Concreto de alto desempenho viabiliza estruturas mais esbeltas e duráveis
Cada vez mais comuns em edificações e obras de infraestrutura, as aplicações do CAD avançam com o desenvolvimento de adições e aditivos, como os superplastificantes. Veja mais a seguir
O concreto de alto desempenho é caracterizado pela porosidade e permeabilidade reduzidas (foto: Sketchphoto/shutterstock)
Nos últimos anos, o maior acesso a adições e aditivos especiais fez com que o concreto de alto desempenho (CAD) aumentasse suas aplicações, tanto em edificações, quanto em obras de infraestrutura.
Elaborado com cimentos especiais, adições minerais tipo sílica ativa e metacaulim, além de aditivos superplastificantes, esse tipo de concreto se caracteriza por apresentar porosidade e permeabilidade reduzidas. Com isso, são capazes de gerar estruturas mais resistentes ao ataque de agentes como cloretos, sulfatos, dióxido de carbono e maresia. Outra característica que costuma acompanhar os CADs é a alta resistência à compressão, o que é bastante útil quando se precisa produzir peças estruturais mais esbeltas e maximizar a área útil, principalmente nos andares próximos ao térreo.
PRINCIPAIS APLICAÇÕES
Pavimentos rodoviários, pisos industriais e obras de arte especiais, como pontes e viadutos, são alguns usos habituais do concreto de alto desempenho. Nesses casos, o material costuma ser especificado visando reduzir o volume total de concreto, o peso próprio e, em alguns casos, o custo da estrutura.
Como permite a utilização de elementos menos robustos para suportar a mesma carga, o CAD também vem sendo bastante útil na construção de edifícios altos, sobretudo em pilares dos primeiros pavimentos e no subsolo. Edifícios como a E-Tower, construída no início dos anos 2000 em São Paulo, é um exemplo do uso do CAD em pilares. Nesse caso, em vez de ter pilares de 90 x 90 cm com fck de 40 MPa, foi possível construir elementos estruturais com 60 x 70 cm com concretos de alto desempenho.
Graças à sua alta resistência aos ataques químicos, o CAD também encontra aplicação importante em estruturas submetidas a ambientes agressivos, como em edificações expostas à atmosfera salina, indústrias químicas e estruturas offshore. Nesses casos, o ganho de vida útil com a utilização do CAD pode chegar a aproximadamente 20%.
“Embora muitos relacionem o concreto de alto desempenho a ocasiões que exigem elevada resistência à compressão, esse produto pode ser aproveitado em diversas situações, como estruturas que demandem baixa permeabilidade, peças esbeltas que necessitem de um módulo de elasticidade maior, ou mesmo concretos expostos a ambientes muito agressivos”, acrescenta Ricardo Soares, gerente-geral de operações de concreto da Votorantim Cimentos.
CONTROLE DE QUALIDADE
Mas de pouco adianta especificar um CAD de grande durabilidade se o projeto arquitetônico, o projeto estrutural, a execução e os controles de qualidade não estiverem à altura do material.
A aplicação do CAD exige, além do controle da qualidade do cimento, dos agregados e da dosagem dos aditivos, acompanhamento da execução na obra em que será utilizadoRicardo Soares
“A aplicação do CAD exige, além do controle da qualidade do cimento, dos agregados e da dosagem dos aditivos, acompanhamento da execução na obra em que será utilizado”, afirma Soares. Atenção especial deve ser dada, por exemplo, à programação de lançamento, bem como às etapas de secagem e cura. Isso porque uma das características do CAD é apresentar um alto módulo de deformação e resistência à tração, bem como menor retração durante a secagem.
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Além disso, de modo geral, os CADs apresentam maior dificuldade de aplicação, principalmente por causa da maior coesão provocada pela sílica ativa. “A menor capacidade de deformação desses materiais é outro fator que exige cuidado, assim como o alto calor de hidratação, que em caso de peças de grandes volumes pode exigir ações especiais para o resfriamento da massa”, comenta Soares.
Nem todos os produtos reagem da mesma forma com um determinado cimento, gerando problemas de compatibilidadeOswaldo Cascudo Matos
Como ocorre com outros tipos de concreto, o traço do CAD varia em função das especificações desejadas, da resistência necessária, do tipo de armadura, da dimensão dos agregados, entre outros fatores. Para o professor Oswaldo Cascudo Matos, da Universidade Federal de Goiás, um ponto crítico é a escolha dos aditivos que irão compor a mistura, em especial, os superplastificantes. “Isso porque nem todos os produtos reagem da mesma forma com um determinado cimento, gerando problemas de compatibilidade”, finaliza.
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Colaboração técnica
- Ricardo Soares — Gerente-geral de operações de concreto da Votorantim Cimentos.
- Oswaldo Cascudo Matos — Engenheiro civil, doutor em construção civil pela Poli-USP. É professor na Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás.