Congresso discute soluções para envoltória das edificações
Painéis fotovoltaicos se destacam como opções que podem ser integradas às fachadas para captação de energia
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
O bom projeto de fachada deve aliar o aproveitamento da luz natural ao conforto térmico dos ambientes, reduzindo ao máximo o uso de iluminação artificial e do sistema de ar-condicionado para obter melhor eficiência energética.
Palestrante do Congresso Internacional de Soluções Arquitetônicas e Construtivas em Esquadrias de Alumínio – AFEAL’30 o arquiteto italiano Luca Bertacchi, representante do escritório MCA - Mario Cucinella Architects -, impressionou a plateia com números que comprovam a urgência de uma arquitetura sustentável. “A Terra tem 145 bilhões de metros quadrados de construções que impactam o meio ambiente em 15 gigatons de emissão de CO2, o equivalente a 47% do total de emissões. Até 2030, serão acrescidos mais 73 bilhões de metros quadrados de construções, quando o planeta chegará a seu ponto mais crítico, sem volta, e a temperatura poderá aumentar em 2ºC, chegando a 6ºC em 2050”, ressaltou Bertacchi.
Entretanto, esse cenário ainda tem solução. “É fácil, mas exige mudança de ponto de vista. O uso da tecnologia na arquitetura é um plus que não substitui os princípios de um bom projeto. Recursos tecnológicos são instrumentos contemporâneos que realmente aumentam a qualidade dos projetos, porém é preciso saber usá-los. A tecnologia deve ser empregada somente como uma ferramenta a mais no trabalho, facilitando e aprimorando os resultados que se deseja alcançar”, alertou.
A afirmação foi endossada pelo engenheiro alemão Klaus Böde, diretor da ChapmanBDSP e também palestrante do evento. “O uso de tecnologias em fachadas não é a única alternativa. Muitas soluções podem e devem ser resolvidas na concepção do projeto arquitetônico. Por exemplo, a tendência difundida aqui no Brasil dos terraços envidraçados é um equívoco, uma maneira ruim do uso do vidro para o fechamento do espaço que cria a necessidade, muitas vezes, da instalação de um ar-condicionado. Onde está a inteligência dessas fachadas?”, questionou.
Böde falou ainda que o mercado brasileiro costuma associar arquitetura sustentável à obtenção da certificação LEED. “Isto, não necessariamente, reflete a inteligência inerente a um projeto. A certificação promove a arquitetura ambiental, entretanto, alguns países como a Escandinávia e Austrália não têm sistemas de certificação e apresentam bons exemplos de edifícios ecológicos”, disse, defendendo que a arquitetura deve promover as soluções tecnológicas, mas é preciso ter ciência de que é possível construir prédios com baixo consumo de energia, apostando somente em soluções de projeto.
Painéis fotovoltaicos
O uso da tecnologia na arquitetura é um plus que não substitui os princípios de um bom projeto. Recursos tecnológicos são instrumentos contemporâneos que realmente aumentam a qualidade dos projetos, porém é preciso saber usá-los. A tecnologia deve ser empregada somente como uma ferramenta a mais no trabalho, facilitando e aprimorando os resultados que se deseja alcançar
Outro assunto comentado por Böde foram os painéis fotovoltaicos, opções que podem ser integradas às fachadas para captação de energia. “O principal aspecto sobre o mercado fotovoltaico é que se trata de um setor que cresceu com a crise econômica recente e se tornou uma tendência em alguns países. Porém, existe grande dúvida quanto às razões de não serem produzidos em maior volume, de maneira a torná-los acessíveis e diminuir seus preços. As fábricas respondem este questionamento afirmando que o grande problema são os arquitetos, que não especificam os produtos, enquanto os arquitetos rebatem dizendo que especificam sim – não na quantidade que gostariam, por ser uma solução ainda muito cara”, comentou o engenheiro, ressaltando que acredita que esta é uma solução que terá grande futuro, mas com preços menores.
Para o professor Ricardo Ruther, coordenador do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina, também palestrante no congresso, grande parte do sucesso dos painéis fotovoltaicos depende da compreensão e adoção da solução pelos arquitetos. “São atores fundamentais, afinal são eles que fazem os projetos nos quais essa tecnologia será aplicada”, reforçou. O professor disse que, no Brasil, o parque de hidrelétricas conta com cerca de duas mil usinas, sendo a maior delas a de Itaipu, que é também a maior do mundo em geração de energia. E comparou: “Se cobríssemos, por exemplo, a área de Itaipu com painéis fotovoltaicos, eles gerariam o dobro da energia gerada pela usina, que é cerca de 20% da eletricidade consumida no Brasil”.
Segundo Ruther, a partir de 1990 começaram a ser projetados módulos fotovoltaicos para aplicação arquitetônica, e foi quando surgiu o conceito do BAPV e BIPV. “No BAPV, o módulo fotovoltaico é aplicado sobre a cobertura, normalmente é um retrofit, e não substitui o material de vedação. Já no integrado – BIPV –, os painéis fazem parte e tendem a copiar as características da aplicação, além de não mudarem a orientação e inclinação. Nesse caso, as placas podem substituir o elemento de vedação e serem usadas em fachadas cegas, semitransparentes, inclinadas, brises, entre outros sistemas”, explicou.