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Drenagem de estádios mantém gramado seco e saudável

Além de garantir que a chuva não atrapalhe o andamento do jogo, sistema colabora na manutenção da grama

Publicado em: 22/05/2013

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

Contribuir para que o gramado dos estádios de futebol apresente aspecto de tapete e manter a bola rolando com facilidade sob qualquer clima são algumas das funções do sistema de drenagem. Durante dias chuvosos, o escoamento da água permite o desenrolar da partida – evitando a criação de poças no campo – e ainda colabora com a manutenção da saúde das raízes da vegetação.

“Gramado esportivo com tecnologia é uma novidade no Brasil”, afirma o engenheiro agrônomo Artur Jorge Pinto Borges de Melo, consultor especialista em gramados esportivos e irrigação automatizada. “Há pouco tempo os jogos eram disputados em pastos com grama nativa aparada e se usavam máquinas de corte de maneira errada. Um processo arcaico. Nos últimos 20 anos, o padrão tem melhorado cada vez mais, impulsionado por clubes que entenderam que o campo também faz parte do espetáculo”, complementa.

De acordo com o engenheiro, a realização do mundial de seleções em território nacional trará um resultado positivo. “Há quatro anos o metro quadrado do gramado esportivo de alta performance custava entre R$ 100 e R$ 200. Agremiações e construtoras torciam o nariz por achar que se tratava de um gasto excessivo. Atualmente, para adquirir um gramado com nível de Copa do Mundo é necessário investir mais de R$ 600 por metro quadrado, e esse valor é absorvido com certa naturalidade, dado o avanço tecnológico”, informa.

Funcionamento

Melo explica que existem dois modelos distintos de sistema de drenagem: gravitacional e a vácuo. “No mundo, 99% dos estádios utilizam a tecnologia de gramado com gravidade, devido a motivos técnicos e econômicos, já que a solução a vácuo custa de três a quatro vezes mais. Comparando os dois em termos de escoamento, o desempenho é semelhante”, comenta.

Na drenagem gravitacional, o campo funciona como um telhado de quatro águas, onde as laterais têm um desnível, que normalmente não ultrapassa 1% em relação à faixa central do gramado. Sob a grama, há uma faixa com cerca de 60 centímetros de terra ou uma mistura de areia e matéria orgânica. Logo abaixo, é instalada uma porção de areia grossa e uma camada de brita onde são abertas valas e enterrados os tubos drenantes perfurados. Essa tubulação pode ser disposta em diferentes formatos, como espinha de peixe ou linhas retas no sentido de uma lateral à outra. A vala é envolvida por uma manta sintética geotêxtil que auxilia na filtragem e evita o entupimento dos tubos.

“O processo de drenagem a vácuo é exatamente o mesmo. A diferença é que existem bombas que exercem uma pressão negativa e succionam ar e água dos drenos e, pelo menos em tese, tornam o escoamento mais rápido”, diz o engenheiro. Esta solução é mais utilizada em estádios altamente sombreados e úmidos. “Nestas condições, é complicado manter a sobrevivência da vegetação, ainda mais com o pisoteamento durante os jogos. O sistema de drenagem a vácuo permite inflar ar no interior do solo para auxiliar na manutenção do bom estado da grama”, conta.

Na drenagem por gravidade, 100% do material é produzido no Brasil. Já na solução a vácuo, 90% do sistema tem produção nacional e os 10%, que representam basicamente a casa de máquinas, são importados dos Estados Unidos e Europa. Melo lembra, ainda, que a drenagem está diretamente relacionada à sustentabilidade do estádio. “A maioria das arenas construídas a partir de 2004 reutilizam tanto a água da drenagem como a que cai na cobertura para irrigação do campo. A água fica armazenada em cisternas que têm determinado limite. O excedente é encaminhado para as galerias pluviais”, comenta o profissional.

Projeto

O projeto do sistema de drenagem é baseado, principalmente, na climatologia da região. Nas localidades com maiores níveis de precipitação, procura-se trabalhar com drenos mais fundos, aumento da porção de brita e utilização de areia com textura de granulometria mais elevada. Nas regiões menos chuvosas, as precauções são menores. “É preciso bom senso. Dimensionar uma drenagem fantástica e que atenda qualquer situação de chuva em um local com baixo índice pluviométrico é um investimento desnecessário, causando alto custo com irrigação e adubação”, afirma o engenheiro.

Ele também aconselha a sempre levar em consideração o tipo de areia disponível na região. “Dependendo da composição, varia a condutividade hidráulica do solo e, por consequência, é preciso um sistema mais severo. Não adianta ter a melhor drenagem do mundo se a areia não tiver a granulometria correta. Em estádio sombreado ou úmido, este é um fator determinante para a sobrevivência do gramado. Um controle tecnológico das jazidas que produzem a areia garante a homogeneidade. A escolha correta da matéria-prima, juntamente com um bom projeto, é fundamental para uma drenagem de excelente qualidade”, detalha.

ManutenÇÃo

Para manter o sistema funcionando de maneira adequada, é importante realizar a manutenção da condutividade hidráulica do solo. “O próprio uso do campo, através de jogos ou até mesmo o uso de equipamentos de corte da grama, vai provocar uma compactação que começa a diminuir a infiltração de água no solo impossibilitando que ela chegue ao dreno”, explica o engenheiro. Existem processos de descompactação que utilizam maquinários equipados com pinos ou vazadores, responsáveis por manter essa característica do campo.

Outro problema que pode acontecer é o entupimento do dreno. Neste caso, existem caixas de passagem pelo sistema que possibilitam verificar qual a cor da água, se ela estiver muito suja é um sinal de que há algo errado. O processo de desentupimentos é realizado através destas caixas. Na drenagem a vácuo, além destes cuidados, também é preciso ter atenção com as bombas.

Segundo Melo, os shows que acontecem em estádios, atualmente, não representam um risco. “O que acontece é uma compactação da camada arenosa. No caso de uma apresentação musical, em que o palco é montado no gramado, é feita toda preparação do campo e, depois, sua recuperação. Se todo o processo for bem executado, não há problema algum em relação ao sistema de drenagem”, conclui.

COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Artur Jorge Pinto Borges de Melo– Engenheiro agrônomo e consultor especialista em gramados esportivos e irrigação automatizada. Cursou o “Grass Management Course”, pela Amsterdam Arenas, e tem 18 anos de experiência em gramados esportivos (Golf e Futebol). Participou de projetos como: elaboração do projeto executivo para o gramado da Arena de Salvador; consultoria de projeto, construção e manutenção do gramado da Arena da Amazônia; consultoria de execução do gramado da Arena Pernambuco. Para aprimoramento técnico visitou estádios como Camp Nou (Espanha), Giusepe Meazza (Itália), Estádio da Luz (Portugal), Wembley (Inglaterra) e Parque dos Príncipes (França).