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Como minimizar impactos de grandes escavações em perímetros urbanos?

Transtornos como excesso de ruídos e poeira podem ser atenuados com planejamento, comunicação, e ações de mitigação na obra

Publicado em: 27/01/2021Atualizado em: 15/12/2022

Texto: Juliana Nakamura

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Construtoras podem adotar diferentes medidas para mitigar impacto das escavações (foto: christopher babcock/Shutterstock)

Ao longo do período em que uma obra acontece, a escavação é uma das etapas mais críticas com relação a incômodos à vizinhança. Afinal, trata-se de uma atividade que envolve intensa movimentação de terra, operação de equipamentos pesados e tráfego de caminhões para a retirada de material.

Mas as construtoras podem reduzir bastante esses inconvenientes e estabelecer uma relação harmoniosa com o entorno lançando mão de um bom planejamento e de ações coordenadas.

PLANEJAMENTO INTEGRADO

Os cuidados para atenuar o desconforto aos vizinhos devem começar muito antes do início das obras. Na etapa de planejamento é possível identificar o grau de sensibilidade nas imediações do empreendimento, bem como analisar alternativas técnicas para reduzir a quantidade, ou até mesmo, dispensar a escavação.

“O objetivo é sempre reduzir ao máximo o prazo de execução desta etapa”, comenta o engenheiro Tiago Maurício, gerente de obras na Trisul. Segundo ele, uma vez conhecido o volume de terra a ser escavado, é possível dimensionar, não apenas os equipamentos necessários para a atividade, como também a quantidade de caminhões e de viagens necessários para a retirada do material. Com essas informações em mãos, fica mais fácil elaborar ações assertivas para mitigar impactos à vizinhança. “É possível, por exemplo, fazer um planejamento para evitar aglomerações na frente da obra e principalmente, o estacionamento de veículos na porta de vizinhos”, continua Maurício.

É possível, por exemplo, fazer um planejamento para evitar aglomerações na frente da obra e principalmente, o estacionamento de veículos na porta de vizinhos
Tiago Maurício 

O engenheiro Sérgio Domingues, diretor técnico da Tarjab, conta que uma ferramenta que contribuiu bastante para a produção de planejamentos mais consistentes é a modelagem da informação (BIM) como suporte para a implantação do empreendimento. “Ao simular a construção virtualmente, podemos saber antecipadamente como serão realizadas as escavações e nos antecipar a eventuais pontos de atenção”, explica o executivo da Tarjab.

“No modelo 3D, conseguimos fazer vários inputs de informação, como as características da região, os ruídos incidentes no entorno, e realizar uma programação que cause a menor interferência possível na vizinhança”, continua o engenheiro. Ele lembra que, a depender do grau de sensibilidade a ruídos nos arredores da obra, o serviço pode ser programado para ser iniciado em um horário adequado.

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EQUIPAMENTOS MAIS EFICIENTES

Antes de iniciar as escavações, é importante que o construtor tenha em mãos uma série de projetos e documentos que garantem a segurança e a racionalidade dos serviços. Entre eles, é possível destacar: levantamento topográfico do terreno, ensaio de sondagem, análise laboratorial do solo, alvarás de aprovação, execução e escavação da obra e contrato para destinação de resíduos. De modo complementar, também podem ser elaborados laudos de vistoria cautelar, para registrar as condições em que se encontram todos os imóveis nos arredores da obra.

A especificação dos equipamentos utilizados na terraplanagem impacta bastante a eficiência do serviço, refletindo em maior ou menor produtividade e geração de ruídos aéreos. Além de privilegiar modelos mais novos, é necessário garantir que as máquinas sejam submetidas à manutenção preventiva adequada, bem como sejam dimensionadas proporcionais ao tamanho da obra.

SAÍDA DE CAMINHÕES E LAVAGEM DE VIAS

Em obras com escavação e movimentação de terra, uma fase que requer muita atenção é a saída dos caminhões do canteiro. Para evitar transtornos com ruas sujas e entupimento de bueiros, as construtoras devem instalar um sistema de lava-rodas. “O objetivo é minimizar sujidades em vias públicas e nas redondezas, sem desperdício de água. Além disso, quando necessário, é realizada a lavagem das vias públicas próximas ao canteiro com caminhões-pipa de água de reuso”, comenta Maurício.

Outra prática recomendada aos construtores é a implantação de procedimento de fiscalização rigoroso dos caminhões que deixam o canteiro. “Isso é importante para evitar que o conteúdo das caçambas se desprenda ao longo da viagem até sua destinação final”, complementa Sérgio Domingues.

Isso é importante para evitar que o conteúdo das caçambas se desprenda ao longo da viagem até sua destinação final
Sérgio Domingues

Por fim, para as empresas que prezam pelo bom convívio com sua vizinhança e, consequentemente buscam manter uma boa imagem, vale investir em uma boa comunicação. “Uma ação positiva, nesse sentido, é entregar uma carta aos moradores de casas e prédios vizinhos com a previsão da data de conclusão dos trabalhos e os contatos, tanto da obra, quando do serviço de atendimento ao cliente da empresa”, conclui Tiago Maurício.

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Colaboração técnica


Sérgio Domingues - Engenheiro civil, é mestre em Ciências no Programa em Inovação na Construção Civil pela Escola Politécnica da USP. Diretor técnico da Tarjab, também integra o Comitê de Tecnologia e Qualidade do Sinduscon-SP.
 
Tiago Maurício - Engenheiro civil é gerente de obras na Trisul.