Contra crise, indústria da construção investe em longo prazo
Fabricantes e fornecedores da construção civil traçam estratégias para a retomada do mercado, entre elas: ampliação de unidades fabris e exportação de produtos
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Em meio à crise econômica de 2015, configurada principalmente pela alta do dólar e da inflação, a indústria mantém os investimentos no Brasil. A aposta é que o país se adapte de forma favorável ao atual cenário e proporcione mais crescimento às empresas.
A principal estratégia das companhias consiste em investir em longo prazo, ampliar unidades fabris, incorporar novas marcas e exportar produtos. Algumas anunciaram crescimento em vendas nesse primeiro trimestre de 2015.
No mês de abril, segundo levantamento de associações, institutos e sindicatos, a venda de material de construção permaneceu estável em relação à 2014. No mesmo mês, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE) apontou que a confiança no setor avançou.
AUMENTO DE PRODUÇÃO
A Votorantim Cimentos, que atua no segmento de materiais de construção desde 1933, anunciou novo pacote de investimentos em longo prazo, que vai de 2015 a 2018. Serão R$ 5 bilhões em novos aportes, além da ampliação e modernização de unidades já existentes.
Nossa disciplina e solidez financeira permite que continuemos investindo para estarmos prontos para a retomada do mercadoWalter Dissinger
A empresa pretende aumentar a capacidade produtiva de cimento em 18% para um novo ciclo de crescimento no país. A prioridade é atender regiões do centro-Norte e do nordeste. Em nota, a Votorantim expressou que acredita na recuperação econômica do Brasil em médio prazo.
“Nós nos preparamos para enfrentar um cenário desafiador e seguimos nossa política de pensar em longo prazo. Nossa disciplina e solidez financeira permite que continuemos investindo para estarmos prontos para a retomada do mercado”, afirma Walter Dissinger, diretor-presidente da empresa.
Buscamos resultados de excelência por meio de melhorias no processo produtivo, ganhos de produtividade, redução de custos e despesas, e foco nos produtos de maior valor agregadoRogério Longoni
AMPLIAÇÃO DE PARQUES FABRIS
Para aprimorar o processo de produção e atender demandas diferenciadas, a Eliane Revestimentos anunciou que vai investir R$ 35 milhões na modernização de seu parque fabril, contemplando também outras áreas da empresa.
Em 2014 a receita bruta teve crescimento de, aproximadamente, 10,5%. A estratégia para os próximos cinco anos é rentabilizar a companhia de forma adequada e investir mais em tecnologia. “Buscamos resultados de excelência por meio de melhorias no processo produtivo, ganhos de produtividade, redução de custos e despesas, e foco nos produtos de maior valor agregado”, esclarece Rogério Longoni, diretor comercial da Eliane Revestimentos.
INVESTIMENTO EM NOVAS MARCAS
O Grupo LEF, que produz e comercializa placas cerâmicas, investiu no lançamento de uma nova marca, a Rox. Com conceito de design democrático, agrega portfólio com mais de 30 produtos fabricados em cerâmica. Além disso, a Rox possui tecnologia Full HD de impressão digital para reproduzir detalhes nas peças de maneira fiel.
Nesse quadrimestre de 2015 não tivemos queda de faturamento, pois as nossas vendas nacionais são bastante pulverizadas e focamos muito no mercado externo, com o qual esperamos atingir a meta de 20% da nossa produçãoClaudio Okoti
Claudio Okoti, diretor executivo do Grupo LEF, diz que espera melhorar a participação da empresa no setor. “Devido à distribuição no mercado em que atuamos, planejamos o lançamento de mais uma marca visando melhor penetração nos pontos de venda onde não temos boa participação”, explica.
Apesar de identificar a inflação, a taxa de juros e a variação cambial como ameaças econômicas, as demandas do grupo permaneceram estáveis. “Nesse quadrimestre de 2015 não tivemos queda de faturamento, pois as nossas vendas nacionais são bastante pulverizadas e focamos muito no mercado externo, com o qual esperamos atingir a meta de 20% da nossa produção”, informa Okoti.
OPORTUNIDADE PARA EXPORTAR
Para a Steck, fornecedora de materiais elétricos, a alta do dólar prejudica os custos operacionais da companhia, mas favorece as exportações, pois torna o cenário externo mais confortável para execução de estratégias comerciais, e garante mais competitividade aos produtos da marca. A empresa exporta para 14 países dos continentes da América.
No Brasil, segundo Carla Flores, gerente de produto da Steck, a demanda com os setores da Construção, Mineração e Portos caiu. Em meio à estagnação, a empresa pretende seguir investindo em médio e longo prazo. “Com certeza sairemos mais fortes e mais experientes deste momento e ainda mais preparados para a gigante transformação que o país necessita para os próximos anos”, prevê Carla.
MERCADO EMERGENTE ATRATIVO
A Sika, empresa suíça que desenvolve sistemas e produtos para colagem, vedação e reforço estrutural para a Construção Civil, anunciou crescimento de cerca de 10% em vendas nos mercados emergentes no primeiro trimestre de 2015. Apesar do início dinâmico, a moeda forte (franco suíço) causou efeitos negativos no câmbio.
A marca definiu a Estratégia 2018, planejamento em longo prazo que projeta crescimento com percentuais diferenciados para cada país. “Nos mercados emergentes, onde o Brasil está inserido, projeta-se um crescimento entre 42% a 45% até 2018”, declara Emil Fehr, gerente de marketing da Sika.
Com certeza sairemos mais fortes e mais experientes deste momento e ainda mais preparados para a gigante transformação que o país necessita para os próximos anosCarla Flores
Os negócios em argamassa são o elemento central da Estratégia 2018 da Sika, que adquiriu a Lwart Química no início de 2014 para ampliar seu portfólio no segmento de mantas asfálticas. Além da aquisição, a Sika abriu duas novas fábricas para expandir a marca no país — uma em Aparecida de Goiânia (GO) e outra em Cachoeirinha (RS). A ideia é abastecer os mercados das regiões central, norte e sul com logística mais eficaz. No total, são sete fábricas no Brasil.
Colhendo ótimos resultados em países emergentes, a empresa vê o cenário econômico brasileiro de forma otimista. “Presente no Brasil há mais de 80 anos, a Sika sempre fez investimentos aqui e acredita que ainda existem grandes possibilidades de expansão para a empresa nos seus sete Target Markets”, discursa Fehr.
VENDAS DE MATERIAIS ESTÁVEIS
Estudo feito pelo Instituto de Pesquisa da Universidade Anamaco, com apoio da Abrafati, Instituto Crisotila Brasil, Anfacer, Afeal e Simfesp revelou que, em comparação com o mês de abril do ano passado, as vendas de material de construção em 2015 se mantiveram estáveis. No primeiro quadrimestre do ano, as vendas apresentaram índice superior a 3% em relação ao mesmo período do ano passado.
Nos mercados emergentes, onde o Brasil está inserido, projeta-se um crescimento entre 42% a 45% até 2018Emil Fehr
Apesar do avanço, houve retração de 9% em relação a março de 2015 com estabelecimentos de todos os portes e em todas as regiões. Entre os segmentos, o cimento apresentou maior queda (- 6%), enquanto os revestimentos cerâmicos cresceram 4%.
Ainda de acordo com o levantamento, apenas 30% dos lojistas entrevistados pretendem fazer novos investimentos nos próximos 12 meses. O pessimismo com relação às ações do governo diminuiu de 57% para 52%. A Anamaco espera crescer 6% sobre 2014, quando o setor bateu recorde histórico de faturamento (R$ 60 bilhões).
CONFIANÇA EM RECUPERAÇÃO
De acordo com o FGV/IBRE, o Índice de Confiança da Construção (ICST) avançou 0,8% entre março e abril, alcançando 76,8 pontos. O resultado configura uma recuperação, pois havia recuado 20,1% nos três primeiros meses de 2015.
A melhora do ICST em abril ocorreu predominantemente nos segmentos ligados às obras de infraestrutura. Segundo o levantamento da FGV/IBRE, as sinalizações dadas pelo governo Federal de uma possível retomada do programa de concessões a partir de maio podem ter influenciado esse avanço.
O Índice de Expectativas (IE-CST) subiu 3,7% em abril após recuar 7,1% em março. O indicador que mede o grau de otimismo dos empresários em relação à situação dos negócios nos seis meses seguintes variou 5,4%, contra - 8,9% em março, atingindo 95,1 pontos.
OUTROS SEGMENTOSNão é apenas na Construção Civil que as empresas anunciam investimentos. De acordo com blog “O Mundo em Movimento”, a Nissan, fabricante de automóveis japonesa, confirmou investimento de R$ 2,5 bilhões no Brasil. E aumentou o volume vendido em março de 2015 em comparação com o mesmo período do ano passado. Carlos Ghosn, presidente mundial da Nissan, explicou na inauguração da fábrica em 2014 que os investimentos eram de médio e longo prazo e que o Brasil tinha imenso potencial econômico.
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Colaboraram para esta matéria
- Carla Sofia Coutinho Flores – Gerente de produtos da Steck Indústria Elétrica. Portuguesa, é formada em Engenharia Elétrica pelo ISEC (Instituto Superior de Engenharia de Coimbra), Automação Industrial e Sistema de Potência pelo ISEL (Instituto Superior de Engenharia de Lisboa) e Projeto e Integração de sistemas KNX para Automação Residencial pelo Konex Association (Leiria, Portugal).
- Claudio Okoti – Graduado em Administração de Empresas e com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Possui diversos cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Controladoria, Financeira, Agrícola e Industrial. É Diretor executivo do Grupo LEF Cerâmica.
- Emil Fehr – Formado em Administração de Empresas e Arquitetura pela PUC de Campinas, possui MBA em Varejo pela USP, além de experiência profissional internacional na América Latina. É gerente de Marketing da Sika no Brasil.
- Rogerio Longoni de Souza – Diretor comercial da Eliane S/A Revestimentos Cerâmicos. Formado em Direito pela Universidade Vale Rio dos Sinos (UNISINOS – RS), possui especialização em Marketing (Instituto Trevisan – SP) e MBA Gestão Empresarial (Fundação Getúlio Vargas FGV– RS).
- Walter Dissinger – Graduado em Engenharia Industrial pela Universidade de Karlsruhe (Alemanha). Pós-graduado em Finanças pelo Insead (França) e em Negociação e Estratégia pela Harvard Business School (EUA). Trabalhou na BASF entre 1993 e 2013. Na multinacional alemã, foi Presidente Mundial de Nutrition & Health e Vice-Presidente Global da área Performance Chemicals. É diretor presidente global da Votorantim Cimentos desde 2013.