Conheça exigências e soluções para projetar bons edifícios-garagem
Além da escolha do sistema construtivo, é preciso considerar número de vagas, terreno, acessos, respeitar normas, proporcionar funcionalidade e segurança aos usuários
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A escolha do sistema construtivo do edifício-garagem, que poderá ser em concreto moldado in loco, pré-moldado, estrutura metálica ou estruturas mistas, é norteada pelo projeto arquitetônico, que define o ambiente, suas formas e vãos. “O projeto básico deve considerar aspectos como o número de vagas (legalmente ou o desejo do cliente), terreno, legislação vigente que impacta recuos, coeficiente de aproveitamento e taxa de ocupação. É importante, também, avaliar os acessos, a topografia, as características do solo – subsolo ou sobressolo – e a verba disponibilizada pelo empreendedor”, informa o arquiteto Edo Rocha.
O projeto básico deve considerar aspectos como o número de vagas, terreno, legislação vigente que impacta recuos, coeficiente de aproveitamento e taxa de ocupação. É importante, também, avaliar os acessos, a topografia, as características do solo – subsolo ou sobressolo – e a verba disponibilizada pelo empreendedor
“A seguir, vem a definição do projeto básico de estrutura, seu sistema construtivo bem como suas respectivas referências normativas, de onde se estabelecem os critérios de projetos como modelo estrutural, materiais e parâmetros de durabilidade”, acrescenta o engenheiro José Carlos do Amaral, sócio da Zamarion e Millen Consultores. O custo-benefício de cada sistema construtivo integra a tomada de decisão antes da elaboração dos projetos executivos, levando em conta variantes como disponibilidade, acessibilidade, qualificação, segurança, sustentabilidade, exequibilidade e prazos.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Segundo Amaral, todos os sistemas são dotados de características técnicas mais ou menos favoráveis comparados entre si. A melhor solução técnica é a integração dos sistemas explorando suas respectivas vantagens. “Todos os sistemas construtivos requerem padronização de vãos e desníveis para sua melhor otimização, visando produtividade, sustentabilidade e mitigando erros de construção”, pondera o engenheiro.
ESTRUTURA METÁLICA
Vantagens
• Menor carga na fundação, tempo de execução, variabilidade de dimensões, mão de obra
• Facilidade de transporte, manuseio, montagem, ampliação, reforço, limpeza da obra
• Facilidade de desmontagem e reaproveitamento
• Vence grandes vãos
• Resistente à corrosão
Desvantagens
• Menor resistência ao fogo
• Maior manutenção, vibração durante o uso, efeito de fadiga e fratura
• Requer mão de obra especializada
• Dificuldade de abertura de furo pós-obra
• Menor resistência ao fogo
ESTRUTURA DE CONCRETO MOLDADO IN LOCO
Vantagens
• Menor manutenção, vibração durante o uso, efeito de fadiga e fratura, mão de obra especializada
• Maior facilidade de abertura de furo pós-obra
• Vence grandes vãos se for protendido
• Resistente à corrosão e ao fogo
Desvantagens
• Menor limpeza da obra
• Maior tempo de execução, variabilidade de dimensões, mão de obra, carga na fundação
• Dificuldade de reforço e ampliação
• Menor limpeza da obra
ESTRUTURA DE CONCRETO PRÉ-MOLDADO
Vantagens
• Menor manutenção, vibração durante o uso, efeito de fadiga e fratura, tempo de execução, variabilidade de dimensões e mão de obra
• Facilidade de transporte, manuseio, montagem, limpeza da obra
• Vence grandes vãos se for protendido
• Resistente à corrosão e ao fogo
Desvantagens
• Maior carga na fundação
• Requer mão de obra especializada
• Dificuldade de reforço, ampliação e de abertura de furo pós-obra
DIMENSIONAMENTO
Todos os sistemas construtivos requerem padronização de vãos e desníveis para sua melhor otimização, visando produtividade, sustentabilidade e mitigando erros de construção
Os edifícios-garagem não exigem reforços estruturais para suportar o peso dos automóveis. “Basta dimensionar os elementos estruturais com as ações variáveis adequadas em estruturas para garagem, conforme ABNT NBR 7188:2013 (Carga móvel rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas), além das ações permanentes. Esta norma estabelece as cargas móveis (veículos), ações horizontais (frenagem/aceleração) e excepcionais (colisão) a serem consideradas em projeto”, explica o engenheiro Amaral, que prossegue: “A carga móvel a ser adotada é uma carga uniformemente distribuída de 3 kN/m², que deve ser considerada sobre o pavimento na posição mais desfavorável, admitindo-se carregamentos repartidos e alternados em todos os vãos da estrutura”.
Segundo ele, as cargas horizontais só devem ser levadas em conta se a estrutura em questão for de sustentação da via pública. As cargas excepcionais devem ser previstas sobre todos os elementos estruturais em que haja a possibilidade de colisão, de forma isolada e global. “Para os pilares, devem ser consideradas forças horizontais de 100 kN na direção do tráfego e 50 kN na direção perpendicular, não concomitantes, aplicadas na altura de 1 m. Para os dispositivos de contenção, é preciso atender as forças horizontais de 100 kN na direção do tráfego e 100 kN perpendicular, porém, concomitante”, ensina.
CUIDADOS
José Carlos Amaral lembra que, nos edifícios-garagem, a maioria dos elementos estruturais fica à mostra no ambiente sem receber qualquer tipo de revestimento ou forro. “Dessa forma, qualquer anomalia, ainda que admissível pelas normas técnicas, fica notoriamente perceptível. Um bom projeto deve receber atenção especial, por exemplo, no caso do concreto, às deformações, vibrações e abertura de fissuras. Procuramos elaborar um bom projeto tanto do ponto de vista técnico, obedecendo os limites exigidos pelas normas, quanto do social, respeitando os limites de aceitação do usuário”, comenta.
Costuma ser um local de pouca permanência humana, mas nem por isso deve-se abrir mão da qualificação do espaço, principalmente no que tange o conforto ambiental. A questão da funcionalidade é primordial. É preciso estudar de forma criteriosa a circulação, os espaços de estacionamentos e manobra, a circulação de pessoas. E ter especial atenção ao tema da segurança
O arquiteto Edo Rocha concorda e acrescenta que, além disso, o uso do edifício-garagem é bastante específico. “Costuma ser um local de pouca permanência humana, mas nem por isso deve-se abrir mão da qualificação do espaço, principalmente no que tange o conforto ambiental. A questão da funcionalidade é primordial. É preciso estudar de forma criteriosa a circulação, os espaços de estacionamentos e manobra, a circulação de pessoas. E ter especial atenção ao tema da segurança”, completa.
As particularidades de cada código de obras dos municípios assim como as leis de uso e ocupação do solo norteiam a quantidade e largura das curvas nos edifícios-garagem. “Mas, genericamente, é bom avaliar as necessidades decorrentes de cada decisão. Por exemplo: se houver muitos subsolos, sua ventilação e qualidade do ar merecem cuidados. Os gases emitidos pelos veículos são tóxicos e o seu nível precisa ser controlado, mesmo em se tratando de espaços de pouca permanência humana”, alerta o arquiteto.
Ele explica que, nos andares de subsolo, pode ser projetada ventilação natural através de ventilação cruzada e fosso inglês, ou ventilação mecânica. A cidade de São Paulo, por exemplo, determina uma área mínima de abertura lateral ou superior, a partir do metro cúbico de cada pavimento de estacionamento. O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo também prevê essa situação em sua instrução técnica. “Em geral, as ventilações naturais exigem área maior de aberturas do que a ventilação mecânica –exigência por norma de sete trocas completas de ar (renovação) a cada hora”, informa.
Em edifícios de muitos pavimentos, subsolos ou sobressolos, a quantidade de elevadores e escadas de segurança aumenta exponencialmente. Segundo Rocha, todas as medidas previstas na instrução técnica do Corpo de Bombeiros também aumentam em lajes muito grandes ou edifícios com diversos pavimentos, como uso de sprinklers, extração de fumaça, compartimentações verticais ou horizontais.
“O piso desse tipo de edificação recebe pinturas resistentes ao atrito das rodas diretamente sobre o concreto”, destaca o arquiteto, salientando que mesmo quando construído em estrutura metálica, o piso é de concreto. Segundo ele, em alguns estacionamentos mais sofisticados, é aplicada pintura poliuretano ou MMA (metil-metacrilato), que tem maior espessura – com 2 ou 3 mm – muito duráveis, servindo como impermeabilizante do piso.
Do ponto de vista estrutural, os andares do subsolo têm a particularização dos elementos estruturais e esforços, pois, no subsolo faz-se necessária a utilização de elementos de contenção (muros de arrimo, cortinas, parede diafragma, solo grampeado ou colunas de jet grouting) e a consideração de esforços horizontais de empuxo de solo saturado, bem como eventuais esforços verticais de subpressão na laje de piso em contato com o solo, ressalta o engenheiro.
O engenheiro conclui, alertando que é muito importante nos edifícios-garagem a realização da avaliação da conformidade do projeto através de um controle de qualidade do projeto (CQP). “Para que esta avaliação seja efetiva, deve ser feita por profissional habilitado antes da fase de construção e, preferencialmente, simultânea à fase de projeto”, diz.
Colaboraram para esta matéria
- José Carlos do Amaral – Formado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (2004). Mestre em Ciências na área de Engenharia Civil, subárea de Engenharia Estrutural (2011), pela Universidade de São Paulo (USP). Atua em projetos estruturais em concreto armado e protendido (moldado no local, pré-moldado e pré-fabricado), realiza controle de qualidade de projeto (CQP), projetos de reforço estrutural, desenvolve produtos para dimensionamento de elementos estruturais e participa ativamente de comitês técnicos, eventos e cursos, visando a melhoria profissional contínua.
- Edo Rocha – Arquiteto e proprietário do escritório Edo Rocha, que desenvolve projetos nas diversas áreas da arquitetura: edificações, espaços interiores, urbanismo, aeroportos, shopping centers, arenas esportivas, estádios, entre outros. Um dos diferenciais da empresa é criar projetos sustentáveis e que, ao mesmo tempo, ofereçam viabilidade econômico-financeira. Desde 1974, a Edo Rocha Arquiteturas desenvolveu mais de 1000 projetos, totalizando cerca de 15,5 milhões de m² projetados, além dos planos de urbanismo e loteamentos. Tem 75% de fidelização dos clientes e certificação LEED em mais de 690.000m² pelo Green Building Council Brasil.