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Dicas para projetar discotecas

Acústica, iluminação e segurança contra incêndio são fatores cruciais na arquitetura desses espaços

Publicado em: 15/07/2016

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Casa noturna em Smolensk, Russia (glazok90/shutterstock.com)

Elaborar o projeto arquitetônico de uma casa noturna ou adequar um ambiente já construído para abrigar o empreendimento são trabalhos que requerem a participação de uma equipe multidisciplinar, constituída, entre outros, por arquitetos, cenógrafos e light designers. A sinergia entre todos os membros do time facilita a criação da discoteca ideal, aquela onde pista, camarote, bares e demais ambientes formam um conjunto único e seguem um mesmo conceito.

“É como uma orquestra, em que a função de cada integrante influencia consideravelmente o resultado final. Não adianta concentrar toda a atenção na pista de dança e se esquecer do bar, pois se o conjunto não for bom e não se comportar adequadamente, a boate não se torna funcional”, destaca a arquiteta Mila Strauss, titular do escritório MM18 Arquitetura e Interiores.

LUZ E SOM

Para Strauss, tanto a luz quanto o som são fatores que interferem no bom funcionamento da casa noturna. É comum a participação de consultores de acústica no projeto. Os ruídos devem ser estancados através de barreiras físicas, para não incomodar os ocupantes dos imóveis do entorno ou atrapalhar o funcionamento de outros ambientes internos.

Uma das soluções para isolar os ruídos são as paredes executadas em blocos de concreto com areia em seu miolo
Mila Strauss

“Uma das soluções são as paredes executadas em blocos de concreto com areia em seu miolo”, menciona a arquiteta, lembrando que outra opção é o drywall com proteção acústica de lã de rocha. Já nos ambientes internos, o som pode ser controlado através de forro acústico ou lã de PET, materiais que absorvem o ruído e evitam reverberações.

A iluminação está diretamente relacionada ao conceito do ambiente, com a função de destacar os detalhes arquitetônicos e criar a imersão dos visitantes no tema proposto pela discoteca. “Em nosso projeto para o Club Yacht – casa noturna construída em um antigo galpão de estacionamento, em São Paulo –, a premissa era não usar LED e sim lâmpadas incandescentes, pois a casa noturna segue estilo dos anos 70. Como esse tipo não é mais fabricado no país, desde 2014, as luzes usadas na pista de dança foram todas compradas em brechós”, exemplifica Strauss.

A especificação de materiais deve ser criteriosa para garantir a qualidade do projeto e proporcionar segurança, evitando o uso de elementos inflamáveis e prevendo itens para a sinalização de emergência.

SEGURANÇA É QUESTÃO PRIORITÁRIA

No Brasil, os requisitos de segurança contra incêndio nas edificações são, normalmente, estabelecidos em âmbito estadual. “Há também o regulamento do Corpo de Bombeiros que detalha, entre diversos aspectos, a necessidade de luzes de segurança, extintores e rotas de fuga”, afirma a arquiteta.

Há também o regulamento do Corpo de Bombeiros que detalha, entre diversos aspectos, a necessidade de luzes de segurança, extintores e rotas de fuga
Mila Strauss

A definição da quantidade e distribuição das saídas de emergência leva em consideração a lotação máxima do ambiente, assim como todo o sistema de sinalização para orientação do abandono. A capacidade é calculada de acordo com a máxima densidade típica admitida (pessoas/m² ou m²/pessoa), estabelecida pelas regulamentações de segurança contra incêndio para os diferentes locais de reunião de público, ou, em caso de assentos fixos, pelo número de cadeiras. Devem ser seguidas, também, as normas técnicas da ABNT, como a NBR 9077 - Saídas de emergência em edifícios.

Depois de executado o projeto, a discoteca ainda passa por diferentes testes antes de começar a funcionar. Primeiro, são realizados ensaios de som e luz, além de experiências nas cozinhas e bares. Os pontos de rede, que permitem o funcionamento das máquinas de cartão de crédito, também merecem atenção nessa etapa. “Superada a etapa dos testes preliminares, a casa noturna funciona de maneira experimental por cerca de duas semanas antes da inauguração oficial”, diz.

A ESCOLHA DO PISO

O tipo de piso indicado para as danceterias depende bastante se a edificação será nova ou preexistente. “Quando se trata de reformas, procuramos manter o material original, que costuma ser de cimento ou taco de madeira. Nos novos empreendimentos, a solução ideal é o piso de cimento. Alternativas prontas, como porcelanato, não são indicadas, assim como aquelas que simulam a aparência de matéria-prima bruta”, detalha a arquiteta.

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Colaboração técnica

Mila Strauss – Arquiteta formada em 2002 pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e com máster, em 2003, pela Universidade Politécnica da Catalunha, de Barcelona. Acumula experiências em escritórios brasileiros e no exterior, onde trabalhou em Berlim (Tzvi Hecker) e Barcelona (Enric Miralles y Benedetta Tagliabue). Ao lado do também arquiteto Marcos Paulo Caldeira, fundou o escritório MM18 Arquitetura e Interiores.