Contratação de empresas beneficiadoras do vidro exige cuidados
Construtoras devem se valer do trabalho de consultores, capazes de analisar se o beneficiador tem condições técnicas de entregar o produto ideal
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A produção industrial do vidro simples, ou float, resulta em chapas de dimensões padronizadas cujos tamanhos vão de 2,20 m x 3,21 m até 3,21 m x 6 m – este maior conhecido como formato jumbo. Num segundo momento, as peças são encaminhadas às processadoras e passam por processo de transformação ou beneficiamento, de acordo com as dimensões e características necessárias para atender às demandas de cada projeto. “Atualmente, há cerca de 500 indústrias beneficiadoras operando no país”, informa o projetista Luiz Aparecido Barbosa, consultor de fachadas, vidros e esquadrias e sócio-fundador da Ci & Lab.
As negociações para compra do produto são realizadas diretamente entre as empresas beneficiadoras e a construtora, a qual assume o papel de consumidor final na cadeia do vidro. O processo de compra precisa ser realizado com o máximo de cuidado, pois existem muitos casos de patologias resultantes da contratação errada do beneficiador. “Geralmente, os responsáveis pela obra não têm know-how para verificar se o processador tem condições técnicas de entregar determinado vidro”, afirma o projetista.
A produção industrial do vidro resulta em chapas de dimensões padronizadas (Akimov Igor/ Shutterstock.com)
De acordo com Barbosa, os fabricantes mantêm trabalho constante de certificação dos transformadores, com o objetivo de garantir que a empresa é qualificada para trabalhar com aquele produto. “Uma dica importante é checar se o transformador tem essa certificação do fabricante”, recomenda o profissional.
Na dúvida, o ideal é estudar o histórico daquele processador. “É sempre interessante averiguar se a empresa já trabalhou e atendeu bem outros projetos com características semelhantes ao que será executado pela construtora”, aconselha Barbosa.
TIPOS DE BENEFICIAMENTO
Existem diversos tipos de beneficiamento, como os empregados para fabricação dos vidros de segurança. É o caso dos laminados, obtidos com a inserção de PVB (polivinil butiral) entre duas ou mais lâminas de vidros. “Quando o laminado se quebra, os cacos ficam presos e não há abertura do vão”, explica o consultor.
Geralmente, os responsáveis pela obra não têm know-how para verificar se o processador tem condições técnicas de entregar determinado vidroLuiz Aparecido Barbosa
Outro processo de tratamento é o térmico, que cria o vidro temperado ou termoendurecido. Nesse caso, são modificadas as tensões do material para que se torne, mecanicamente, até cinco vezes mais resistente do que o vidro comum de mesma espessura.
Recurso ideal para melhorar a eficiência térmica e acústica das fachadas é o uso dos vidros duplos, também chamados de insulados. O beneficiamento parte de duas ou mais chapas de vidros, que podem ser simples ou laminadas, distanciadas por um espaçador que cria uma câmara vedada de espessura variada. Nesse espaçador é aplicado um elemento químico que impede a formação de umidade no interior da câmara.
Já a serigrafia se destaca como beneficiamentos voltado à estética. Nesse processo, é utilizada tinta cerâmica criando imagens sobre o produto. “O vidro é levado ao forno de têmpera para que haja a adesão da tinta, que não deve se desgrudar por nenhum tipo de processo abrasivo”, comenta o projetista.
A etapa de processamento do vidro de controle solar está prestes a ganhar sua própria norma técnica. “O CB-37 da ABNT, responsável pelo desenvolvimento e avaliação das normas técnicas do vidro, enviará o texto para consulta nacional no início de 2017”, lembra Barbosa.
PAPEL DO CONSULTOR
Apesar de ainda pouco demandados, os consultores de vidros vêm sendo requisitados de forma crescente pelas construtoras. A esses profissionais cabe analisar os documentos técnicos que asseguram a competência da empresa beneficiadora para trabalhar com determinado tipo de vidro, bem como realizar uma espécie de auditoria na indústria processadora, aferindo o maquinário e os materiais utilizados.
“Esses profissionais deveriam ser convocados pelos arquitetos na etapa de elaboração do projeto de fachadas, para evitar os tão frequentes impactos negativos”, destaca Barbosa. O consultor pode, ainda, interferir na engenharia de valores, identificando opções financeiramente mais atrativas e que atendam aos critérios de desempenho e de estética do projeto.
ESPECIFICAÇÃO DO VIDRO BENEFICIADO
O projeto das fachadas e esquadrias determina o tipo de beneficiamento do vidro, sua espessura e cor. A premissa levará sempre em consideração o partido arquitetônico e função do vidro, que pode ser de segurança, conforto acústico e/ou conforto térmico.
Depois de instalado, o vidro pode dilatar e retrair devido à variação térmica. Se existir trinca ou fissura na borda, o produto quebraráLuiz Aparecido Barbosa
O primeiro passo na especificação do produto é a análise estética, que inclui os tons do vidro. “Na sequência, o consultor ou o projetista da obra calcula a pressão do vento para determinar a resistência mecânica do vidro frente às cargas. A partir desses valores é possível definir a espessura do material”, diz o profissional.
A altura e posição que o vidro ocupará na fachada também interferem na escolha da solução, já que, dependendo do local, o vidro pode ser comum, temperado ou, conforme determinado por norma técnica, laminado. Uso interessante do vidro serigrafado é nas frentes de laje. “Todo esse pacote de informações precisa ser estudado. Entretanto, muitas obras não realizam o procedimento adequado de especificação”, completa.
NO CANTEIRO
Enquanto ocorre o descarregamento, cabe à equipe de controle da qualidade das construtoras avaliar o produto, verificando as bordas do vidro, que não devem apresentar trincas ou fissuras. “Depois de instalado, o vidro pode dilatar e retrair devido à variação térmica. Se existir trinca ou fissura na borda, o produto quebrará. Esse fenômeno é chamado ‘fratura espontânea’, pois parece que o vidro quebrou sozinho”, explica. É essencial, também, checar se não há manchas, bolhas ou imperfeições. “E observar a borda inferior do vidro, pois é a que mais sofre durante o transporte”, diz o consultor.
Depois que o material foi entregue e o protocolo de recebimento assinado, a responsabilidade passa a ser dos responsáveis pelo canteiro. Grande parte das construtoras contrata seguro para se proteger contra eventuais quebras. Quando elas ocorrem, a seguradora solicita um laudo técnico para avaliar quem foi o responsável, destinando a ele o valor da franquia.
De acordo com a ABNT NBR 7199 – Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações –, os produtos podem ser acomodados sobre cavaletes com grau de inclinação entre 4°a 6°. A norma determina, ainda, a espessura total de vidros por cavalete, para que a primeira peça em contato com a superfície de apoio do cavalete não sofra com o peso extra das demais. Outra recomendação é que o vidro deve ficar coberto e protegido, porém não pode ficar totalmente fechado. “Como o canteiro é muito úmido, a água pode subir em forma de vapor e, se o produto estiver totalmente fechado com lona, a umidade se concentra e começa a escorrer através do vidro, causando manchas”, explica o especialista.
Leia mais:
Vidro estrutural confere transparência e resistência a fachadas
Usar vidro em pisos e escada é seguro e proporciona leveza ao ambiente
Colaboração técnica
- Luiz Aparecido Barbosa – Engenheiro Civil com MBA em Marketing. É projetista de vidros, esquadrias e fachadas. Ocupa o cargo de sócio-proprietário do escritório Ci & Lab.