Conheça os fatos e os mitos sobre acústica em hospitais
Os níveis sonoros em unidades de terapia intensiva (UTIs) dentro de hospitais chegam acima de 86dB. Saiba o que deve ser considerado em projetos dessa natureza
Projetos hospitalares devem incorporar medidas para reduzir os níveis de ruído (Foto: Divulgação/Saint-Gobain)
Ruídos em ambientes hospitalares podem causar um grande impacto para o paciente, inclusive atrasando a sua recuperação. A exposição prolongada a eles aumenta a produção de adrenalina e a pressão arterial, além de alterar o ritmo cardíaco, estando relacionados ao maior índice de erros médicos.
O primeiro passo para minimizar esses riscos é adequar o ambiente arquitetônico, incorporando – ainda na fase de projeto – medidas para reduzir esses níveis de ruído e garantir privacidade aos ambientes mais sensíveis. No entanto, há uma série de mitos e verdades que envolvem o tema.
Confira!
Materiais acústicos absorvem microrganismos
Mito
Há uma crença equivocada quanto à absorção sonora e ao comportamento dos materiais em relação à higienização. Hoje, o mercado possui soluções que se adaptam até mesmo a ambientes mais restritos, como os centros cirúrgicos. “Assim, podemos projetar um ambiente adequado a ambas as demandas”, explica Lorena Cédro Simões, líder de projetos de acústica da Audium.
É impossível projetar um hospital totalmente silencioso
Fato
O ambiente sonoro de espaços de saúde é vivo e mutável. O tempo inteiro há entrada e saída de pacientes, médicos, enfermeiros e técnicos, e a comunicação é a chave de um atendimento seguro e de qualidade. Embora seja impossível silenciar esses espaços, é perfeitamente viável projetar um ambiente que promova a melhor comunicação possível, diminuindo a incidência de erros e melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores e pacientes.
Casas de máquinas posicionadas na cobertura eliminam totalmente o impacto do seu ruído no hospital
Mito
Algumas máquinas possuem como característica o ruído de vibração, que pode ser transmitido pela estrutura e ser ouvido em vários pavimentos abaixo. Por isso é preciso que o consultor acústico avalie os equipamentos a serem utilizados e dimensione as devidas soluções, sejam elas barreiras acústicas ou amortecedores. Mesmo que os equipamentos não gerem ruído para o hospital em si, é preciso avaliar com cautela o impacto sonoro nas edificações do entorno.
Todas as áreas do hospital precisam de tratamento acústico
Fato
É preciso avaliar o hospital como um todo e identificar os ambientes que exigem maior privacidade, além da dinâmica de funcionamento, para propor as soluções acústicas adequadas. Essa análise completa é necessária para identificar quais ambientes estão adjacentes e localizados nos pavimentos acima e abaixo, uma vez que o som pode se propagar e se tornar incômodo. Vale ressaltar, entretanto, que nem todos os ambientes vão exigir materiais absorventes ou paredes isolantes. O trabalho do consultor acústico é saber identificar a demanda e garantir o atendimento das normas.
Tratamento acústico é investimento, não gasto!
Fato
Incorporar o tratamento acústico é valorizar o ambiente proposto pela arquitetura, trazendo o foco para o bem-estar do usuárioLorena Cédro Simões
Tudo aquilo que agrega qualidade ao espaço construído e traz mais conforto ao usuário deve ser visto como um investimento. “O corpo humano capta tudo o que acontece ao nosso redor por meio dos cinco sentidos, mas muitas vezes valorizamos mais a visão. É importante lembrar e projetar também para os outros sentidos. Pensar nos ruídos que irão existir quando o ambiente estiver sendo utilizado”, explica Lorena. A arquiteta lembra que para alcançar esse resultado é preciso compreender que há um valor agregado. “Incorporar o tratamento acústico é valorizar o ambiente proposto pela arquitetura, trazendo o foco para o bem-estar do usuário”, complementa.
O tratamento acústico colabora para um menor tempo de internação dos pacientes (Foto: Divulgação/Saint-Gobain)
O tratamento acústico pode contribuir para a recuperação dos doentes
Fato
O corpo humano reage ao ruído. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a partir de 56dB já temos início ao estresse auditivo. Alguns estudos registram, no entanto, até 90dB em UTIs. Os efeitos negativos do ruído podem ser de curto ou longo prazo, incluindo distúrbios gástricos, cardíacos, irritação permanente, fadiga e diminuição da resistência imunológica. Ao reduzir os níveis de ruído, os pacientes apresentam melhor qualidade de sono, fundamental para a recuperação. “Quando controlamos o ambiente sonoro, permitimos o descanso do paciente e reduzimos os níveis de estresse, contribuindo para um menor tempo de internação”, explica Lorena.
A escolha de materiais define a qualidade do projeto
Fato
Os produtos devem ter bons índices de absorção sonora e isolamento acústico e, ao mesmo tempo, características que permitem limpeza regular sem perda de desempenhoFernando Alcoragi
Para alcançar o tempo de reverberação adequado, o ideal é usar materiais absorventes que sejam adequados para áreas hospitalares. “Os produtos devem ter bons índices de absorção sonora e isolamento acústico e, ao mesmo tempo, características que permitem limpeza regular sem perda de desempenho”, conta o arquiteto Fernando Alcoragi.
No projeto acústico, calcula-se o tipo e a quantidade de material em metros quadrados, sempre em função do uso e volume de cada ambiente, de modo a atender as normas referentes à acústica e higiene. Além dos materiais acústicos, a própria escolha do mobiliário deve se adequar aos ambientes. Pisos como porcelanato e lixeiras ruidosas devem ser excluídos, bem como macas e outros mobiliários que possuam rodízios metálicos, por exemplo.
Basta um bom projeto acústico para eliminar os ruídos
Mito
Há muitos artigos que registram a existência de hospitais por todo o mundo com níveis de ruído superiores ao recomendado, sendo considerados ambientes nocivos à saúde dos funcionários e pacientes. Para Lorena, esse é um tópico que merece reflexão, já que envolve não apenas acústica e arquitetura, mas também a compreensão da evolução tecnológica de equipamentos, como alarmes e bipes. “Isso inclui, também, a conscientização da equipe de funcionários com relação ao uso desses equipamentos”, conclui.
Os produtos e materiais existentes no mercado são satisfatórios
Fato
O mercado oferta materiais de excelente desempenho acústico que atendem, também, às exigências sanitárias e que podem ser utilizados em áreas administrativas, recepções e centros cirúrgicos.
Dois exemplos são o Hygiene Performance – forro acústico que suporta limpezas regulares (como lavagem a vapor e pressão) e é resistente a detergentes e desinfetantes comuns – e o forro mineral Humancare – ideal para salas limpas.
Esses produtos são fornecidos pela Ecophon e Owa (empresas do grupo Saint-Gobain e que são referências em isolamento térmico e acústico), respectivamente, e atendem satisfatoriamente às rigorosas normas hospitalares e de salas limpas.
Colaboração técnica
- Fernando Alcoragi – arquiteto.
- Lorena Cédro Simões – arquiteta e urbanista, líder de projetos de acústica.