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Conheça o passo a passo para a recuperação de armadura oxidada

A patologia que reduz a vida útil das estruturas de concreto é solucionada com a execução de etapas que vão da preparação e limpeza até o tratamento do aço corroído

Publicado em: 10/02/2023Atualizado em: 21/08/2024

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Operário trabalhando na recuperação de armadura oxidada em um canteiro de obras

O processo frequente de oxidação das armaduras das estruturas de concreto tem como causa principal o cobrimento inadequado do elemento. “O que ocorre por erro na especificação em projeto ou na execução”, afirma o engenheiro Ricardo Borges Kerr, titular da Gepro Engenharia e consultor na área de projetos de estruturas.

A oxidação das armaduras leva ao aumento de volume, que acaba por romper o concreto, quebrando a camada de cobrimento e expondo a armadura. Em casos extremos, a oxidação leva à redução da secção transversal da armadura, comprometendo o desempenho e a vida útil da estrutura.

Exemplo de obras bastante atingidas pela patologia são as de concreto aparente, principalmente da década de 1970, que tinham cobrimento de armadura pequeno e usavam concreto muito poroso.

A norma em vigor de Projeto de Estruturas de Concreto, a NBR 6118, prescreve cobrimentos para diversas classes de agressividade ambiental. “A exigência de cobrimentos maiores foi inserida na norma justamente para evitar esse tipo de patologia e aumentar a vida útil das estruturas de concreto armado”, observa.

Preparação da armadura

O engenheiro Elorci de Lima, especialista em patologia e terapia de estruturas e diretor Técnico da EDL Engenharia e Consultoria, explica que o procedimento de recuperação da armadura visa restaurar o desempenho da estrutura para o patamar a que foi concebida.

O trabalho envolve a preparação do substrato, limpeza e tratamento da armadura corroída. Os reparos podem ser superficiais, semiprofundos ou profundos, dependendo da espessura.

A estrutura precisa passar por exame detalhado, feito por profissionais técnicos assessorados por engenheiro especialista. Acompanham testes de percussão (batidas de choco) para a identificação visual das áreas que deverão ser recuperadas. Aquelas que apresentarem som cavo ou indícios de deterioração da camada superficial de concreto de cobrimento das armaduras deverão ser demarcadas com giz de cera. O objetivo é definir as regiões que deverão receber os serviços de recuperação.

A delimitação das regiões de reparo deverá ser feita mediante o corte com disco diamantado, com profundidade aproximada de 10,0 mm, em uma faixa de concreto saudável distante, pelo menos, 100,0 mm da parte danificada.

Remoção do concreto deteriorado – Todo concreto deteriorado pela expansão das armaduras corroídas, ou que apresentar sintomas de desagregação, deverá ser removido por processos manuais ou mecânicos, visando a exposição total dessas armaduras até o aparecimento do concreto homogêneo.

Limpeza das barras de aço – As armaduras corroídas, uma vez liberadas, deverão passar por um processo de limpeza com utilização de escovas de cerdas de aço.

Limpeza das superfícies de concreto – Deverá ser feta por hidrojateamento de pressão média 0,6 MPa, para eliminação de todas as partículas soltas e substâncias nocivas que possam prejudicar a aderência do material de recomposição a ser utilizado.

Reparos

Após realizados esses procedimentos prévios, é executado o restabelecimento da seção geométrica original das peças. Lima explica como realizar os reparos superficiais, os semiprofundos e os profundos.

Reparos superficiais

Compreendem espessuras de 10,0 mm a 30,0 mm, sendo que a argamassa deve ser aplicada em camadas com espessuras máximas de 10,0 mm. A argamassa aplicada é a polimérica à base de cimento, não retrátil, tixotrópica, de formulação industrial, com baixa permeabilidade à água, CO2 e demais gases atmosféricos.

Aplicar a argamassa pressionando-a contra o substrato em tantas camadas quanto necessário, para obter uma espessura máxima de 30,0 mm. É preciso que as armaduras envolvidas no reparo tenham um cobrimento adequado (mínimo de 5,0 mm).

Após o início de pega da argamassa, proceder à cura úmida durante as primeiras 36 horas ou aplicar película de cura de base acrílica.

Reparos semiprofundos

Compreendem espessuras de 30,0 mm a 70,0 mm, sendo que a argamassa deve ser aplicada em camadas com espessuras máximas de 15,0 mm.

Neste caso, deverá ser empregada argamassa monocomponente de formulação industrial à base de cimento, fibras sintéticas e aditivos especiais.

Aplicar a argamassa pressionando-a contra o substrato em tantas camadas quanto necessário, para obter uma espessura máxima de 70,0 mm, certificando-se que as armaduras envolvidas no reparo tenham um cobrimento adequado.

Após o início de pega da argamassa, proceder à cura úmida durante as primeiras 36 horas ou aplicar película de cura de base acrílica.

Finalmente, é executado o acabamento das superfícies que consistirá no sarrafeamento e no desempeno da última camada do material utilizado na recomposição das peças estruturais. A execução exige ferramentas cortantes no sarrafeamento para evitar o deslocamento das camadas do material de recomposição.

Reparos profundos

Compreendem espessuras acima de 70,0 mm, executadas com grout à base de cimento, constituído por uma argamassa fluída, autoadensável e isenta de retração, fck ≥ 40,0 MPa;

Para moldagem das peças estruturais e confinamento dos materiais durante seus períodos de cura e endurecimento, deverão ser confeccionadas fôrmas especiais em madeira compensada, plastificada e intertravada, para perfeito alinhamento e prumo;

Nas regiões onde serão procedidas as recuperações localizadas, as fôrmas deverão ser do tipo cachimbo, cuja extremidade superior deverá guardar distância mínima de 100,0 mm em relação à extremidade superior da região de reparo;

A remoção do excesso de grout (cachimbo) deverá ser feita até 48 horas após o grauteamento, sempre de baixo para cima. Os acabamentos necessários deverão ser feitos com emprego de argamassa polimérica à base cimento;

Após o início de pega do grout, proceder à cura úmida durante as primeiras 36 horas, devendo o reparo permanecer protegido de radiação solar;

A cura da seção recuperada é feita por molhagem com água potável por sete dias, pelo menos, ou com aplicação de membrana polimerizada em duas demãos logo após o fim de pega do material aplicado.

Materiais indicados

De acordo com Kerr, existem diversos produtos de diferentes fabricantes para a atividade de recuperação de estruturas. “É importante preparar o planejamento da obra, verificando a necessidade de escoramentos, e jamais reduzir a segurança da estrutura durante a execução, principalmente quando é necessária a recuperação de pilares”, aconselha.

Recomendação complementar se refere ao projeto, que exige atenção especial nos ambientes com classe maior de agressividade. “Muitas vezes, numa mesma obra, temos ambientes que estão mais expostos do que outros, como áreas de piscina com água tratada com cloro”, completa.

Colaboração técnica

Ricardo Borges Kerr – Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo com diversos cursos de pós-graduação. Proprietário da Gepro Engenharia e consultor na área de projetos de estruturas, já atuou em mais de dois mil projetos de obras novas, reforços de estruturas, emissão de pareceres técnicos e laudos. É vice-presidente de Relacionamento da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece).
Elorci de Lima – É Engenheiro Civil pela Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP (1981), onde atuou como professor nos anos de 1982 e 1983. Especialista em Patologia e Terapia de Estruturas, com mais de 40 anos de atuação em Perícias Técnicas de Engenharia, trabalhou como engenheiro, gerente e diretor em empresas especializadas. Em 1991, fundou a Reconcret - Engenharia de Recuperações e Estruturas Ltda., onde foi diretor Técnico e Comercial até 2001 e, hoje, é diretor Técnico da EDL Engenharia e Consultoria. Atua como perito ou assistente técnico em processos judiciais, com destaque para aqueles que envolvem contendas relativas a questões estruturais e de reequilíbrio econômico-financeiro de contratos Construction Claims. Foi diretor de comunicação da Associação Brasileira de Engenharia de Recuperação e Reforços Estruturais (Aberre).