Como as portas podem interferir no isolamento acústico dos ambientes?
De nada adianta um bom projeto que considere somente as partes fixas como paredes e divisórias. As partes móveis merecem atenção, pois podem comprometer todo o sistema
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
É preciso definir a privacidade desejada para especificar a porta corretamente (Foto: shutterstock / Pratchaya.Lee)
As portas têm importância crucial para a acústica de qualquer ambiente fechado, representando o elemento mais vulnerável da entrada das edificações. “É muito comum a porta comprometer todo o isolamento do sistema. Então, não adianta se preocupar com a parede, com as divisórias e não dar a devida atenção a ela”, alerta a arquiteta e professora Débora Barretto, diretora Técnica da Audium – Divisão de Acústica.
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Para que a vedação seja alcançada em sua plenitude, é preciso que o projeto considere as partes fixas e móveis dos ambientes. “Como a parte móvel é a porta, seu estudo é fundamental para o conjunto de soluções utilizadas no projeto”, recomenda Barretto. Em residências, esse cuidado começa com as portas de acesso, que se relacionam com o ambiente externo, que pode ser um corredor, um hall de apartamento ou mesmo a rua. “As portas de entrada exigem um projeto especial, já que lhes cabe limitar a entrada de ruídos externos.
Estudos nesse sentido são alvos dos projetos acústicos das edificações, para garantir qualidade mínima de conforto nas residências ou ambientes corporativos”, reforça o engenheiro Aparecido Bonifácio, executivo da Atenuasom.
A especificação correta de portas com poder de isolamento acústico começa pela identificação do grau de privacidade desejado. “A partir dessa informação é definido o isolamento necessário. Logo em seguida, precisamos identificar qual a fonte sonora, verificando onde estão localizadas as emissões e as recepções”, explica a arquiteta. Essas informações formam a base do projeto de conforto acústico do sistema – parte fixa e porta. “Só nessa etapa é possível definir a porta que será utilizada, considerando que o mercado dispõe de modelos que isolam 25 dB, 32 dB, 35 dB e até 38 dB”, informa Barretto.
É muito comum a porta comprometer todo o isolamento do sistema. Então, não adianta se preocupar com a parede, com as divisórias e não dar a devida atenção a elaDébora Barretto
COMPONENTES DE VEDAÇÃO
As portas de madeira são as mais utilizadas em apartamentos, enquanto que, em casas, é mais comum o uso de portas de alumínio ou PVC com vidro. Os dois especialistas consultados destacam que o material predominante de cada porta influencia o desempenho acústico. “As portas de alumínio e PVC têm disponível uma boa variedade de elementos comuns de vedação. Isso não ocorre nos modelos de aço ou madeira, devido às limitações de conformação/adequação dos perfis. Já as portas de vidro exigem soluções especiais para vedação”, ensina Bonifácio. “Mais do que o material, é imprescindível ter qualidade na vedação das frestas das portas e, no caso das de vidro, é preciso especificar corretamente sua espessura. O isolamento de toda a esquadria envolve a parte da folha, toda a parte de perfis e a qualidade dos materiais, como borrachas e vedações, entre outros”, reforça Barreto.
Papel igualmente fundamental no isolamento acústico das portas é desempenhado pelas travas retráteis, pelo batente duplo e pela dobradiça compatível com o peso da porta. “E, muito importante, a folha da porta pode ser preenchida com gesso acartonado, lã ou borracha, sempre de acordo com o nível de isolamento desejado”, acrescenta a arquiteta.
Bonifácio chama a atenção para os componentes, também conhecidos como acessórios. Esses são elementos vitais num projeto de porta, para viabilizar os resultados acústicos mínimos desejados. “Ainda que a porta tenha em sua folha e em seu batente uma alocação generosa de materiais, tudo estará comprometido se não houver esmero na especificação e uso dos componentes corretos”, sublinha. Os componentes são aqueles que podem inibir a permanência de frestas entre o vão da porta (alvenaria) e o batente, ou entre a folha e o batente. Abrangem gaxetas, escovas e mantas especiais de borracha. “Esses elementos atuarão, principalmente, nas frestas entre folha e batente. Já as dobradiças devem garantir a plena sustentação do peso próprio da folha e, portanto, sua vedação”, explica o engenheiro.
As portas de entrada exigem um projeto especial, já que lhes cabe limitar a entrada de ruídos externos. Estudos nesse sentido são alvos dos projetos acústicos das edificações, para garantir qualidade mínima de conforto nas residências ou ambientes corporativosAparecido Bonifácio
A fechadura deve ser escolhida de acordo com o isolamento acústico desejado, de forma que ela impeça a existência de frestas para chaves e trincos, entre outros. Na aresta inferior da folha, é preciso utilizar conjuntos mecânicos de vedação apropriados, já que ela apresenta condição crítica de vedação.
A instalação dos acessórios exige conhecimento. “Quando são aplicados para a abertura da porta, por exemplo, pode ser criado um furo que funciona como um caminho de transmissão sonora, ou uma ponte sonora (espaço por onde o som trafegará)”, diz Barreto, deixando claro que após a fixação dos componentes, é preciso realizar medições em laboratório para informar o isolamento global do sistema. “É um erro comum efetivar essa medição antes da instalação dos acessórios e ter, ao final do trabalho, a vedação comprometida”, observa.
De acordo com Bonifácio, apesar de o mercado nacional oferecer componentes que suprem, em variedade e qualidade, os projetos de maior demanda, imóveis de alto padrão chegam a importar esses materiais. “Exigências crescentes de desempenho acústico são acompanhadas de soluções técnicas proporcionalmente mais elaboradas”, diz ele. É o que ocorre com home theaters e estúdios privados, que necessitam de soluções e componentes customizados e especiais para suas portas, muitas vezes importados.
PREOCUPAÇÃO COM AS REGRASA norma de desempenho ABNT NBR 15.575:2013 – Norma de Desempenho – colocou o tema ‘isolamento acústico’ no centro das atenções de maneira irreversível. “Notamos uma acentuada preocupação dos arquitetos e engenheiros em adquirir conhecimentos sobre acústica e promover especificações mais consistentes e adequadas. Infelizmente, a fundamentação teórica da Acústica de Edificações é muito ampla, complexa e desprovida de fácil correlação causa-efeito. Logo, os arquitetos e engenheiros têm se apoiado de forma crescente nos profissionais de acústica. Estes têm feito estudos específicos para avaliação do campo sonoro no entorno das edificações e seus desdobramentos em especificações pontuais ou projetos acústicos completos”, finaliza Bonifácio.
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Colaboração técnica
- Aparecido Bonifácio – Formado em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), com pós-graduação em Administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pós-graduação em Acústica de Edificações e Ambiental pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Atua há 12 anos na acústica de edificações, principalmente esquadrias.
- Débora Barretto – Arquiteta e urbanista pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAU-FBA), mestre em Engenharia Ambiental Urbana na Área de Poluição Sonora pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (EP-UFBA) e especialista em Acústica nas Edificações pela Universidad Politecnica de Madrid (UPM/Espanha). É vice-presidente da Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac), conselheira-fundadora da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica), membro do Comitê de Estudos de Acústica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA). É professora da Faculdade de Arquitetura da Unime; coordenadora do curso de pós-graduação lato sensu em Conforto Ambiental e Sustentabilidade na Arquitetura e no Urbanismo da Unime e diretora Técnica da Audium – Divisão de Acústica. É a única profissional do Nordeste certificada na categoria “Fundamental 1”pela Sobrac.