Concreto autoadensável aumenta produtividade no canteiro
Além dessa importante vantagem, solução proporciona melhoria da qualidade final das obras
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Concreto autoadensável (CAA) tem a capacidade de preencher os espaços da fôrma sem qualquer tipo de interferência (Foto: Alison Hancock / shutterstock.com)
Recomendado para todo tipo de obra, o concreto autoadensável (CAA) apresenta como característica principal a capacidade de se moldar por conta própria, preenchendo os espaços da fôrma sem qualquer tipo de interferência. “A mistura se move exclusivamente através de seu próprio peso, sem vibração ou compactação externa. O uso de vibradores de imersão, réguas vibratórias ou qualquer outra forma de compactação é estritamente proibida em um CAA. A única ferramenta disponível para esse concreto é seu próprio peso, ou seja, a ação da força da gravidade em sua massa”, explica o engenheiro Bernardo Tutikian, consultor de Desempenho e Tecnologia do Concreto e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
O concreto só será considerado autoadensável se três propriedades forem alcançadas simultaneamente: fluidez, coesão necessária para que a mistura escoe intacta entre barras de aço e resistência à segregação. Ao se movimentar sobre as fôrmas e envolver os obstáculos (eletrodutos, barras de aço, entre outros), o autoadensável não deve ter o agregado graúdo separado da argamassa. “Uma mistura mal dosada pode até parecer coesa, mas, ao ser lançada nas fôrmas, iniciará o processo da segregação. Por isso, o CAA deve ser testado previamente por meio de equipamentos que simulem as condições reais de uso”, afirma o docente. A capacidade do CAA de fluir livremente sem segregar é medida pelo ensaio chamado de slump flow lest.
COMPOSIÇÃO
Os insumos usados na preparação do concreto autoadensável são semelhantes aos empregados em outros tipos de concreto. “Existe somente a necessidade de uma quantidade maior de materiais finos. Normalmente, utiliza-se areia fina ou outro agregado de menor dimensão”, completa. O cimento adicionado à mistura é o mesmo adotado para a produção de concretos estruturais convencionais, sendo idênticas as prescrições referentes à durabilidade e aos usos adequados. “Não existem critérios científicos que especifiquem o cimento mais adequado para o autoadensável. O mais indicado é aquele que apresenta a menor variabilidade em termos de resistência à compressão”, completa.
O CAA deve ser testado previamente por meio de equipamentos que simulem as condições reais de usoBernardo Tutikian
De forma geral, todas as areias são adequadas para a produção do CAA, e podem ser utilizadas tanto as naturais (depósitos eólicos e beira de rio) quanto as obtidas em processos industriais. “As primeiras são mais recomendadas por possuírem forma arredondada e textura lisa, elevando a fluidez da mistura para uma mesma quantidade de água”, indica Tutikian. O módulo de finura do agregado miúdo não deve ter variações superiores à ±0.20, para garantir a estabilidade das propriedades reológicas durante a produção.
Outro diferencial do autoadensável para os concretos tradicionais são os aditivos. Os dois principais são os superplastificantes, que permitem que se alcance alta fluidez nas misturas, e os modificadores de viscosidade, que proporcionam aumento da coesão e previnem a segregação do concreto.
DOSAGEM
O concreto autoadensável foi desenvolvido no Japão, em 1988, pelo pesquisador Hajime Okamura com o objetivo de resolver problemas de durabilidade aquém do esperado do concreto armado. Criou também um dos métodos apropriados para dosagem dos insumos. Batizado de método Okamura, a diretriz indica que o concreto deve apresentar quantidade limitada de agregados, baixa relação água/cimento e altas dosagens de aditivos superplastificantes. Já foram propostos outros métodos de dosagem eficazes e comprovadamente econômicos, como os de Tutikian, De Larrard, Comes, Mello-Repette e Tutikian & Dal Molin.
O CAA é claramente uma das áreas da tecnologia do concreto que têm o maior potencial de desenvolvimentoBernardo Tutikian
VANTAGENS E DESVANTAGENS
O concreto autoadensável colabora com o aumento da produtividade no canteiro. “Sem dúvida, essa é uma das grandes vantagens. As concretagens tornam-se mais rápidas, fáceis e possíveis de serem realizadas com equipes menores. Em indústria de pré-fabricados, a produtividade pode até ser dobrada”, destaca Tutikian. A redução na quantidade de mão de obra resulta em economia financeira na execução do projeto. Porém, essa redução não é expressiva a ponto de, sozinha, justificar a adoção da solução, que tem custo cerca de 10% maior em relação às alternativas convencionais.
Os valores mais elevados podem valer a pena, graças à grande quantidade de vantagens oferecidas pelo material. “A relação custo-benefício do CAA é a mais favorável entre todos os concretos”, diz Tutikian, mencionando como benefícios a melhoria do acabamento final das peças; o aumento da vida útil de fôrmas e de equipamentos de concretagem, como bombas e vibradores; além da redução no nível de ruídos emitidos no canteiro.
Já entre as desvantagens no uso do autoadensável, está a exigência de cuidados adequados para a concretagem de superfícies com inclinações ou desníveis. “Como a solução tende a se nivelar, pode ter seu aproveitamento impossibilitado nesses casos”, ressalta o consultor. A qualidade do material depende de maior controle sobre os seus insumos.
O CAA NO BRASIL
No Brasil, o estudo e a utilização do CAA ainda estão longe de atingir todo o potencial do material. “Uma das principais razões é o desconhecimento dos profissionais a respeito do assunto. O CAA é claramente uma das áreas da tecnologia do concreto que têm o maior potencial de desenvolvimento”, afirma o professor.
Apesar de ser uma tecnologia ainda incipiente, a solução já conta com norma técnica própria, a ABNT NBR 15823 - Concreto autoadensável. “Atualmente, o texto passa pelo processo de revisão, e a versão atualizada deve entrar em vigor ainda em 2016”, finaliza.
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Colaboração técnica
- Bernardo Tutikian – Possui doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-doutorado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Politécnico Jose Antonio Echeverría (Cuba). Foi professor visitante na Missouri Science and Technology (EUA). É professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), sendo também membro permanente do programa de pós-graduação em Engenharia Civil e do programa de mestrado profissional de arquitetura e urbanismo da instituição. Atua como coordenador do Instituto Tecnológico de Desempenho, itt Performance/Unisinos. É diretor de eventos do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon) e presidente de honra da Associação Brasileira de Patologia das Construções (Alconpat Brasil). Presta consultoria para empresas na área de desempenho e de tecnologia do concreto.