Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein tem cobertura de 300 toneladas
Para suportar o peso da cobertura, as lajes de cada um dos oito pavimentos alcançam entre 40 e 60 cm de espessura. Um mockup foi erguido para a criação de protótipos em escala real de vários elementos
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
(Foto: Nelson Kon)
O Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Campus Cecília e Abram Szajman foi concluído em 2022 pela Racional Engenharia, contratada pelo Hospital Albert Einstein para as etapas de pré-construção e construção.
O empreendimento exigiu soluções de engenharia complexas para a arquitetura sofisticada do arquiteto israelense Moshe Safdie, da Safdie Architects, que desenvolveu o projeto em parceria com o escritório Perkins+Will. Totalmente automatizado, o edifício visa a certificação LEED Gold.
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O complexo com 44 mil m² de área construída em terreno em aclive, no bairro do Morumbi, em São Paulo, tem oito pavimentos, sendo três subsolos e cinco pisos, além da cobertura. São duas alas, uma dedicada ao ensino e outra à pesquisa, ligadas por um átrio com um grande jardim central, com mais de 2 mil m² de área plantada com espécies nativas da Mata Atlântica.
O programa distribuído em salas de aula, laboratórios, escritórios, um auditório e uma cafeteria é organizado ao longo de uma série de desníveis em torno do átrio. Uma passarela batizada de portal do conhecimento conecta o edifício ao hospital.
Pré-construção e mockup
A etapa de pré-construção do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Campus Cecília e Abram Szajman foi fundamental para a Racional no enfrentamento dos desafios. “Trata-se de um projeto de alta complexidade, com elevados padrões de qualidade e boa parte dos acabamentos importados”, afirma o engenheiro Nivaldo Santos, gerente de Obras da construtora.
Entre os elementos que pediram soluções de engenharia mais sofisticadas estão o skylight, o jardim, o concreto aparente, os brises e a automação.
A construtora mobilizou equipes para visitas a projetos assinados por Safdie, como o do Aeroporto Jewel, em Singapura, e o Instituto da Paz, em Washington (EUA). “Nessas viagens, foi possível capturar as expectativas do arquiteto, especialmente em relação ao nível de qualidade esperado nos detalhes e acabamentos, que serviram de base para o desenvolvimento de soluções técnicas adequadas ao mercado brasileiro”, conta.
Ainda na fase de pré-construção, um mockup foi erguido para a criação de protótipos em escala real de vários elementos. “Nesse ‘laboratório de engenharias de valor’, desenvolvemos as soluções em parceria com empresas locais. O objetivo foi diminuir custos e garantir a qualidade e a estética exigidas pelo arquiteto, responsável por validar todas as amostras, pessoalmente”, relata.
Entre as soluções, destacam-se o concreto aparente, com especificações nunca executadas no país; e os brises, peças únicas desenvolvidas com enzima plástica mineral. O mockup teve, ainda, a função de servir de referência durante a construção, sempre que houvesse qualquer desvio entre expectativa e realidade. Finalizada a obra, o Hospital Albert Einstein decidiu mantê-lo como área de vivência para os funcionários da universidade.
(Foto: Nelson Kon)
Concreto aparente branco
De acordo com o engenheiro, o arquiteto Moshe pedia um concreto isento de superfícies com patologias. Deveria, também, ter um tom mais branco, sem ser pigmentado. Após ensaios em laboratório e peças feitas no mockup, a engenharia chegou ao resultado esperado pela arquitetura. “Foi utilizado o cimento CPIII da Votorantim, da fábrica de Santa Helena, que era o cimento mais claro de mercado, associado aos agregados da unidade de Araçariguama (SP), mais claro que o granito”, fala.
Cobertura de 300 toneladas
Desafio “nada convencional”, como diz Nivaldo Santos, a cobertura pesa cerca de 300 toneladas. Para atender à solicitação de carga, foi preciso que as lajes de cada um dos oito pavimentos alcançassem espessuras entre 40 a 60 cm de concreto. Nas fundações, foram adotas sapatas isoladas sob cada pilar.
“Os elementos estruturais foram dimensionados para suportar as cargas permanentes, cargas acidentais e cargas provisórias de construção”, conta, referindo-se à plataforma metálica working deck, construída para permitir a execução do skylight, posteriormente desmobilizada.
“A execução dessa cobertura, que cobre a parte central do edifício, exigiu precisão de milímetros para que cada peça, que era única, feita sob medida, fosse encaixada exatamente no seu lugar”, fala. A estrutura em perfis metálicos com pintura 355 Alumínio RAL 9022 CPA foi desenvolvida pela empresa alemã Seele. No Brasil, foi produzida pela Brafer, que também responde pela montagem. Os vidros da cobertura são importados da Alemanha e foram instalados pela Avec.
O vidro é o insulado de 38 mm, composto por uma lâmina de temperado serigrafado de controle solar extra claro de 10 mm, câmara de argônio de 16 mm e vidro termoendurecido laminado extra claro de 12 mm. Para a instalação dos vidros foi utilizado sistema exclusivo da Seele. “Trata-se de fixação mecânica por presilhas inoxidáveis inseridas no espaçador do vidro insulado, que comprimem o vidro sobre uma gaxeta de silicone pré-colada à estrutura metálica, de forma estanque”, explica o engenheiro, relatando que, para a instalação, foi preciso o uso de gruas e de ventosas elétricas.
Para a execução dessa cobertura foi necessária a montagem de uma plataforma metálica intermediária, utilizada provisoriamente, e sobre ela foram instalados andaimes. “Isso só foi possível com muito planejamento e integração com os fornecedores internacionais, para que conseguíssemos garantir a logística x execução, dentro do cronograma”, ressalta.
Brises mais leves
Com comprimentos variáveis, os brises têm 350 x 180 mm. Seguindo a concepção original em concreto armado testada em dois mockups, seu peso trazia a possibilidade de deformação, ondulando. “Não atendeu a engenharia e nem a arquitetura, por conta da textura resultante”, diz Santos.
Novamente, a Racional em parceria com a cadeia produtiva, desenvolveu com a Edra, empresa do interior de São Paulo, uma nova solução: um brise em resina mineral, com características que conseguem absorver tanto frio como calor, garantindo a planicidade das fachadas do prédio.
“O peso próprio do brise de concreto era de 82 kg/m, enquanto o produzido em resina mineral é de 17,50 kg/m. Ou seja, tivemos uma redução de aproximadamente 78% do peso, o que contribuiu para reduzir a estrutura metálica de fixação”, destaca.
Edifício inteligente e automatizado
O projeto do jardim com mais de 2 mil m² no átrio central do edifício, assinado pelo escritório de Isabel Duprat, em conjunto com a Safdie Architects, foi outro desafio dessa obra. O engenheiro explica que o garden está em um ambiente enclausurado, de estufa. “Era preciso garantir o conforto térmico do paisagismo e dos usuários do prédio. Um contexto único que envolveu muito estudo e ainda exige acompanhamento para garantir que a vegetação floresça e se fortifique”, expõe.
Foi instalado sistema de automação, com tecnologia de ponta, envolvendo sensores de umidade e temperatura. “O sistema de irrigação e aspersão para manter a saúde das plantas é monitorado e acompanhado por meio da automação do prédio”, completa.
(Foto: Nelson Kon)
O Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein é um edifício inteligente, totalmente automatizado. A automação controla as soluções de áudio e vídeo das salas de aula, e a iluminação e persianas, facilitando a definição das cenas de acordo com a necessidade.
Nas salas de aula foram instaladas esquadrias fixas com janelas maxim-ar, com vidros laminados de 12 mm – produzidos na Itália – e persianas externas. “Apenas nas três Salas Limpas as persianas foram instaladas entre o caixilho externo e as divisórias em vidro e inox”, diz, acrescentando que essas salas são do tipo ISO7 com certificação nível NB2. “Serão as únicas no país que têm esse patamar de segurança e paredes de vidro”, conclui.
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Colaboração técnica
- Nivaldo Santos – É Tecnólogo em construção civil, Engenheiro Civil com especializações em Gestão de Projetos e Gestão de Negócios. Possui certificação PMP pelo PMI – Project Management Institute. É Gerente de Obras da Racional Engenharia.