Comissionamento para projetos sustentáveis
O agente comissionador é quem garante que as metas de eficiência energética e sustentabilidade serão cumpridas
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
De atuação obrigatória quando um empreendimento pretende a certificação de impacto ambiental e também nos projetos que visam eficiência energética, o agente de comissionamento ganha cada vez mais espaço no mercado da Construção Civil. “O comissionamento funciona como uma espécie de controle de qualidade do projeto e da obra. Participamos do processo da construção desde o início do projeto e permanecemos até a fase de pós-ocupação do empreendimento”, diz o engenheiro Wili Colozza Hoffmann, profissional especializado na área, da empresa Vectus, explicando tratar-se de um processo antigo, anterior ao surgimento da certificação LEED, em 1998, nos Estados Unidos.
Segundo ele, quando decide iniciar um novo projeto o incorporador deve definir as metas de desempenho energético e de sustentabilidade do empreendimento. “A partir daí, o agente comissionador atua para que as providências sejam tomadas, de maneira a atingir o objetivo. É ele quem prepara, juntamente com o proprietário, toda a documentação que vai definir as bases do projeto”, explica. A decisão de certificar um novo empreendimento envolve, além da participação do proprietário, a contratação da equipe de projeto nas diversas disciplinas, da consultoria de sustentabilidade e do agente comissionador. “A sociedade técnica de engenharia internacional de ar-condicionado (ASHRAE) publica alguns guidelines, definindo o processo de comissionamento para todo o projeto e, também, para cada uma das disciplinas, envolvendo a arquitetura, instalações, ar-condicionado, civil, economia de água, entre outras. O foco principal das certificações é a eficiência energética da edificação, o que nos leva a dirigir atenção especial do projeto para os sistemas de HVAC (sigla para aquecimento, ventilação e ar-condicionado) – grande consumidor de energia”, informa Hoffmann.
Medidas
A obtenção da máxima eficiência energética para o edifício decorre de soluções de projeto que não somente dos sistemas de HVAC, com a previsão de recursos para redução de cargas como o envidraçamento mais eficiente e adoção de elementos de sombreamento, implantação ideal do edifício em relação à incidência solar, e ventilação cruzada. “São procedimentos que exigem a participação de várias disciplinas, alinhadas pela autoridade de comissionamento”, afirma, lembrando que “diferente do que muitos acreditam, a atuação do profissional transcende o condicionamento de ar, alcançando também aquecimento de água, elevadores, iluminação e sistema elétrico”.Hoffmann esclarece, ainda, que é papel do projetista fazer a simulação de eficiência energética, e não do agente. “Analisamos se aquela é a melhor alternativa na fase inicial do projeto e, posteriormente, nas fases de implantação e de operação, e se o elemento especificado foi instalado de forma adequada”, destaca.
O agente de comissionamento se reporta ao empreendedor, atuando como “guardião dos desejos do incorporador com relação ao desempenho do empreendimento”. Para se construir um prédio sustentável, segundo Hoffmann, é preciso que se crie uma forte cultura entre os donos dos empreendimentos para que façam valer as orientações do agente. “Hoje, a maioria enxerga o comissionamento como mais um elemento a gerenciar”, conta.
Recomissionamento
No universo dessa função, Hoffmann lembra que, além do comissionamento, próprio para obras novas, há ainda o recomissionamento e o retrocomissionamento. “O recomissionamento é feito quando uma construção concluída, que tenha sido comissionada de forma inadequada, exige a verificação do seu desempenho diante das metas estabelecidas. Nesse caso, o processo é um pouco diferente. Normalmente, a edificação já está ocupada e, se o comissionamento não foi feito corretamente, é comum que a documentação com as metas de eficiência energética tenha se perdido. O agente fará a verificação in loco, mas não tem mais a possibilidade de comparar o que foi instalado com o que foi projetado, impedindo que proponha mudanças que elevem o desempenho energético. Além disso, a ocupação torna inviável realizar testes de carga ou de segurança em salas como a de Centro de Processamento de Dados (CPD), porque as atividades não podem ser interrompidas. Em um prédio onde se fabrica produtos farmacêuticos, não é possível realizar ensaios, pois isso vai impactar a produção”, explica.Retrocomissionamento
Muito parecido com o descrito, o retrocomissionamento diz respeito à edificação que não contou com o comissionamento. “Esses termos podem variar de acordo com a literatura e o país. Os norte-americanos chamam de comissionamento contínuo”, ressalva Hoffmann. No caso de edifícios existentes que buscam a certificação LEED EB O&M (uso e manutenção), trata-se de fazer o comissionamento do processo de renovação do edifício. “Independente da nomenclatura e definições, o objetivo é sempre o mesmo, ou seja, documentar os objetivos em eficiência energética, ver instalado e que o desempenho corresponda às metas estabelecidas”, comenta. Wili Hoffmann finaliza observando que é preciso amadurecer, tanto no Brasil como no exterior, que o comissionamento é uma ferramenta para assegurar a qualidade da instalação: “O comissionamento é valido e eficiente em qualquer situação, desde que se queira atingir determinado desempenho energético para o edifício”.COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Wili Colozza Hoffmann – Engenheiro mecânico formado em 1985 pela Faculdade de Engenharia Industrial, com ênfase em refrigeração e ar-condicionado. Empresário e consultor técnico pela Veranum Tempus Engenharia, de 1991 a 2008, onde atuou em comissionamento de instalações industriais e comerciais. Atua em desenvolvimento de instrumentos de medição e monitoração em sistemas de HVAC. É professor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e do PECE da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), tendo ministrado cursos de graduação e pós-graduação. Atuou na área de treinamento e ensino de engenheiros e técnicos pela Faculdade Oswaldo Cruz e ABRAVA, tendo ministrado curso de “Mecânica de Fluídos Termodinâmicos”, entre 1994 e 1995. Membro associado da American Society of Heating, Refrigerating an Air Conditionning Engineers (ASHRAE) e do International Society for Pharmaceutical Engineering (ISPE). Membro do GT 03 – Nacionalização da NBR/ ISO 14644-7 do Comitê Brasileiro CB 55 da ABNT e Comissão de Estudo CE 46001. Espelho do ISO TC 209. Membro do CB 55 – Preparação e revisão das normas NBR 16401-2008 Sistemas de Climatização e Secretário do Comitê de Estudos Especiais (CEE-138) da ABNT - Equipamentos de Limpeza do Ar e Outros Gases (filtros), espelho do ISO TC 142. Membro fundador e vice-presidente da Associação Nacional de Profissionais de Refrigeração e Ar-Condicionado (ANPRAC). Tem participado como palestrante em diversos seminários internacionais sobre comissionamento na indústria farmacêutica e publicado artigos técnicos referentes ao assunto.