Como garantir eficiência hídrica aos canteiros de obras?
Como ocorre em outras indústrias, a construção civil também precisa racionalizar o uso de água em sua produção. Conheça estratégias sustentáveis
Optar por sistemas construtivos secos e industrializados proporciona impactos positivos na redução do consumo de água na obra (foto: Jozef Sowa/shutterstock)
A água é um item indispensável em muitos processos realizados nos canteiros de obras. Este insumo é utilizado na produção de concretos e argamassas, para umedecer áreas com muita poeira, para curar concreto e para lavar ferramentas e ambientes. Também é fundamental para limpeza das áreas de vivência, vestiários, refeitórios, escritórios, banheiros e nos chuveiros para o banho dos trabalhadores.
Nos últimos meses, por conta da pandemia de Covid-19 esse insumo tornou-se ainda mais valioso. “Nesse período, em função da exigência por limpeza em todos os pontos, áreas e locais com acesso de pessoas, o consumo de água vem sendo além do previsto. Isso torna ainda mais importante a adoção de boas práticas para evitar o desperdício”, comenta Darci Vieira da Paz, engenheiro de segurança do Grupo Patrimar.
Racionalizar o uso da água nos canteiros é uma estratégia tão inteligente quanto necessária. Primeiro por uma questão de responsabilidade ambiental. Depois porque trata-se de um insumo que tem um custo financeiro embutido. Além disso, usar a água de modo consciente é um dos requisitos mais importantes para a obtenção de certificações verdes. De acordo com o US Green Building Council, a construção civil consome cerca de 21% da água tratada no planeta. Mas com planejamento e boas práticas de gestão é possível reduzir de 30% a 50% o consumo de água potável nos empreendimentos durante sua construção.
ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR O CONSUMO DE ÁGUA
Ainda na fase de formatação do projeto, a opção por sistemas construtivos secos e industrializados como drywall, painéis pré-fabricados e steel frame, é uma ação que traz impactos positivos para a redução do consumo de água na obra. Dados do Green Building Council mostram que são gastos, em média, de 160 a 200 litros de água para produção de um metro cúbico de concreto.
Para minimizar desperdícios, as instalações do canteiro devem ser planejadas com foco na racionalização. As torneiras podem contar com redutores de vazão e os banheiros, por sua vez, podem receber bacias sanitárias com sistema duplo. Também é altamente recomendável a criação de um sistema de reaproveitamento de águas pluviais. “Sempre que viável, utilizamos água de reuso em limpeza de ruas, lava rodas de caminhões, irrigação de taludes e áreas verdes, bem como em testes de estanqueidade de áreas impermeabilizadas”, conta Nilson Soares, diretor de operação da MPD Engenharia.
A ideia é fazer com que a água circule no canteiro. O volume utilizado para o teste de impermeabilização de piscina, por exemplo, pode ser redirecionado para outras atividades. Até mesmo a água empregada no sistema de ar condicionado dos escritórios e na fundação de estacas pode ser reaproveitada.
Outras ideias exploradas pelas construtoras brasileiras são a captação de água de poços artesianos (quando possível e após as devidas autorizações do órgão competente) e a substituição da cura úmida pela química para hidratação do concreto ao invés de água.
SEM VAZAMENTOS
Embora sejam de uso provisório, as instalações de abastecimento de água no canteiro precisam ser bem dimensionadas e construídas para evitar perdas e gastos excessivos com tarifas. “É importante sempre ter certeza que nossas instalações e equipamentos de transporte d´água estão bem regulados e sem vazamentos”, alerta Soares. Nesse ponto, são fundamentais rotinas de manutenção e vistoria nas redes e pontos de consumo para detectar vazamentos.
Além disso, não se pode prescindir de controle mensal de consumo médio de água da obra, de modo que o gestor possa acompanhar e mensurar quantitativamente o consumo. Para empreendimentos de maior porte, também é recomendada a instalação de medidores de água em diversos pontos do canteiro para ter um resultado mais setorizado e facilitar a identificação de eventual desperdício ou vazamento hídrico. Por fim, outro aspecto que não pode ser negligenciado é o treinamento constante dos colaboradores. Afinal, sem a conscientização das pessoas fica difícil alcançar os melhores resultados em prol de uma produção mais sustentável e livre de desperdícios.
Colaboração técnica
- Darci Vieira da Paz – Engenheiro de segurança do trabalho na Patrimar Engenharia. Com especializações em meio ambiente e qualidade, é auditor de qualidade com formação pela Fundação Vanzolini.
- Nilson Soares da Silva Filho – Engenheiro civil, é diretor de operação na MPD Engenharia.