Concretagem em fôrmas garante acabamento superior a túneis e passagens
Alternativa à projeção de concreto, sistema tem aplicação em obras rodoviárias, ferroviárias e metroviárias
O sistema de concretagem em fôrmas garante uma construção mais resistente a diferentes situações geológicas, como no Túnel da Saúde, Rio de Janeiro / Foto: Divulgação Odebrecht
Cercada de elevada complexidade, a construção de túneis exige soluções de engenharia capazes de responder às necessidades de suporte de carga em diferentes situações geológicas. Uma das técnicas muito utilizadas nesse tipo de obra é a montagem de escoramento e fôrmas para a concretagem de laterais e abóboda com concreto moldado in loco.
“Essa é uma atividade desafiadora porque deve conciliar a execução de uma fôrma que molda a seção do túnel com a estrutura do escoramento em um local confinado, sem interferir no acesso de pessoas e equipamentos, normalmente existentes nos diversos trechos executados em paralelo”, comenta o engenheiro Miguel Henrique de Oliveira Costa, coordenador do Comitê Técnico da Abrasfe (Associação Brasileira das Empresas de Fôrmas, Escoramentos e Acesso).
Essa é uma atividade desafiadora porque deve conciliar a execução de uma fôrma que molda a seção do túnel com a estrutura do escoramento em um local confinadoMiguel Henrique de Oliveira Costa
O sistema de fôrmas para concretagem é utilizado em obras rodoviárias, ferroviárias ou metroviárias para túneis com seções variadas (circular, retangular) e escavados por diferentes métodos (aberto, mineiro, semiaberto, entre outros). Também encontra aplicação na construção de galerias e passagens subterrâneas.
“Entre as vantagens associadas a essa técnica construtiva destaca-se a qualidade superior conferida ao acabamento”, afirma o engenheiro Osvaldo Gamboa, engenheiro civil, diretor técnico da Abrasfe. O uso das fôrmas, em comparação com a projeção de concreto, permite executar superfícies mais lisas e regulares, facilitando a execução das instalações (iluminação, ventiladores e tubulações) posteriores.
Outros pontos fortes são a possibilidade de ter uma obra mais limpa e a redução drástica de perdas de concreto que, no caso da aplicação projetada, pode chegar a 40%.
CICLOS DE CONCRETAGEM
Os sistemas de fôrmas para túneis podem ser compostos por chapas de compensado de madeira ou de aço (mais usuais) suportadas por escoramentos tubulares metálicos. Os painéis são divididos em módulos articulados que se recolhem e expandem acompanhando as etapas de execução. Semelhante ao que ocorre com os sistemas deslizantes, a estrutura avança longitudinalmente sobre trilhos até a conclusão da obra.
A concretagem do Túnel da Saúde, no Rio de Janeiro,
utilizou um sistema de molde composto por estrutura
móvel de escoramento e fôrma metálica / Foto: Divulgação
Odebrecht
A depender do planejamento e das características do projeto, os equipamentos podem executar primeiramente as laterais do túnel para, depois, executar a abóbada. Outros conjuntos podem envolver toda a seção do túnel para concretagem em uma mesma etapa. Uma tendência nessa área é o uso de estruturas modulares e ajustáveis com fôrmas e escoramentos integrados. “Esse tipo de equipamento minimiza custos, prazos e parametriza os processos logísticos e operacionais”, diz Costa.
A concretagem acontece por meio de aberturas nas fôrmas e costuma utilizar concreto autoadensável que tem mais facilidade para preencher toda a seção. Terminada a cura, a execução prossegue com a desforma e o reposicionamento das fôrmas para iniciar um novo ciclo de concretagem. Visando o sucesso da empreitada, é fundamental que o equipamento possua resistência mecânica para o suporte vertical e garanta uma movimentação longitudinal eficiente.
Uma série de questões influencia diretamente o dimensionamento das fôrmas para túneis, como o local de uso, os equipamentos usados na montagem, o tipo e a espessura do concreto empregado, assim como a existência de janelas de concretagem. Para a especificação do equipamento, a extensão do túnel e o número de repetições são decisivos. Em geral, fôrmas de compensado de madeira são aproveitadas em obras com poucas reutilizações, enquanto que as chapas metálicas são preferidas em túneis mais longos.
Entre as vantagens associadas a essa técnica construtiva destaca-se a qualidade superior conferida ao acabamentoOsvaldo Gamboa
Gamboa explica que as chapas de madeira podem ser encontradas com superfícies de contato que permitem por volta de 200 usos. Acima desse valor, o uso desse tipo de painel exigirá trocas, ocasionando a parada sequencial da concretagem. “Chapas metálicas permitem um número de reutilizações muito maior, porém são mais caras”, pondera.
Os sistemas de fôrmas para túneis costumam ser alugados apenas quando o projeto consegue utilizar equipamentos modulares com chapas de madeira. No caso das fôrmas metálicas, elas são, na maioria das vezes, adquiridas pela construtora por causa do seu elevado grau de personalização. Os conjuntos são desenvolvidos para a geometria de cada túnel.
ASPECTOS EXECUTIVOS
A moldagem do concreto com fôrmas exige planejamento e execução criteriosos, bem como uma sintonia fina entre construtor, fornecedor do equipamento e projetistas. Entre os problemas decorrentes de falhas de execução nessa etapa destaca-se o aparecimento de juntas frias nas ligações entre o concreto fresco e o já aplicado. Segundo o coordenador do Comitê Técnico da Abrasfe, Miguel Costa, um ponto que merece atenção redobrada é o checklist para liberação da concretagem, que demanda o fechamento de vários processos de posicionamento, travamento das fôrmas e sustentação da estrutura.
No Brasil, a construção do Túnel da Saúde, na região central do Rio de Janeiro, utilizou um sistema de molde composto por estrutura móvel de escoramento e fôrma metálica. Com 80 m de extensão e três galerias, o túnel foi concluído no final de 2013 e é parte importante da Operação Urbana Porto Maravilha, que busca revitalizar a região portuária da cidade. Nesse caso, o equipamento agilizou a execução do túnel, viabilizando ciclos de concretagem a cada três dias, segundo informa a Odebrecht Infraestrutura, responsável pela construção.
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Colaboração técnica
- Miguel Henrique de Oliveira Costa – engenheiro civil, coordenador do Comitê Técnico da Abrasfe (Associação Brasileira das Empresas de Fôrmas, Escoramentos e Acesso). É também coordenador técnico da Mills.
- Osvaldo Gamboa – engenheiro civil, diretor técnico da Abrasfe (Associação Brasileira das Empresas de Fôrmas, Escoramentos e Acesso) e diretor comercial da Doka no Brasil.