Emprego na Construção recua ao nível de 2011
Está prevista queda de até 9,7% dos empregos formais até o final de 2015. Ajuste econômico, 3ª fase do PMCMV e outras medidas podem reverter o quadro
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), o número de empregados na construção caiu 1,26% entre março e abril de 2015. O sindicato também observou que foi a décima quarta retração consecutiva.
Em relação a abril de 2014, a redução de empregos formais configura 9,21%. Com esse resultado, o número de empregados registra encolhimento de 7,89% nos primeiros quatro meses de 2015, totalizando 3,23 milhões — montante que se aproxima ao patamar observado em maio de 2011.
Ainda de acordo com o SindusCon-SP, o número de empregos no país só aumentou nos últimos 12 anos. Em dezembro de 2003, a quantidade de empregados na construção era de 1,22 milhões. O recorde histórico foi atingido em outubro de 2013, com 3,59 milhões. Confira na tabela ao lado.
NENHUMA SUPRESA
O SindusCon-SP prevê queda de 9,7% no total de empregos formais para construção até o final de 2015. Para Celso Deliberato, professor da Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), essa redução não surpreende quando se considera que os dados do IBGE referentes ao ano de 2014 para a Construção indicaram retração de 5% no PIB setorial.
“Ao se constatar este cenário, a previsão de queda de 9,7% no total de empregos formais não é elevada, mas sim justificada pelo resultado negativo ao final de 2014, combinada com inflação em alta e o ajuste do governo federal que gera aperto monetário (aumento das taxas de juros que dificulta e encarece o crédito)”, esclarece.
A previsão de queda de 9,7% no total de empregos formais não é elevada, mas sim justificada pelo resultado negativo ao final de 2014, combinada com inflação em alta e o ajuste do governo federal que gera aperto monetário (aumento das taxas de juros que dificulta e encarece o crédito)Celso Deliberato
PARA CRESCER NOVAMENTE
Segundo Deliberato, as principais fontes que sustentam a atividade da Construção no Brasil são déficit habitacional, déficit de infraestrutura e exploração de novas concessões — rodoviárias, ferroviárias, petrolíferas, energéticas, hídricas etc. Mas para impulsionar a atividade sobre essas fontes é necessário que o governo dê andamento com programas e ações.
“É preciso ajustar a economia e preservar o investimento nas fontes que sustentam a atividade da construção, aperfeiçoando a terceira fase do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), agilizando os processos de licenciamento de empreendimentos com ênfase adicional na área ambiental, viabilizando o ajuste fiscal e entre outros”, cita o professor.
José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP, adota um argumento semelhante para reverter o quadro da queda de empregos formais. “É preciso agilizar novas concessões na infraestrutura, bem como lançar a fase 3 do Programa Minha Casa, Minha Vida”, comenta.
É preciso agilizar novas concessões na infraestrutura, bem como lançar a fase 3 do Programa Minha Casa, Minha VidaJosé Romeu Ferraz Neto
Deliberato também cita que a redução da burocracia e dos custos de investimento também melhorariam o ambiente de negócios. Na mesma linha de raciocínio, Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP, diz que o país precisa aprovar medidas que atraiam os investidores. “É necessário criar mais leis e fazer com que elas funcionem, melhorando a eficiência da máquina pública e desburocratizando processos”, aponta.
Zaidan cita que é necessário rever leis confusas sob interpretações de agentes públicos em diversas instâncias, aumentar o número de licenças e, principalmente, reformular a estrutura tributária. “Por exemplo, com os pré-fabricados é possível fazer 80 pilares em até três dias com eficiência para levantar uma obra. Em vez disso, é feito com concreteiras e fôrmas no canteiro, pois para modular e fabricar em série precisa pagar o IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados)”, contesta.
PREVISÕES PARA 2016
Segundo Deliberato, caso ocorra uma aceleração do programa de concessões e parcerias público-privadas, as previsões para um novo crescimento na Construção, assim como na geração de empregos, torna-se positiva.
É necessário criar mais leis e fazer com que elas funcionem, melhorando a eficiência da máquina pública e desburocratizando processosEduardo Zaidan
“Mesmo assim este resultado ainda estará longe da fase áurea de crescimento do setor, que aconteceu entre 2006 e 2010. Caso o programa de ajustes a ser implementado em 2015 seja bem-sucedido e a economia termine o ano com melhores perspectivas para 2016, o crescimento poderá ser positivo, impulsionado pelas fontes que promovem a sustentação da construção”, conclui.
De acordo com os dados disponíveis até maio de 2015, não é possível apostar em um 2016 muito otimista para a Construção. “Os dados apontam que o ano que vem também não será muito favorável. Mas será difícil o setor registrar taxas negativas de crescimento como a observada em 2014 ou como as projetadas pelo mercado para 2015”, pondera o professor.
DIFICULDADE PARA QUEM CHEGAO cenário atual da Construção no Brasil representa uma dificuldade para quem está ingressando na área devido ao momento de dificuldade que o setor atravessa. Com o aumento do desemprego formal, há menores probabilidades de ocorrer contratações formais.
“Uma vaga a ser preenchida pode surgir quando uma empresa substituir seus trabalhadores mais bem remunerados por outros de remuneração menor. Essa mudança já é sentida pelas empresas de recrutamento e seleção, onde 80% da demanda deste ano têm sido para substituição. Embora não seja algo novo, ela pode se acentuar em momentos de crise, principalmente para os cargos mais altos”, revela Deliberato.
“A perspectiva ainda não é clara. Como consequência, se nada mudar no cenário da Construção, há o risco do mercado ficar mais acirrado”, examina.
Colaboraram para esta matéria
- Celso Deliberato – Professor da Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e mestre no setor da Habitação pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
- Eduardo May Zaidan – Engenheiro Civil com mais de 30 anos de experiência em Construção Civil e no mercado Imobiliário, é vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, diretor de engenharia da RFM Construtora. É pós-graduado em administração de empresas pela EASP FGV e graduado no MBA Executivo em Construção Civil da Escola de Economia da FGV.
- José Romeu Ferraz Neto – É Engenheiro Civil pela Universidade Mackenzie; Administrador de Empresas pela Universidade Mackenzie; MBA pela FGV-SP; Sócio Fundador da RFM Construtora, RFM Incorporadora, Develop Brasil; Presidente do TXAI Resorts; Presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), vice-presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), membro dos Conselhos da Fiabci-Brasil (Federação Internacional das Profissões Imobiliárias, seção Brasil) e da Adit Brasil (Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico).