Energia fotovoltaica vai reduzir gastos com conta de luz
Com a entrada em vigor do sistema de geração domiciliar, a captação da radiação solar para produzir energia deve ser mais utilizada desde prédios a indústrias
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Os projetos de sistemas de energia solar devem evitar áreas sujeitas a sombreamentos (Foto: foxbat/shutterstock)
A procura por sistemas de geração domiciliar de energia fotovoltaica deve crescer a partir de dezembro, quando as operadoras estarão preparadas para receber a energia gerada no domicílio dos consumidores, com a devida compensação na conta mensal, de acordo com a resolução normativa 482 de abril de 2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Na opinião do engenheiro Ruben Agullo, consultor da Effitech - Energias Renováveis -, em algumas regiões do país, a instalação de sistema fotovoltaico é vantajosa mesmo sem compensação, devido ao custo da energia e grande incidência solar.
Com a redução dos custos dos equipamentos e com a entrada em vigor do sistema de geração domiciliar, o mercado de energia solar fotovoltaica deve crescer muito. “Não tenho dúvida de que a tendência é vermos, no futuro, cidades com coberturas cheias de pequenos geradores solares injetando energia na rede elétrica, instalados com medidores de energia inteligentes, monitorados remotamente, facilitando a leitura e manutenção do sistema”, prevê.
A tendência é vermos, no futuro, cidades com coberturas cheias de pequenos geradores solares injetando energia na rede elétricaRuben Agullo
Essa energia permitirá a redução dos custos de transporte e distribuição, existentes devido à geração centralizada das grandes usinas, e poderá ser utilizada para a carga de carros elétricos. Esses conceitos, segundo Agullo, fazem parte da Smart-grid (rede inteligente), onde os sistemas de comunicação, controle, geração e distribuição de energia limpa têm um papel fundamental. “Com algum incentivo do governo, a inclusão massiva dos sistemas solares será uma realidade incontrolável”, afirma.
Agullo comenta que, no Brasil, o único estímulo governamental para os sistemas fotovoltaicos são as opções do Fundo Clima do BNDES. O ponto fraco desta opção, em sua opinião, é que obriga uma nacionalização de 60% nos equipamentos, restringindo as opções de fornecedores ao único fabricante nacional. Como medidas que poderiam ser implantadas, ele sugere a isenção ou exoneração de impostos, redução temporária das taxas de importação de equipamentos, linhas de crédito para empreendimentos solares, leilões de energia específicos para a fonte solar – como se fez com a eólica –, criando massa crítica suficiente para o desenvolvimento dos fornecedores nacionais.
Com algum incentivo do governo, a inclusão massiva dos sistemas solares será uma realidade incontrolávelRuben Agullo
Mesmo sem uma política de incentivo, algumas indústrias começam a procurar informações sobre o funcionamento do novo sistema, na expectativa de reduzir os custos com a energia utilizada. Agullo informa ainda que vários órgãos públicos do país estão demonstrando interesse em implementar sistemas fotovoltaicos em coberturas de prédios públicos. Alguns deles, com objetivos claros de gerar energia antes mesmo da Copa do Mundo. A vantagem da energia fotovoltaica é que ela permite projetar sistemas modulares, que geram energia de acordo com a necessidade do cliente, podendo ser instalada em prédios públicos, residências bem como em indústrias de todos os portes.
Em São Paulo, o preço da energia é razoável e a geração solar não é forte, mas com a redução dos preços dos equipamentos, a cidade será um grande mercado para o setor. “Os projetos construtivos devem começar a prever a instalação desses sistemas. Eles devem ser concebidos evitando sombreamentos e privilegiando a possibilidade de maior aproveitamento da incidência solar sobre a edificação”, orienta.
As residências podem ser unidades geradoras para a rede distribuidora, mas devem se preocupar com árvores ou edificações, que possam impedir a chegada da luz solar. Agullo diz que é importante lembrar que a residência continuará ligada à rede para receber energia durante a noite. O que for gerado de dia será compensado com o que for consumido à noite. “O controle do consumo e de geração será automático, e o sistema de ligação será paralelo ao já existente nos domicílios”, informa.
Antes de o consumidor decidir se adere ou não à geração fotovoltaica, deve analisar os recursos solares da região e o seu consumo atual para avaliar a relação custo-benefício do sistema. “Em nossa empresa, apresentamos o estudo com os equipamentos, técnicas, cálculo de vida útil e simulações de economia anual de energia, e em quanto tempo o equipamento se paga”. A simulação é feita para o ano todo e a variação de geração de energia de um ano para outro é de 5%, sendo que a instalação tem vida útil de 20 anos. “É um sistema compensador”, afirma.
Estudos indicam que a incidência solar no Brasil é maior em Tocantins e no interior da Bahia, onde são favoráveis as condições para implantação de sistemas fotovoltaicos, inclusive devido ao alto custo da energia elétrica nestas regiões. Entretanto, diz Agullo, na Alemanha, onde há o maior número de instalações, a região mais apropriada para sistemas fotovoltaicos tem incidência de radiação solar 70% menor do que no pior lugar no Brasil. “No território brasileiro não existe região para ser descartada”, diz.
MANUTENÇÃO
O sistema fotovoltaico é uma instalação elétrica com a particularidade de que o gerador está exposto ao sol. Segundo o engenheiro Ruben Agullo, a manutenção do sistema é mínima e consiste em um simples programa de limpeza dos painéis para garantir uma captação de energia ótima. Em muitos lugares, a própria chuva faz esse trabalho e duas revisões anuais da limpeza das superfícies são suficientes para garantir a geração sem reduzir a energia produzida. Explica que uma estimativa séria da performance de uma instalação fotovoltaica considera pequenas perdas por pó ou sujeira inferiores a 2%.
Colaboração técnica
- Ruben Agullo — Engenheiro mecânico pela Universidade de Málaga (Espanha). Mestre em Energias Renováveis pela Universidade de Zaragoza. Experiência de 8 anos em projetos, desenho, implantação e gerenciamento de instalações solares térmicas e fotovoltaicas (tanto ligadas à rede elétrica quanto autônomas). Certificador Oficial pela Agência Valenciana da Energia para classificação energética em edifícios. Professor de Cálculo e Desenho Prático de Sistemas Fotovoltaicos no curso de Especialista Universitário em Energias Renováveis na Universidade de Málaga nos anos 2009 e 2010. Atualmente é Diretor Técnico de Effitech Spain, S.L., empresa de engenharia e instalação de sistemas solares e biomássicos. Tem participado em mais de 50 projetos fotovoltaicos com uma potência total instalada superior a 10 MW. Como membro da ONG “Engenharia Sem Fronteiras – Espanha”, colaborou como voluntário em projetos locais de abastecimento de água e energia em Moçambique (2009). Atualmente é membro do Green Building Council Brasil e consultor em projetos solares em São Paulo pela Effitech Energias Renováveis.