Dicas para projetar e decorar casas de praia. Confira!
Muitos materiais têm sua vida útil reduzida quando expostos à maresia e à umidade. Assim, é fundamental conhecer alternativas ou opções de tratamento, como os vernizes no caso da madeira
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Em casas de praia, o porcelanato é o material mais especificado para o piso, por ser resistente e não riscar com a areia (Crédito: Renato Elkis)
Maresia, vento e sol têm ação sobre muitos materiais construtivos, que devem ser evitados ou especificados de maneira adequada para casas e apartamentos no litoral. É o caso do aço. Segundo a arquiteta Selma Tammaro, titular do escritório Tammaro Arquitetura, o aço inoxidável empregado em portões ou gradis deve ser o 316. Outra solução é o aço patinável, conhecido também pela marca Corten. Ambos apresentam resistência superior à corrosão.
“Dependendo do tratamento exigido por outros tipos de aço, o valor sobe, o que torna favorável o custo-benefício do inox. É um aço nobre, de excelente aparência estética”, comenta. Entre os metais, o alumínio é ideal para uso no litoral. Caixilharia de PVC também é uma solução bem-vinda, pois não sofre qualquer tipo de dano nesse ambiente.
Tomando os cuidados corretos, nada é proibido, e é preciso que o cliente entenda qual trabalho preventivo deve ser feito, qual o custo e quais as alternativasJoão Frederico Pareto Conrado e Gabriel Novaes Ceravolo
Para os arquitetos João Frederico Pareto Conrado e Gabriel Novaes Ceravolo, sócios no escritório Conrado Ceravolo Arquitetos, nenhum material deve ser evitado em obras no litoral, mas todos devem ser aplicados da forma correta. “Por exemplo, as estruturas metálicas precisam receber pinturas de alto desempenho, e o concreto tem que ser feito com aditivos inibidores de corrosão, além de maior recobrimento para evitar a exposição do aço. Tomando os cuidados corretos, nada é proibido, e é preciso que o cliente entenda qual trabalho preventivo deve ser feito, qual o custo e quais as alternativas”, defendem.
Para proteger a madeira, os arquitetos lembram que o ideal é não expor excessivamente ao sol as esquadrias e painéis feitos com esse material. Beirais amplos, brises, terraços e uma boa orientação do projeto com relação à insolação podem ajudar bastante nesses casos. Além disso, deve-se empregar vernizes e tintas de boa qualidade, disponíveis no mercado, que protegem mais as madeiras da exposição à maresia e às intempéries.
“Normalmente, adotamos dois caminhos quando usamos madeira em decks e pergolados: o primeiro é fazer a manutenção com determinada frequência, lixando e reaplicando o verniz de proteção; ou decidir que não terá verniz nenhum e que a madeira assumiria um aspecto natural acinzentado – o que pode ficar muito interessante”, sugere Conrado.
O telhado é outro elemento construtivo sensível ao sol e à chuva e, portanto, requer alguns cuidados. Ceravolo recomenda respeitar as indicações de inclinação, sistemas de fixação e instalação. E, sempre que possível, usar mantas de subcobertura para evitar eventuais vazamentos. “No caso de lajes planas, quando o projeto pedir uma solução mais contemporânea, utilizar telhas de inclinação menor sobre a manta, ou alguma proteção para que o concreto não fique exposto demais à insolação forte e a chuvas frequentes que podem causar trincas”, diz ele.
Revestimento
A opção de Selma Tammaro para o revestimento de piso de áreas externas, inclusive de piscina, são aqueles com propriedades antiderrapantes, para evitar queda. Conrado faz escolha semelhante, indicando pedras naturais, pisos cimentícios ou porcelanatos de cor mais clara, já que os escuros esquentam muito e podem queimar os pés. O mesmo ocorre com os decks que, de acordo com Tammaro, devem levar madeira em tons mais claros.
“Para revestir paredes das fachadas, recomendamos o que a criatividade do arquiteto preferir, desde materiais como pedras, concreto e madeira maciça até vidro. O grande cuidado é evitar texturas que retêm água e podem mofar ou manchar, e tintas que formam uma película e não deixam a parede respirar, pois, com o tempo, a parede tende a descascar”, ensina Conrado. Não há restrições, segundo ele, para a construção de piscinas no litoral. Mas elas devem ser executadas por profissionais competentes e habilitados. “É preciso, sempre, que seja realizada antes uma sondagem e um projeto estrutural”, diz.
Internamente, o porcelanato é o mais especificado pela arquiteta para o piso, por ser resistente e não riscar com a areia. Ou, ainda, pedras e ladrilho hidráulico. “Enquanto o piso laminado é desaconselhável, pois vai estragar em pouquíssimo tempo em decorrência da umidade, o de madeira pode ser usado nos dormitórios”, afirma Tammaro, que desaconselha esse material para aplicação no living, local de grande circulação de pessoas, muitas vezes, molhadas. Além disso, a faxina das áreas sociais, geralmente feita depois do verão, lava o piso com muita água para eliminar a areia que entra nos trilhos das portas e sob os móveis. “E madeira e água não convivem bem”, observa ela.
Na opinião dos arquitetos, é melhor evitar piso de madeira – tacos e assoalhos – em casas de praia. “Com o excesso de umidade, o material tende a estufar e subir”, fala Ceravolo, que indica, inclusive, o uso dos mesmos pisos do exterior nas áreas internas, mas que não precisam ser antiderrapantes.
“Carpete é proibido, porque mofa. Se for de material sintético, isto não ocorre. Porém, como o imóvel de praia geralmente é a segunda casa, que fica fechada por meses, acaba gerando fortes odores de umidade”, alerta Tammaro. Da mesma forma, é preciso evitar tapetes de pelo alto, pois retêm areia e umidade. “Indico normalmente os kilins ou os turcos mais rústicos”, diz. Entre os tapetes de fibra natural, as melhores escolhas são os de fibra de bananeira ou de coco, que podem ser lavados. “Jamais uso o de sisal, que mancha com facilidade. A mancha é fruto da umidade e geração de fungos”, observa.
Para quem gosta de papel de parede, o mercado oferece agora produtos vinílicos que podem ser lavados e são adequados ao litoral. Tammaro lembra que existem, inclusive, aqueles destinados às fachadas. “O importante é que a parede esteja bem seca, para evitar seu descolamento futuro”, orienta.
Não há restrições às tintas para paredes. A escolha da arquiteta é pela semibrilho, porque a fosca é de difícil limpeza e mancha com facilidade. Para as portas, ela indica a PU – à base de poliuretano. Porém, é comum especificar portas de vidro para as de entrada e de passagem, pois dispensam manutenção.
Mobiliário
O MDF sólido é o material de melhor desempenho para os armários, ou mesmo a madeira revestida de fórmica. A arquiteta adota uma única marca de tecido de revestimento de sofás, poltronas e cadeiras, tanto de áreas externas quanto internas. “É o Sunbrella, testado pelo fabricante americano nas regiões mais adversas do Planeta e utilizado, também, em capota de barcos. Ele não perde a cor, nem a textura. Tenho, inclusive na área externa da minha casa, há dez anos. E está íntegro”, conta. Mas, é importante que a espuma das almofadas seja antifungo.
Há quem não abra mão de lareira para os dias de frio na casa da praia. Nesse caso, serve o alerta de Tammaro de jamais basear o equipamento em lenha, muito úmida na região. As lareiras da sua preferência são as ecológicas, com combustão biofluido, à base de etanol.
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Colaboração técnica
- Gabriel Novaes Ceravolo – É formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo (2007). Sócio do escritório Conrado Ceravolo Arquitetos, atua nas áreas de criação, desenvolvimento e é responsável pelas áreas de acompanhamento e gerenciamento de obras.
- João Frederico Pareto Conrado – Formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo (1999). Pós-graduado em administração de empresas pela Fundação Armando Alvares Penteado (2008), onde também lecionou “Práticas de Construção Sustentável” como professor especialista entre 2009 e 2011. Sócio do escritório Conrado Ceravolo Arquitetos, atua nas áreas de criação, desenvolvimento e é responsável pelas áreas comercial e de gestão do escritório.
- Selma Tammaro – É graduada em Arquitetura e Urbanismo, tendo vários cursos de extensão nas áreas de Paisagismo, Edificação e Design de Interiores. Após 35 anos de arquitetura e mais de 500 projetos assinados, é reconhecida por seu estilo leve e contemporâneo, pleno de ousadias que fazem da cor uma extensão natural e harmoniosa dos ambientes. Embora sua demanda maior esteja em São Paulo, Tammaro tem no portfólio trabalhos em vários estados brasileiros e também no exterior, como Canadá, Espanha, Portugal e Estados Unidos. É titular do escritório Tammaro Arquitetura.