Conheça 5 tecnologias que podem atenuar a inflação dos materiais de construção
Na tentativa de minimizar os impactos da crise de abastecimento de insumos básicos, empresas olham com mais atenção para soluções construtivas alternativas
Solução industrializada para a produção de paredes e forros, o drywall é 100% reciclável (Foto: martiroz/Shutterstock)
O forte aumento dos preços de insumos básicos, o atraso nas entregas e o desabastecimento de alguns itens registrados desde o final de 2020 têm exigido de construtores e incorporadores muita ginástica para atenuar a corrosão das margens de lucro e evitar repasses aos preços dos imóveis.
A ordem é evitar desperdícios, buscar alternativas que permitam corrigir atrasos em cronogramas e analisar a substituição/racionalização de materiais tradicionais, como aço, tubos de PVC, fios e cabos elétricos, além de telhas e blocos.
“Uma possibilidade a ser verificada na fase de projetos, sempre em comum acordo com os projetistas, é a substituição de componentes e elementos, resguardando os requisitos e critérios técnicos e de desempenho”, diz Roberto Matozinhos, assessor técnico do Sinduscon-MG. “Para isso, o ideal é que a especificação pelo projetista seja, sempre que possível, pautada em desempenho”, continua ele.
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Nesse contexto, algumas tecnologias construtivas ganham evidência, seja por proporcionarem maior racionalidade, seja por substituírem, ainda que parcialmente, materiais que apresentaram grande estouro de preços. Confira a seguir:
Inicialmente, o custo desses kits pode ser mais elevado em relação aos produtos convencionais, mas a redução da mão de obra e das perdas pode compensar essa diferençaDaniel Setrak Sowmy
1) Lajes bubble deck — Solução para a produção de lajes moldadas in loco, a tecnologia consiste no uso de esferas de plástico ocas colocadas uniformemente entre telas metálicas de modo a ocupar a região em que o concreto não tem função estrutural. Com essa tecnologia, é possível construir lajes mais leves com a mesma resistência de uma laje plana maciça. Estima-se que, ao diminuir o peso próprio do elemento estrutural, o bubble deck permita uma economia de cerca de 35% do volume de concreto.
2) Kits hidráulicos — Os avanços promovidos nos últimos anos na direção de industrializar as instalações prediais permitiram às construtoras ter múltiplas opções para reduzir o número de conexões, abreviar o tempo de montagem na obra e evitar erros de interpretação de projetos. Entre elas, destacam-se o PEX (polietileno reticulado), os chassis pré-montados e os sistemas polvo. “Inicialmente, o custo desses kits pode ser mais elevado em relação aos produtos convencionais, mas a redução da mão de obra e das perdas pode compensar essa diferença”, comenta Daniel Setrak Sowmy, pesquisador do Laboratório de Conforto Ambiental, Eficiência Energética e Instalações Prediais do IPT.
3) Telas de fibra de vidro — Para empreendimentos construídos com o sistema paredes de concreto, uma alternativa que vem sendo explorada é a substituição das telas de aço por malhas de fibra de vidro para a armação. Além de alto desempenho no controle de fissurações e maior leveza, os produtos de fibra de vidro se tornaram mais competitivos em um cenário de aumento do preço do aço. A MRV é uma das construtoras que têm utilizado essa solução em obras do programa habitacional Casa Verde e Amarela.
4) Drywall — Solução industrializada para a produção de paredes e forros, o drywall se torna mais competitivo em um cenário que exige agilidade de execução e redução de desperdícios. Vale lembrar que o descarte adequado de resíduos é um item que também custa caro para as construtoras. Segundo dados da Associação Drywall, enquanto a alvenaria produz cerca de 20% de resíduos de obra, o drywall produz apenas 5% e seus resíduos são 100% recicláveis.
De forma ampla, todos os sistemas industrializados alinhados a esses benefícios têm potencial de se destacar em um contexto de alta de preçosRoberto Matozinhos
5) Sistemas estruturais industrializados — Em um cenário instável marcado pela elevação nos custos, a construção offsite (fora do canteiro) surge como meio de agregar maior previsibilidade de custos e prazos. Este modelo construtivo, que tira partido da padronização e da escalabilidade, permite ciclos mais curtos de produção. Isso tende a atenuar riscos, como a elevação de custos indiretos.
Matozinhos lembra que a construção industrializada está associada a vantagens como redução de prazos, elevado nível de controle de qualidade, menor desperdício de materiais e maior sustentabilidade. “De forma ampla, todos os sistemas industrializados alinhados a esses benefícios têm potencial de se destacar em um contexto de alta de preços”, conclui ele.
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Colaboração técnica
- Roberto Matozinhos — Engenheiro civil, consultor técnico e responsável pela assessoria técnica do Sinduscon-MG. Líder do grupo de acompanhamento de normas da COMAT/CBIC, é coordenador e idealizador do Portal de Normas da Construção — CBIC.
- Daniel Setrak Sowmy — Mestre e doutor em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo, é pesquisador do Laboratório de Conforto Ambiental, Eficiência Energética e Instalações Prediais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Também é professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).