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Construsummit 2024: Zeina Latif indica tendência positiva para construção

A consultora econômica vê boas perspectivas, mas aponta a necessidade de avanços jurídicos, aumento de produtividade e formação da mão de obra. Confira!

Publicado em: 05/09/2024

Texto: Redação AECweb

(Foto: Agência J.Somensi )

(Foto: Agência J.Somensi )

A palestra "Perspectivas Econômicas para o Brasil 2024 / 2026", de Zeina Latif, consultora econômica, sócia da Gibraltar Consulting e ex-Economista-Chefe da XP, fechou o primeiro dia de Construsummit 2024 e respondeu a principal pergunta do público participante: o que esperar para o mercado da construção? “Eu vejo uma tendência positiva em uma velocidade superior ao PIB. Então todo o atraso que a gente tem da construção em relação ao resto do PIB está diminuindo. E vejo um cenário favorável para o Brasil”, declarou.

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De acordo com a consultora o potencial de crescimento do país está se recuperando e o padrão de volatilidade parece melhor. “A taxa Selic pode subir, mas ela é apenas uma variável. Temos que levar em conta que o mercado consumidor vem se recuperando, o mercado de trabalho mostra um grande dinamismo, a inflação não está na meta, mas não traz muita preocupação para as classes médias. E o crédito está fluindo. Enfim, não temos nenhuma grande notícia, mas temos várias (pequenas) boas notícias. O que nos indica que temos boas perspectivas”, conclui.

Custo da Construção Civil

A questão do déficit habitacional e a inadequação das construções é um ponto de atenção e mostra um retrato heterogêneo do Brasil. Só no Rio Grande do Sul – um estado considerado rico – 45% das casas têm cobertura ou piso inadequado, ou ausência de banheiro de uso exclusivo. Em Minas Gerais a taxa cai para 7%, mas no Amazonas chega a 54,75%.

Ou seja, existe uma demanda reprimida muito grande para o mercado da Construção. Mas o custo é alto. “Temos uma parcela da sociedade que gostaria de ter moradia, ou moradia de mais qualidade, mas não consegue porque o custo é muito alto. É uma agenda que é muito importante ser abraçada. Não é a Selic, mas são fatores estruturais que tiram a eficiência e a produtividade do setor e encarecem a construção. Por isso são necessários avanços em marcos jurídicos para reduzir o custo da construção”, pondera.

Reformas

Nos últimos anos a agenda de reformas estruturais foi retomada – o que na visão da economista é muito positivo. Foram várias reformas aprovadas nos últimos anos, mas ela destacou as duas reformas trabalhistas de 2017, que trazem a flexibilização da CTL e da terceirização. “A geração de vagas tem surpreendido e o padrão está diferente do passado. Inclusive com emprego formalizado. As flexibilizações permitiram maiores ganhos de produtividade na economia que, aos poucos, vai ganhando musculatura”, destaca.

Zeina Latif durante palestra no Construsummit 2024(Foto: Agência J.Somensi)

Para Zeina é fato que o aumento dos benefícios tais como previdência e seguridade social tem crescido muito, mas a dinâmica do mercado de trabalho tem gerado um comportamento bastante benigno da massa de renda da economia. “Tem muita transferência de renda, mas tem dinâmica muito mais favorável no mercado de trabalho, que é fruto dessas várias reformas que demoram para se materializar. Por isso eu digo que vale a pena fazer reformas”, declara.

A economista afirma ainda que a reforma tributária pode ajudar a reduzir distorções nos métodos construtivos e, potencialmente, reduzir custos adiante. “Podemos ter um sistema tributário mais racional que gera melhor alocação de recursos e tratamento isonômico para métodos construtivos sem penalizar estrutura metálica por exemplo”.

Mão de obra

Um dos gargalos da construção civil que demanda investimentos é a formação de mão de obra. “É urgente a agenda de incorporar mais pessoas nesse mercado de trabalho e investir na formação delas”, destaca.

Há um grande desafio do Brasil, do ponto de vista da qualidade da nossa mão de obra e do potencial de crescimento. “A taxa de investimento do Brasil é muito baixa se comparada a países da América Latina. Temos cerca de 16% a 17%, quando a América Latina tem patamares acima de 20%, 23%. Precisamos aumentar o investimento”.

Outra questão apontada por Zeina é o preconceito que temos aqui no Brasil com funcionários da construção e o trabalho manual.

Zeina Latif durante palestra no Construsummit 2024(Foto: Agência J.Somensi)

Custo Brasil e produtividade

O Brasil tem um problema muito sério de gestão e de baixa produtividade. Um ambiente de negócios difícil, mão de obra despreparada, infraestrutura de baixa qualidade – ou seja, vários elementos chamados de Custo Brasil. As empresas precisam lidar com o custo brasil, com a insegurança jurídica, com o ambiente de negócios e deixam de cuidar do seu negócio. “As nossas empresas são pouco produtivas inclusive na comparação com países vizinhos e emergentes. No Brasil a mão de obra produz só 25% do que o trabalhador norte-americano produz. A necessidade de ganho de eficiência é uma questão de sobrevivência”, considera.

Expectativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que em 2042 a população comece a encolher – o que torna ainda mais urgente a necessidade de acelerar os ganhos de produtividade para compensar a transição demográfica que está sendo bem rápida. “A velocidade de pessoas entrando no mercado de trabalho é inferior à de pessoas saindo por aposentadoria. O que aumenta ainda mais a necessidade de ganhar produtividade”.