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Cimento branco estrutural é solução arquitetônica moderna

O material valoriza a arquitetura, especialmente a de concreto aparente. Quando pigmentado, revela cores mais vívidas. Conheça as vantagens e desvantagens da solução, ainda incipiente no Brasil

Publicado em: 14/03/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Shutterstock)

Pouco utilizado no Brasil e praticamente todo importado, o cimento branco é fabricado a partir de matérias-primas isentas de óxidos de ferro e manganês. “Esses são os principais compostos corantes e responsáveis pela coloração do cimento cinza tradicional”, diz o geólogo Arnaldo Battagin, consultor de Tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Algumas etapas do processo de fabricação do cimento branco se diferenciam das do cimento cinza, por requerer condições especiais de resfriamento e moagem e assim não prejudicarem a perda da coloração branca. Em particular, o resfriamento do clínquer branco na saída do forno dever ser feito por água, para garantir sua rapidez e, assim, a preservação da cor. “As bolas do moinho não podem conter crômio, um corante, que tornaria o cimento esverdeado”, conta.

Onde usar

Battagin esclarece que o cimento branco é especificado pela norma ABNT NBR 16697:2018 – que o subdivide em cimento branco estrutural e cimento branco não estrutural. O estrutural apresenta as classes de resistência 25, 32 e 40, como os demais cimentos cinza, mas com uma exigência adicional que é a brancura. Assim, pode ser empregado em praticamente todas as aplicações do cimento cinza.

Já o cimento branco não estrutural tem como principal consumidor, no Brasil, o segmento de argamassas industrializadas. Mas há aplicações do cimento branco em concretos estruturais, pavers (peças pré-fabricadas de pavimentação), ladrilhos hidráulicos, telhas de concreto, entre outros elementos.

“A execução de concretos aparentes brancos é uma solução atraente e moderna em âmbito mundial. O material oferece novas possibilidades arquitetônicas, ampliando a aceitação do concreto como elemento de composição estética e utilizado em muitos países”, comenta. Os pigmentos respondem melhor quando utilizados junto com o cimento branco, tornando as diferentes cores bastante vívidas, o que amplia as possibilidades de uso.

A execução de concretos aparentes brancos é uma solução atraente e moderna em âmbito mundial
Arnaldo Battagin

Onde não usar

O cimento branco não estrutural jamais deve ser utilizado para estruturas de concreto armado e protendido, como pontes e viadutos, pilares, lajes e vigas de edificações em geral. “Nesses casos, em função das opções arquitetônicas escolhidas, devem ser usados os cimentos brancos estruturais”, orienta Battagin.

Ele alerta que é preciso ter cuidado ao usá-lo quando se deseja imprimir ao concreto estrutural propriedades de resistência a sulfatos, em função do meio em que está inserida a estrutura de concreto branco.

Cuidados na aplicação

O cimento branco já é comercializado pronto, em sacos ou a granel. O processo de preparo é o mesmo do concreto convencional, exceto a exigência de atenção extra para garantia da coloração branca, pois não depende apenas do cimento branco.

“A seleção dos agregados é crucial para atingir esse objetivo, sendo que os agregados graúdos devem ser claros o suficiente para evitar áreas de ‘sombras’ que possam vir a causar manchas”, adverte, lembrando que os agregados calcários, como as dolomitas, levam vantagens.

Já os agregados miúdos devem ser lavados e apresentar proporção maior de finos, com coloração branca ou amarelada, pois é justamente essa fração que mancha ou interfere na pigmentação da pasta de cimento branco. “Muitas vezes é necessário britar agregados graúdos calcários ou quartzitos para serem utilizados como agregado miúdo, em substituição à areia, para garantir a brancura desejada”, ensina o geólogo.

Muitas vezes é necessário britar agregados graúdos calcários ou quartzitos para serem utilizados como agregado miúdo, em substituição à areia, para garantir a brancura desejada
Arnaldo Battagin

O traço também deve ser um pouco mais rico em cimento para garantir a homogeneidade da cor, em geral, no mínimo de 350kg de cimento por metro cúbico de concreto. Mas essa homogeneidade só será conseguida se forem mantidas as mesmas fontes de fornecimento dos agregados, ao longo do desenvolvimento da obra.

Vantagens e desvantagens

A principal vantagem do cimento branco na produção de concreto branco estrutural diz respeito ao fato dele agregar valor estético, além das características de durabilidade e desempenho mecânico, próprias dos concretos convencionais com cimentos de coloração cinza.

A desvantagem, aponta Battagin, é seu custo mais alto e, principalmente, os cuidados extras que devem ser tomados para obtenção de um bom resultado. “Assim, a desforma prematura, quando possível, deve ser praticada, pois evita o manchamento do concreto pelas formas. Por outro lado, com o concreto mais jovem, tornam-se necessários maiores cuidados em relação à preservação das arestas e controle de fissuração. Para tanto, pode ser imprescindível manter alguns perfis de proteção nessas regiões, evitando o seu deslocamento”, ressalta.

Além disso, a cura deve ser mais criteriosa para que não ocorra retração do concreto, com consequente fissuração. Aqui vale lembrar que o cimento branco é mais fino e reativo que o cinza, e contém maiores quantidades de frações finas dos agregados miúdos. Consequentemente, como o concreto branco contém mais finos, a retração por secagem é mais expressiva se não forem tomados cuidados como concretagem em temperaturas abaixo de 30 °C, com ausência de ventos e insolação.

Merece destaque, ainda, os cuidados a serem tomados com a aparência final do concreto branco. “Por exemplo, a mão de obra para a montagem das fôrmas deve passar por um controle rigoroso e superior ao do concreto convencional. Não se admite que ocorram vazamentos de nata que comprometam a superfície do concreto”, fala.

As fôrmas precisam ser revestidas de material especial, como fórmica ou compensado de alta qualidade. E o seu reaproveitamento deve ser limitado, recomendando-se que sejam usadas no máximo duas vezes. “Embora esse procedimento conduza a um aumento de custo, a superfície final fica com qualidade tão boa que evita retrabalhos, remendos ou necessidade de revestimentos ou pintura, dispensando outros acabamentos”, destaca.

Portanto, quando se pensa em vantagens e desvantagens na comparação do concreto branco e concreto convencional, o geólogo recomenda uma abordagem holística sobre a opção pelo concreto branco. “Apesar do custo inicial maior, as vantagens na sua utilização são o baixo custo de manutenção, o valor arquitetônico, a possibilidade de versatilidade para concreto colorido de partes da estrutura, com cores expressivas”, comenta.

Cimento branco no Brasil

São vários os motivos que explicam o baixo consumo de cimento branco no Brasil, começando pela ausência de fabricação nacional e a consequente dependência de produtos importados. Entra na equação o maior preço do material, por exigir condições muitos especiais de fabricação. Tudo aliado à perda da disseminação da “cultura do conhecimento” do cimento branco para aplicação em concretos estruturais.

Battagin explica que, por vários anos, as estatísticas de consumo de cimento Portland branco no Brasil divulgada pelo Sindicato Nacional da Industria do Cimento (SNIC) representava cerca de 0,1% do total de cimento Portland consumido. “O fato motivou os dois fabricantes brasileiros de grande porte a adaptarem seus fornos para a produção do cimento cinza convencional, mais atraentes do ponto de vista de investimentos e retorno financeiro”, aponta.

Com o fechamento das fábricas de cimento branco de Irajá, no Rio de Janeiro, e da Intercement, em Minas Gerais, o cimento branco atualmente é praticamente todo importado. “Existem algumas iniciativas da Provale, no Espírito Santo, e da Royal White Cement, em São Paulo, mas em volumes pequenos, menor que o consumo nacional”, afirma.

Há, no entanto, obras emblemáticas executadas com cimento branco, como o Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre, inaugurado em 2008; o Museu da Imagem e Som, no Rio de Janeiro; e, mais recentemente, o Museu do Amanhã, também no Rio de Janeiro.

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Colaboração técnica

Arnaldo Battagin – É Geólogo pelo Instituto de Geociências da USP (1974). Foi gerente do Laboratório, gerente de Tecnologia e atual consultor de Tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Especialista nas áreas de tecnologia de cimento e concreto, durabilidade e sustentabilidade do concreto, técnicas experimentais e gestão da qualidade. Representante da ABCP em comissões de estudos de normalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Autor de mais de 100 trabalhos técnico-científicos publicados em revistas nacionais e internacionais e anais de congressos. Autor de capítulos de vários livros sobre tecnologia do concreto. Prêmios de reconhecimento pela Associação Brasileira de Cerâmica, Associação Brasileira de Cimento Portland, Federação Interamericana de Cimento, FICEM e Instituto Brasileiro do Concreto. Membro do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e do Conselho Deliberativo da ABNT.