Destacamento das placas é a principal patologia dos revestimentos cerâmicos
Problema é motivado por falhas no assentamento, pelo preenchimento incompleto do verso das placas e pela argamassa colante aberta há muito tempo
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
O destacamento pode fazer com que os revestimentos deixem de cumprir todas as suas funções de proteção, estanqueidade e estética (Foto: acervo)
Revestimentos cerâmicos também podem ficar “doentes”, ou seja, desenvolver deficiências com o tempo. “A principal patologia que os atinge é o destacamento das placas”. O diagnóstico é da engenheira Fabiana Andrade Ribeiro, diretora da FCH Consultoria e Projetos de Engenharia. Trata-se de uma patologia crítica, sobretudo, quando se trata de revestimento em fachadas, o que atemoriza a todos, tanto pelo risco de acidentes aos transeuntes, quanto pela desvalorização do empreendimento e pelo comprometimento das funções de proteção e estanqueidade do edifício.
“Constato que, na maior parte dos casos, o destacamento ocorre por falhas no assentamento das placas cerâmicas, pelo preenchimento incompleto do verso das placas e também pelo tempo em aberto excedido da argamassa colante”, ressalta a engenheira.
Destacamento devido a falhas no assentamento: preenchimento incompleto do verso da placa (Foto: acervo)
Destacamento típico de “tempo em aberto” da argamassa colante vencida (Foto: acervo)
As causas não param por aí. Patologias de revestimentos cerâmicos como o destacamento podem ocorrer devido à movimentação excessiva do edifício; à expansão das placas cerâmicas; ao erro na especificação de argamassa colante ou na sua mistura, com uso de água em excesso. A engenheira menciona, ainda, o emboço com baixa resistência superficial e com material pulverulento em sua superfície; uso de rejunte rígido; além de falta de juntas de movimentação ou posicionamento inadequado. “São muitas as causas, que podem ocorrer isolada ou conjuntamente”, resume. O destacamento também pode ocorrer em pisos e paredes internas, o que incomoda bastante os usuários, além de fazer com que os revestimentos deixem de cumprir todas as suas funções de proteção, estanqueidade e estética.
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OUTRAS DEFICIÊNCIAS
Areia sobre piso cerâmico durante a obra: grande
possibilidade de riscos precoces em piso ainda não
utilizado pelo consumidor final (Foto: acervo)
Riscos e desgaste em pisos, manchamentos nas superfícies, eflorescências e gretamento representam, ainda, outras patologias, muitas vezes com danos irreparáveis.
Os riscos em pisos são muito comuns e se diferem do desgaste por abrasão. Os riscos ocorrem quando há presença de agentes com dureza maior que o piso utilizado. Em grande parte das vezes, a areia presente na obra já faz com que o produto cerâmico sofra precocemente desse defeito, antes mesmo do seu uso pelo consumidor final.
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“Embora sejam dois tipos de patologias muito confundidas e até mesmo associadas, os riscos e o desgaste por abrasão decorrem da especificação incorreta do revestimento cerâmico em pisos, e ao excesso de areia e material abrasivo durante a obra”, alerta a consultora.
Os manchamentos por ataque químico são comuns e ocorrem pelo uso incorreto de ácido durante a limpeza de pisos, seja logo após a obra, seja durante o seu uso. O ácido danifica permanentemente o esmalte das placas e a única possibilidade de reparo neste caso é a substituição do piso.
Superfície esmaltada de placa cerâmica gretada
(Foto: acervo)
Já o gretamento ocorre pela dilatação diferencial entre o esmalte e o biscoito da placa cerâmica. É um dano também irreparável e pode retratar algum problema na fabricação. Peças com esse tipo de patologia de revestimento cerâmico podem ser rejeitadas pelo consumidor.
O desempenho em piso, parede e fachadas varia de acordo com a região da obra. “No litoral, por exemplo, temos demandas muito diferentes, e os revestimentos cerâmicos terão funções mais importantes ainda no desempenho da edificação”, observa.
Por tudo isso, é importante que o projeto apresente especificações adequadas para cada situação. Mas não basta a especificação correta das placas cerâmicas. Esse detalhamento deve alcançar a argamassa colante para cada caso. “Podemos ter a melhor argamassa do mundo, mas se a mão de obra não utilizá-la corretamente, seguindo também o rigor no assentamento das placas, é possível que não se alcance o resultado e o desempenho esperados. Pode acontecer até mesmo de se perder todo o serviço”, lamenta a especialista, recomendando o treinamento da mão de obra no início dos serviços. É indispensável a fiscalização diária da forma de mistura da argamassa e do tempo em aberto, assim como a retirada de algumas peças para verificação do preenchimento do verso.
Podemos ter a melhor argamassa do mundo, mas se a mão de obra não utilizá-la corretamente, seguindo também o rigor no assentamento das placas, é possível que não se alcance o resultado e o desempenho esperados. Pode acontecer até mesmo de se perder todo o serviçoFabiana Andrade Ribeiro
VIA SECA, VIA ÚMIDA
A engenheira Fabiana Ribeiro explica que a indústria de revestimento cerâmico adota dois processos produtivos na fase de mistura das matérias-primas, identificados como via seca e via úmida.
No processo por via úmida, os materiais são dosados, e é adicionada água à mistura. É um pouco mais complexo, pois a massa pode ser composta por meio da mistura de diferentes tipos de argilas que, adicionadas à água, formarão uma massa mais fina e uniforme quando comparada à massa obtida por meio do processo de via seca. Nesse segundo processo, a seleção das matérias-primas busca dar cor branca ou clara à massa das placas (biscoito ou suporte).
No processo por via seca, a matéria-prima é essencialmente a argila e não é utilizada água na mistura. No Brasil, são utilizadas massas constituídas por argilas vermelhas, com partículas mais grosseiras do que nas massas preparadas por via úmida. Como vantagens desse processo destacam-se os menores custos energéticos e o menor impacto ambiental das instalações industriais.
“A indústria cerâmica brasileira segue rigorosamente as normas técnicas, é uma indústria séria que se destaca internacionalmente pela qualidade e rigor técnico. E a indústria de argamassa também não fica atrás. O que percebo negativamente, em determinados casos, são deficiências na área comercial dessas empresas, que nem sempre auxilia corretamente arquitetos nas especificações. Neste sentido, há o que se crescer, também visando à redução de patologias”, conclui a especialista.
DESCOLAMENTO PREOCUPA CONSTRUTORESO descolamento de peças cerâmicas, ocorrido em obras nos estados da Bahia, do Paraná, do Rio de Janeiro e de São Paulo, mobiliza o SindusCon-SP. A seu pedido, a Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) realiza pesquisa para identificar as causas e apontar soluções técnicas.
Paralelamente, um grupo de trabalho (GT) estuda o problema sob a coordenação do sindicato da construção em parceria com a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Cimento (Sinaprocim) e o Sindicato da Indústria de Produtos de Cimento do Estado de São Paulo (Sinprocim).
O problema acaba aparecendo depois que as obras estão entregues, o que gera um desgaste e torna difícil trabalhar com o morador no apartamentoJorge BatlouniO SindusCon-SP já verificou que o problema se concentra nas cerâmicas produzidas no sistema via seca – segundo a Anfacer, 70% das cerâmicas do mercado são produzidas dessa forma. Devido aos seguidos e custosos problemas, alguns representantes das empresas abandonaram a tecnologia via seca, migrando para via úmida.
Segundo o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, Jorge Batlouni, pelo menos um terço das empresas integrantes do CTQ enfrentam a patologia de revestimentos cerâmicos. “O problema acaba aparecendo depois que as obras estão entregues. Isso gera um desgaste e torna difícil trabalhar com o morador no apartamento. Queremos achar um caminho para essa questão”.
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Colaboração técnica
- Fabiana Andrade Ribeiro – Engenheira Civil, mestre pela Escola Politécnica (POLI) da Universidade de São Paulo (USP). Sócia-diretora na empresa FCH Consultoria e Projetos de Engenharia. Coordenou e é responsável por projetos de alvenaria de vedação e revestimentos de fachadas de mais de 40 shopping centers em todo país nos últimos anos, além de condomínios residenciais e edifícios coorporativos. Atua também em diversas construtoras como consultora para diagnóstico e tratamento de patologias em revestimentos. Atualmente é professora no curso Gestão e Tecnologia de Sistemas Construtivos de Edificações da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É autora do livro Juntas de Movimentação em Revestimentos Cerâmicos de Fachadas (Editora Pini, 2010).