicionado foi cuidadosamente pensado, com a fixação de sistema de URV com COP mais elevado, o que colaborou para o excelente desempenho energético do edifício. “O centro de distribuição conseguiu junto ao USGBC todos os pontos na categoria de inovação. E, de maneira geral, esse projeto superou as metas inicialmente estabelecidas para desempenho exemplar, conclui David Douek.
CUSTOS
O prédio ocupado pela P&G é o terceiro dos empreendimentos da Bracor certificados e o segundo LEED Gold – o primeiro foi o Parque Logístico Imigrantes, na Rodovia dos imigrantes, utilizado pela Colgate, imóvel logístico pioneiro na conquista da certificação Ouro no Brasil e na América Latina. “O nosso modelo de negócio é o ‘build to suit’, o que nos leva a atender a demanda do cliente e, ao mesmo tempo, trabalhar no convencimento das empresas sobre o ideal de ocupar um prédio certificado. Em todos esses casos, a iniciativa foi nossa e os projetos foram concebidos para conquistar o LEED”, explica Carlos Poli Sisti.
Segundo ele, o custo total de construção do centro de distribuição da Proctet & Gamble foi em torno de 4% superior, se comparado ao de uma obra convencional. “O acréscimo de custo para se fazer uma construção sustentável vem se reduzindo ao longo do tempo. A tendência é de que caia ainda mais, já que hoje há um mercado voltado para a sustentabilidade e que se amplia, portanto, há competitividade”, comenta Sisti. Ele considera difícil ainda mensurar a valorização desses empreendimentos, mas admite que o ganho é real tanto do ponto de vista financeiro do cliente pela redução do consumo de água e energia, como do bem-estar do funcionário, resultando em maior produtividade.
Redação AECweb
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
Carlos Eduardo Poli Sisti, gerente de Engenharia da Bracor.
David Douek, LEED AP, é diretor de desenvolvimento da OTEC, empresa parceira da consultoria americana, Architectural Energy Corporation, que coordena a equipe de consultoria LEED e a Equipe de Assistência a Projetos Sustentáveis nos projetos de Certificação LEED. Formado em 1997 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo é, também, Administrador de Empresas pela Universidade Mackenzie, 1995. Foi certificado em 2007 pelo ‘Green Building Certificate Program’, Colorado State University. Está associado ao US Green Building Council; é membro do GBC Brasil; do Comitê de Energia e Atmosfera; do Instituto ETHOS –Grupo de trabalho para a implantação de sustentabilidade em empresas; do CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável; e da Abrafac, entidade setorial de facilities.