Conhecer as características do solo é primordial para construir sobre areia
Além de ensaios de campo, amostras devem ser enviadas para ensaios de laboratório, a fim de caracterizar cada camada e descobrir se o terreno tem mesmo o comportamento de areia
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Escavadeiras e tratores trabalham sobre solo arenoso (Baloncici/shutterstock.com)
Embora construir sobre areia seja algo plenamente possível, alguns cuidados precisam ser tomados, de preferência supervisionados por um profissional geotécnico.
Uma das mais importantes fases preliminares em qualquer tipo de construção é a investigação sobre as características do terreno. Para projetar as fundações, por exemplo, a providência inicial é a realização de ensaios de campo para identificar as camadas que formam o perfil geotécnico
“Outra recomendação para construções sobre areia é encaminhar algumas amostras do solo para ensaios de laboratório, com o objetivo de melhor caracterizar o material de cada camada”, fala Celso Nogueira Corrêa, presidente do Núcleo São Paulo da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (NRSP - ABMS).
O profissional ressalta a importância de se conhecer as particularidades de cada camada do solo, como índices físicos, caracterização e resistência. Nessa fase, é possível identificar se o terreno é arenoso ou não. A análise determinante para essa finalidade é a granulometria em laboratório. Entretanto, na prática, o teste mais realizado é o de campo, do tipo Standard Penetration Test (SPT), com uma análise tátil-visual do sondador.
É normal encontrar solos arenosos com porções de silte e argila. Por isso, é preciso analisar se o terreno aparentemente arenoso tem mesmo o comportamento de areiaCelso Nogueira Corrêa
O resultado obtido no ensaio de SPT varia desde SPT≤4, que indica que a areia é fofa e tem baixa capacidade de suporte, até SPT≥40, para areia classificada como muito compacta e com grande capacidade de suporte. Após confirmação de que o solo é arenoso, o projetista define se a fundação será apoiada na camada de areia ou se apenas irá atravessá-la.
O passo seguinte é determinar quais os cuidados e procedimentos de execução da fundação e também de escavação dos subsolos e suas contenções, se for o caso. “É normal encontrar solos arenosos com porções de silte e argila. Por isso, é preciso analisar se o terreno aparentemente arenoso tem mesmo o comportamento de areia”, recomenda Corrêa. Outra avaliação importante é a verificação do nível do lençol freático que, em algumas situações, terá de ser rebaixado.
FUNDAÇÃO EM SOLO ARENOSO
Uma das características marcantes da areia é sua coesão baixa ou nula. “Essa propriedade é responsável pela ligação entre as partículas do solo, ou seja, sem coesão o material fica mais suscetível a erosões”, explica o engenheiro. Conhecer essa propriedade do solo é importante quando se torna necessário realizar uma escavação a céu aberto na areia ou a escavação de um talude, mesmo que provisório.
A maioria das alternativas de fundação é passível de ser projetada em solo arenoso. As opções não indicadas são poucas, como as estacas escavadas a céu aberto sem fluido estabilizante em areia com nível de lençol freático elevado, assim como os tubulões a céu aberto nas mesmas condições.
O solo arenoso também não limita quanto ao uso de materiais, ou seja, a fundação pode ser de concreto armado moldado in loco, pré-moldado no caso de estacas pré-fabricadas ou de aço (estacas metálicas). “Não é necessário nenhum tipo de tratamento especial, mesmo quando o terreno com areia está em áreas litorâneas. Depois que o aço está inserido no solo e abaixo do lençol freático a corrosão é mínima”, afirma Corrêa.
A norma técnica de fundações (ABNT NBR 6122/2010) orienta que, no dimensionamento de estacas metálicas, a área e o perímetro sejam minorados em valores, que dependem da região e do tipo de substância que podem atacar o aço (espessura de sacrifício).
Todo caso necessita de um estudo específico realizado por profissional geotécnico, que seja comprovadamente reconhecido e experienteCelso Nogueira Corrêa
CADA CASO É UM CASO
Por ser assunto complexo e que envolve análises específicas para cada cenário, não é possível criar regras sobre como construir em terrenos arenosos. “Todo caso necessita de um estudo específico realizado por profissional geotécnico, que seja comprovadamente reconhecido e experiente”, finaliza Corrêa.
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Colaboração técnica
- Celso Nogueira Corrêa – Engenheiro Civil formado pela Escola de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado. Tem cursos de especialização para obtenção de mestrado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e curso de atualização do PECE – Programa de Educação Continuada da USP. Desde 1988, é engenheiro na ZF Engenheiros Associados. Atualmente, é presidente do Núcleo São Paulo da ABMS. É membro associado do DFI – Deep Foundation Institute.