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Como comparar a viabilidade econômica dos sistemas estruturais?

Quesitos como velocidade de execução, custos diretos e indiretos e impacto sobre fundações e acabamentos devem ser colocados nas planilhas. Veja o que mais levar em conta no planejamento financeiro

Publicado em: 16/04/2018Atualizado em: 09/11/2018

Texto: Juliana Nakamura

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O tipo de fundação influencia na escolha do sistema estrutural (Foto: zhengzaishuru/shutterstock)

Escolher um sistema estrutural para a construção de um edifício é uma tarefa que envolve uma complexa análise de fatores. E vai muito além de uma simples comparação de custo direto ou de ideias pré-concebidas. A necessidade de garantir uma solução que atenda às necessidades específicas de cada obra é o desafio, exigindo a utilização de metodologias de comparação abrangentes e imparciais.

O trabalho deve começar por uma rigorosa análise das características da obra que mais interferem nos custos. “É interessante, inclusive, que essas características sejam hierarquizadas em função de sua importância para o empreendimento”, defende o engenheiro Fernando Penna, professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coautor do manual “Viabilidade Econômica”, publicado pelo Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA), junto com o engenheiro Fernando Ottoboni Pinho.

O QUE LEVAR EM CONTA?

De acordo com Penna e Pinho, costumam ser fatores de grande impacto na escolha do sistema estrutural: o tipo de fundação/solo, o prazo para execução da obra, o tipo de ocupação, a disponibilidade e custo dos materiais, as características do canteiro e acessos, a possibilidade de adaptações futuras e a compatibilidade com demais sistemas construtivos. Também é fundamental analisar as particularidades da estrutura, incluindo altura e necessidade de vãos-livres e pé-direito, condições de manutenção, além da proteção contra a corrosão e o fogo.

Quanto mais dados e projetos disponíveis, menor tende a ser a margem de erro das estimativas
Pedrinho Goldman

O engenheiro Pedrinho Goldman, especialista em planejamento e orçamentos para construção civil, explica que a qualidade da elaboração de análises de custo e orçamentos está diretamente ligada à qualidade dos projetos e das informações disponíveis. “Isso significa que quanto mais dados e projetos disponíveis, menor tende a ser a margem de erro das estimativas”, diz Goldman.

PARA CADA SITUAÇÃO, HÁ UMA MELHOR SOLUÇÃO

Um determinado aspecto de um sistema estrutural percebido como vantajoso para certo empreendimento pode tornar-se indiferente ou até desvantajoso para outro. Daí a necessidade de identificar, a fundo, o que mais impacta o orçamento de cada obra.

Por exemplo, em alguns empreendimentos – especialmente naqueles situados em locais com solos com baixa capacidade de suporte –, o custo das fundações deve ser um importante fator de decisão na hora da escolha da estrutura. Afinal, a adoção de soluções mais leves, como perfis e vigas metálicas, pode implicar em reduções nas cargas verticais e reduzir o número de estacas (e consequentemente os custos) por metro quadrado.

Em outros projetos, como os industriais, a necessidade de permitir ampliações e modificações futuras é um fator de alta relevância na hora de optar por aço, concreto pré-fabricado, concreto moldado in loco ou estrutura mista. Isso porque algumas dessas soluções favorecem tais modificações com poucos transtornos operacionais, enquanto outras são mais rígidas.

Em edifícios comerciais com áreas para locação, escolas e hotéis, o tempo de construção e a previsibilidade do cronograma são aspectos de alta criticidade. Nesses casos, sistemas industrializados e mais velozes, como o aço e o concreto pré-moldado, tendem a apresentar vantagens ao agilizar o retorno do capital investido, além de diminuir os custos indiretos da construção que são em função do tempo de construção.

Por fim, a necessidade de garantir amplos vãos livres e pés-direitos capazes de abrigar uma complexa rede de instalações prediais pode ser fator determinante para a escolha da solução estrutural. Isso se aplica principalmente em edifícios corporativos, edifícios-garagem e galpões logísticos, que precisam maximizar o aproveitamento do espaço.

QUANDO TOMAR A DECISÃO?

De acordo com Fernando Penna, quanto mais cedo for feita a escolha do sistema estrutural, melhores tendem a ser os resultados. “Durante o estudo de viabilidade e a definição da concepção, a possibilidade de interferência é alta e os custos acumulados são ainda muito baixos. Este normalmente é o melhor momento para definir o sistema estrutural”, diz Penna.

Durante o estudo de viabilidade e a definição da concepção, a possibilidade de interferência é alta e os custos acumulados são ainda muito baixos. Este normalmente é o melhor momento para definir o sistema estrutural
Fernando Penna

Além do timing certo, ajuda a obter ganhos o conhecimento dos envolvidos (construtora, arquiteto e projetistas) sobre os sistemas construtivos analisados. “Toda solução estrutural oferece opções variadas de composição com elementos, subsistemas e sistemas complementares. A escolha das melhores alternativas para cada item configura o sistema estrutural com o melhor desempenho para as características importantes da obra”, diz o professor da UFMG.

CUSTOS DIRETOS E INDIRETOS

Alguns fatores, embora importantes, são muitas vezes relegados a segundo plano na hora da definição do sistema estrutural. Entre eles destacam-se os custos gerados por retrabalhos e correções nas etapas que sucedem a execução da superestrutura. Atividades como a colocação de esquadrias, instalação de elevadores e assentamento de revestimentos podem ser favorecidas ou prejudicadas pela qualidade de execução da estrutura, que idealmente deve ser aprumada e nivelada. Estruturas bem construídas têm melhores interfaces com os demais materiais, reduzem as espessuras de revestimentos das paredes e maximizam a produtividade no canteiro. Tudo isso deve ser levado em conta.

Segundo Penna, outro aspecto que nem sempre é contabilizado é o risco de acidentes em obras, que também podem gerar custos vultosos às construtoras. Em comparação às soluções moldadas in loco, os sistemas industrializados – que chegam prontos ao canteiro para montagem –, saem na frente. Primeiro porque retiram do canteiro de obras atividades perigosas, como preparação de formas de pilares e de vigas de periferia. Além disso, o uso de sistemas industrializados induz a utilização de equipamentos e mão de obra especializados na montagem das estruturas, ajudando a minimizar riscos de acidentes.

Colaboração Técnica

Fernando Penna – Engenheiro-civil, é professor da Escola de Engenharia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e coautor do manual “Viabilidade Econômica”, publicado pelo Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA).

Pedrinho Goldman – Engenheiro-civil com doutorado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É diretor da Pekman Engenharia, consultoria em Planejamento de Edificações, e autor do livro "Viabilidade de Empreendimentos Imobiliários".