Como prevenir vazamentos e infiltrações no sistema hidráulico?
Análise periódica planejada ajuda a evitar esses e outros problemas como entupimentos. E também pode apontar a necessidade de reformas ou atualizações. Entenda e evite transtornos
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Verificação periódica é essencial para garantir o funcionamento adequado do sistema hidráulico (Phira_60 / shutterstock)
Problemas no sistema hidráulico têm potencial para desencadear diversas outras complicações. Os vazamentos tendem a se transformar em infiltrações que danificam o revestimento de paredes e pisos ou podem atingir instalações elétricas expostas, causando curto-circuito. Em casos mais graves, até mesmo a estrutura da edificação é afetada com o volume d’água que se acumula no subsolo e compromete a fundação.
Verificações periódicas são fundamentais para assegurar que canos, tubulações, válvulas e demais elementos estejam funcionando conforme o esperado. O engenheiro Germano Hernandes Filho, diretor da Montage Engenharia de Instalações, lembra que os prazos de garantia para materiais e serviços hidráulicos são regulados pela ABNT NBR 15,575 – Desempenho de Edificações Habitacionais. Assim, os serviços de instalação hidráulica têm garantia de três anos. Porém, Hernandes Filho sugere que sejam realizadas análises anuais. A mesma frequência vale para prumadas/tubos de queda dos sistemas de gás, água fria ou quente; esgoto sanitário; volumes pluviais; entre outros, que têm garantia de cinco anos. Para determinados componentes, como registros, louças, metais e flexíveis, a garantia é de um ano. No entanto, recomenda-se que esses materiais sejam vistoriados semestralmente. “Em prédios com múltiplos andares, quando há um adequado programa de manutenção, a verificação do sistema hidráulico até pode ocorrer com espaçamento maior de tempo — que não deve ser superior a 12 meses”, ressalta o engenheiro Jairo Paulo de Brito, sócio da SR Projetos e Engenharia.
Segundo a ABNT NBR 14.037 — Diretrizes para Elaboração de Manuais de Uso, Operação e Manutenção das Edificações — Requisitos para Elaboração e Apresentação dos Conteúdos —, o proprietário ou a administração do condomínio é obrigado a elaborar um programa de manutenção. “Cumprir o planejamento garante o funcionamento do empreendimento, atendendo às condições de saúde, segurança e salubridade”, acredita Hernandes.
PROBLEMAS COMUNS
Entre os problemas encontrados com maior frequência nos sistemas hidráulicos estão os vazamentos localizados nas redes primárias, na tubulação de captação das águas pluviais ou nos pontos de consumo. Há ainda entupimentos nas redes de esgoto sanitário e nos canos que conduzem a água da chuva. Em construções mais antigas, os defeitos geralmente estão nas prumadas, uma vez que já atingiram sua vida útil e não receberam as manutenções necessárias, o que causa vazamentos e infiltrações.
“Também são comuns falhas oriundas de alterações no sistema hidráulico durante reformas. Geralmente realizadas sem projeto, elas podem causar imprevistos como infiltrações, retorno de fluidos e odor, além de vazamentos”, comenta Brito, explicando que essas situações motivaram a implantação da ABNT NBR 16.280 — Reforma em Edificações — Sistema de Gestão de Reformas — Requisitos. A norma exige que toda reforma tenha um responsável técnico, que evitará complicações dessa natureza.
Cumprir o planejamento garante o funcionamento do empreendimento, atendendo às condições de saúde, segurança e salubridadeGermano Hernandes Filho
Ambos os especialistas concordam que seguir à risca o plano de manutenção é a melhor maneira de evitar o surgimento de falhas. “Porém, depois que os problemas já apareceram, a orientação é contar com profissional capacitado para analisar e resolver a situação”, afirma o diretor da Montage Engenharia de Instalações. É ele quem apontará a necessidade de uma intervenção parcial ou se será preciso trabalho mais completo, que envolva todo o sistema.
REFORMA TOTAL
Quando se observa que vazamentos, infiltrações, entupimentos e liberação de odores estranhos acontecem com frequência, torna-se interessante a reforma total do sistema hidráulico. “Esses são sinais de que a instalação apresenta deficiências”, alerta Brito. A situação pode ser agravada se complicações anteriores foram sanadas por profissional sem experiência, pois ele pode ter alterado o projeto original. Lidar com sistema diferente daquele que consta do projeto torna a reforma ainda mais complicada.
Qualquer reforma tem de ser antecedida por uma minuciosa inspeção no sistema, com o intuito de diagnosticar quais são os problemas e se eles podem ser classificados como anomalia construtiva, falha de manutenção ou irregularidade de uso. “O estudo possibilita classificar e determinar a ordem de prioridade dos reparos a serem executados”, observa o sócio da SR Projetos e Engenharia.
Possíveis ampliações da edificação, com o acréscimo de novas áreas molhadas, normalmente pedem atualização do sistema hidrossanitário. Afinal, o volume previsto no projeto inicial será ultrapassado, tornando necessária a reforma da rede já existente para suportar o fluxo adicional. “O projeto deve ser realizado por profissional habilitado, pois envolve cálculos hidráulicos”, orienta Hernandes.
“É essencial guardar o projeto executivo do empreendimento. Caso alterações sejam feitas nas instalações ao longo dos anos, deve ser elaborado o projeto de As Built, para que estejam sempre disponíveis todas as informações atualizadas dos diferentes sistemas que compõem a edificação”, destaca Brito.
TRANSTORNO AOS MORADORES
A reforma do sistema hidráulico, inevitavelmente, causará transtornos para os ocupantes da edificação. “O ideal é que os trabalhos aconteçam sem a presença dos moradores”, recomenda Hernandes. Caso contrário, o melhor caminho passa pela realização do procedimento em etapas, iniciando sempre por locais onde os impactos serão menores.
A comunicação honesta com as pessoas afetadas também ajuda a diminuir um pouco os traumas causados pela situação. “O ideal é que todos sejam devidamente informados sobre os transtornos. Assim, no decorrer da obra, saberão com o que estão lidando e não se sentirão ignorados”, declara Brito. A execução de instalações provisórias que atendam às demandas dos ocupantes é outra iniciativa que ajuda a reduzir interferências na rotina dos moradores.
É fundamental que, durante a reforma, sejam realizados testes ao final de cada etapa. “Com isso, evita-se que erros sejam percebidos somente quando todo o procedimento for concluído, o que geraria a necessidade de retrabalhos e mais transtornos”, adverte Brito.
Novas instalaçõesQuando a edificação conta com sistema de aquecimento de água a gás ou elétrico e opta-se por trocá-lo pela tecnologia termosolar, é provável que reforma nas instalações hidráulicas seja necessária. A principal, caso a tubulação seja de ferro, é a substituição por tubos de cobre – primeiro passo antes de conectar o sistema hidráulico ao aquecimento solar de água. Segundo Germano Hernandes Filho, dessa forma, o transtorno para os ocupantes do imóvel seria mínimo, pois o funcionamento somente seria parado no momento em que fosse feito o acoplamento da nova infraestrutura.
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Colaboração técnica
- Germano Hernandes Filho – Graduado em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de Lins, com especialização e pós-graduação em Engenharia Urbana pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente, é presidente do comitê da bacia hidrográfica do Turvo Grande e diretor da Montage Engenharia de Instalações, empresa que atua no segmento de sistemas prediais voltados para empreendimentos residenciais, comerciais, hoteleiros, industriais, entre outros.
- Jairo Paulo de Brito – Graduado em Engenharia Civil e Tecnologia da Construção Civil pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP), tem MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Já atuou como orçamentista, engenheiro de obras e engenheiro de planejamento em obras de edificações e do setor industrial. Atualmente, é sócio da SR Projetos e Engenharia, onde está à frente da área técnico-comercial, coordenando contratos de projetos nas áreas de instalações e consultoria técnica para engenharia civil.