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Coberturas retráteis exigem projeto e instalação precisos

Diante da alta complexidade, os projetos devem ser submetidos a cálculo estrutural, considerando a ação do vento no local, além do peso sobrecarregando a estrutura civil

Publicado em: 31/05/2016Atualizado em: 01/06/2016

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Cobertura Retrátil
Coberturas retráteis proporcionam iluminação direta e ventilação natural (Paulo Barros / e-Construmarket)

O emprego de coberturas retráteis envidraçadas no Brasil pode ser considerado recente, sobretudo se comparado a países da Europa que utilizam a solução arquitetônica há mais de um século. Presentes em edifícios dos mais variados usos, como shopping centers, hotéis e residências, elas oferecem o benefício de levar iluminação direta e ventilação natural ao ambiente. Porém, por sua complexidade técnica superior à das coberturas fixas, as coberturas retráteis exigem projeto, fabricação e instalação precisos.

“Além dos desafios naturais, ainda há os relativos ao funcionamento automatizado de abertura e fechamento da cobertura, que vão das demandas técnicas e bons equipamentos à perfeita regularização do plano, para permitir a automação sem manutenções de médio e longo prazo”, diz Letícia Macedo, diretora da Hedron, empresa especializada em fachadas e coberturas. Ela lembra que, quanto menor o ângulo de inclinação da cobertura, melhor ela tende a ficar. Quando o peso do conjunto a ser retrátil chega, por exemplo, a duas ou três toneladas, os motores e sistemas não têm capacidade para a movimentá-lo.

“Em qualquer aplicação, as soluções de coberturas retráteis apresentadas nos projetos arquitetônico e estrutural devem ser desenvolvidas por profissionais com boa experiência no detalhamento e nos mecanismos para movimentação”, orienta o engenheiro Raimundo Calixto, diretor da RCM – Engenharia de Estruturas, acrescentando que, mesmo havendo custos adicionais, o ideal é a realização de ensaios de protótipos de partes da estrutura para melhor avaliar os detalhes e os mecanismos.

Para Macedo, os problemas que podem ocorrer em todas as etapas – do projeto à especificação e execução das coberturas retráteis – se referem ao não uso de normas vigentes de vidros, vedações e componentes. "Falta ao mercado conhecimento para fazer a especificação adequada, que acaba utilizando material de pouca ou mediana qualidade e mão de obra sem qualquer especialização e vivência neste tipo de cobertura. Uma obra é diferente da outra e não existe receita de bolo”, comenta a diretora.

Em qualquer aplicação, as soluções de coberturas retráteis apresentadas nos projetos arquitetônico e estrutural devem ser desenvolvidas por profissionais com boa experiência no detalhamento e nos mecanismos para movimentação
Raimundo Calixto

ESTRUTURAS PRECISAM SER ESTANQUES

Por necessitarem de inclusão de um sistema mecânico no seu projeto, as coberturas retráteis se tornam mais vulneráveis a patologias. Para mitigar os problemas mais comuns, como os de estanqueidade e falhas no sistema mecânico, algumas empresas desenvolveram seus próprios sistemas, caracterizando assim as soluções ‘pré-engenheiradas’, previamente ensaiadas.

Macedo ressalta que a cobertura deve permanecer estanque, o que obriga a realização de estudo rigoroso dos sistemas de vedação. “Os materiais básicos são as borrachas de EPDM, sempre vulcanizadas e sem emendas; silicone; e escovas como elemento secundário para a redução de entrada de ar. Nas coberturas retráteis complexas, é preciso customizar os EPDMs utilizados, para fazer o bloqueio total. Todos esses componentes estão disponíveis no mercado nacional”, ensina.

Os problemas com estanqueidade são mais frequentes naqueles casos com juntas mal projetadas e falta de manutenção. Segundo o engenheiro, a manutenção é essencial para garantir vida útil longa, especialmente aos sistemas de vedação e eletromecânicos. Isso pede análise prévia dos acessos necessários à manutenção do envidraçamento e do tipo de vidro a ser empregado, com foco no estudo de eficiência energética da edificação, “a fim de o envidraçamento ser a solução e não o problema”.

Além dos desafios naturais, ainda há os relativos ao funcionamento automatizado de abertura e fechamento da cobertura, que vão das demandas técnicas e bons equipamentos à perfeita regularização do plano
Letícia Macedo

MATERIAIS USADOS

Sem limites dimensionais ou normas técnicas específicas, as coberturas retráteis podem abrir e fechar 100% do vão luz. Para isso, o projeto precisa contar com área em telha ou laje correspondente àquela que receberá as partes deslizantes. As soluções são construídas em aço para estruturação do peso, caixilhos em alumínio e vidro sempre laminado, de acordo com a ABNT NBR 7199, ou policarbonato.

Para evitar o aquecimento do ambiente sob a cobertura, o mais indicado é o vidro low-e baixo emissivo ou o refletivo. Os projetos devem ser submetidos a cálculo estrutural, considerando a ação do vento no local, além do peso sobrecarregando a estrutura civil. Hoje, porém, muitas empresas executam coberturas de vidro instaladas diretamente no aço, ou substituem o vidro laminado pelo temperado. “São erros de projeto e especificação, porque o vidro não aceita ser aplicado diretamente na estrutura metálica em aço, pois cada material tem dilatação diferente levando à quebra dos vidros, além de problemas nas vedações”, alerta a diretora.

Calixto comenta que estão disponíveis no mercado dispositivos motorizados adequados aos mais diversos tipos de cobertura retráteis. Mas, reforça: "para a boa especificação técnica, é desejável a participação de um profissional com experiência no setor eletromecânico, além de mão de obra qualificada na montagem da cobertura retrátil".

ATENÇÃO!

A limpeza de coberturas retráteis deve ser feita com detergente neutro e panos macios. São proibidos produtos abrasivos e qualquer objeto metálico, e é importante tomar muito cuidado com as vassouras ou escovas com braços.


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Colaboração técnica

Gilberto Mascarenhas
Letícia Macedo É formada em Administração de Empresas, com mestrado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e cursos nas universidades de Dublin (Irlanda), Harvard Business School (EUA), entre outros. Possui fluência em quatro idiomas e experiência de 15 anos em gestão de grandes multinacionais, tendo ocupado diversos cargos executivos. Atualmente, é diretora presidente da Hedron Engenharia.
Gilberto Mascarenhas
Raimundo Calixto de Melo Neto Engenheiro civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Estruturas pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE-UFRJ). Atuou como engenheiro calculista na Fábrica de Estruturas Metálicas (FEM) da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ); e chefiou o departamento de Estruturas Metálicas na Jakko Poyry, no Rio de Janeiro. Desde 1990 é diretor do escritório RCM – Engenharia de Estruturas, em Fortaleza (CE), atuando em projetos com estruturas de aço, nas áreas de Siderurgia, Química, Petroquímica, Edificações Comerciais e em projetos com Estruturas de Vidro.