Como projetar a iluminação de salas de aula?
Confira dicas sobre materiais, normas e soluções para esse tipo de projeto
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Um bom projeto de iluminação é indispensável para instituições de ensino. O desempenho dos alunos e a atuação dos professores sofrem influência direta do nível de luminosidade dos ambientes. Em salas de aula escuras, a atenção dos estudantes tende a ser menor, pois a ausência de luz induz o organismo a produzir hormônio chamado de melatonina, responsável pela diminuição do ritmo biológico. Outros problemas relacionados com a iluminação inadequada são fadiga, dores de cabeça e irritabilidade nos olhos, que, em longo prazo, pode se tornar uma lesão ocular.
O desempenho dos alunos e a atuação dos professores sofrem influência direta do nível de luminosidade
(Roman023_photography/ Shutterstock.com)
“Muitas informações passadas aos alunos vêm de estímulos visuais. Por isso, prover espaços com iluminação coerente é fundamental para a qualidade do ensino”, destaca o engenheiro Plínio Godoy, sócio-diretor da Lienco - Lighting Solutions. Mas um projeto de qualidade não é sinônimo de instalar lâmpadas fortes indiscriminadamente. Escolas têm variados ambientes, como auditórios, laboratórios, salas de estudo, quadras, praças de alimentação e áreas de convívio social. Como a gama de particularidades é grande, o projetista
Veja também:
Melhores práticas na gestão de suprimentos na Construção Civil
“A economia de energia é um fator importante nos estabelecimentos de ensino”, lembra, ainda, Godoy. Ele complementa: “Para isso, a utilização de controles digitais pode ser uma ótima solução, reduzindo muito o consumo, adequando a iluminação aos momentos distintos de utilização dos espaços e considerando também o uso da iluminação natural como parte dos recursos disponíveis”.
Muitas informações passadas aos alunos vêm de estímulos visuais. Por isso, prover espaços com iluminação coerente é fundamental para a qualidade do ensinoPlínio Godoy
AMBIENTES
As salas de aula são os ambientes que representam os maiores desafios. “São distintas as atividades realizadas nesse espaço, da projeção de vídeos até lições que usam a lousa, passando por exercícios criativos ou provas”, fala o especialista. Como as possibilidades são muitas, o ideal é que seja projetado um sistema de iluminação ajustável, com controle digital para que possa se adequar às diferentes exigências. Por outro lado, laboratórios de informática ou química, que sempre abrigarão tarefas semelhantes, podem ter a iluminação mais simples e fixa.
“A atividade a ser realizada em cada ambiente norteará o projeto”, ressalta Godoy, lembrando que falhas nessa etapa resultam em problemas de difícil resolução. “É complicado corrigir ofuscamentos, sombras, brilhos ou qualquer outra característica dos sistemas de iluminação que não estejam atendendo às necessidades visuais da tarefa”, comenta.
A cor da luz e o posicionamento das lâmpadas são variáveis que fazem parte da equação, já que erros nessas características interferem na capacidade de percepção de formas e cores. “Esse tipo de problema é bastante comum em espaços não estudados adequadamente”, completa.
IDADE DOS ALUNOS
Levar em consideração a idade dos alunos também é importante. Salas para crianças podem contar com elementos lúdicos de iluminação, como cores e projeções. Uma opção válida é pensar em sistemas capazes de serem controlados pelos professores. “Os mais jovens dispõem de recursos específicos de interação com o meio, e os docentes podem aproveitar essa característica. Por exemplo, alterando a tonalidade da luz para azul nos momentos de relaxamento ou para uma cor amena para os períodos de contação de histórias”, sugere o engenheiro.
É complicado corrigir ofuscamentos, sombras, brilhos ou qualquer outra característica dos sistemas de iluminação que não estejam atendendo às necessidades visuais da tarefaPlínio Godoy
Por outro lado, nas universidades, a máxima produtividade deve ser buscada, independentemente do momento do dia. É comum os alunos estudarem de manhã, antes do trabalho, ou à noite, após o expediente. A alternativa são sistemas de iluminação programados para minimizar os efeitos do sono matutino, do pós-horário do almoço e do período noturno. É importante basear a automação no Ciclo Circadiano, que designa o período de 24 horas do ciclo biológico de quase todos os seres vivos, sendo influenciado pela variação de luz e de temperatura, entre outros fatores.
MATERIAIS
Os tipos de lâmpadas mais recomendados para ambientes escolares são as fluorescentes com diferentes características e potências. E tem aumentado de maneira crescente o aproveitamento do LED, tecnologia que precisa ser especificada com atenção. “Em um mundo digital, com os LEDs se tornando acessíveis, temos de tomar cuidado com as características dos equipamentos, pois há muitos produtos disponíveis e nem todos entregam qualidade para os consumidores”, alerta o engenheiro.
NORMA TÉCNICA
A ABNT NBR ISO/CIE 8995 - Iluminação de ambientes de trabalho -, que substitui a cancelada ABNT NBR 5413 – Iluminância de interiores -, determina que a iluminância em salas de aula deve ser de 300 lux nas escolas primárias e secundárias. Já nos ambientes de estudos voltados para adultos ou atividades noturnas, o nível deve ser de 500 lux. “Além disso, as certificações de eficiência energética estão, cada vez mais, presentes nas instituições de ensino. Para atendê-las, é preciso desenvolver sistemas de alto desempenho, com fontes de luz bastante eficazes e controles digitais integrados”, comenta o especialista.
ILUMINAÇÃO NATURAL
O aproveitamento da iluminação natural é um capítulo especial no contexto do projeto, já que, além de economizar energia elétrica, ela colabora para o conforto ambiental – mas, como lembra o engenheiro, somente quando é bem planejada, uma vez que a luz natural também traz calor para o interior da edificação.
Por isso, é preciso analisar a insolação, a temperatura e a própria luz, de modo a decidir quais serão as técnicas usadas para alcançar um bom equilíbrio e eficiência. “A entrada de luz natural deve ser pensada junto com a arquitetura, para definir desde o posicionamento do edifício no terreno até aberturas, barreiras de luz, sistemas de controle e reflexões. Enfim, tudo deve ser integrado”, conclui o profissional.
Colaboração técnica
- Plínio Godoy – Engenheiro especializado em eletrotécnica. Participa da Divisão 03 – Projetos Luminotécnicos do Comitê Internacional de Iluminação CIE-Br, instituição internacional ligada ao INMETRO. Fundador da Associação Brasileira dos Arquitetos de Iluminação – AsBAI, teve seus projetos publicados na Europa e na China. É sócio-diretor das empresas Godoy Luminotecnia e Lienco - Lighting Solutions. Autor do livro Iluminação Urbana – Conceitos Básicos e Análise de Casos, publicado pela Editora VJ.