Primeira “fábrica de prédios” do país está em pré-operação em Cascavel
Francisco Simeão, CEO da Ecoparque Bairros Integrados, dá detalhes sobre a iniciativa que prevê a construção de mais de 4 mil apartamentos em edifícios de 15 pavimentos
(Foto: Divulgação/Ecoparque Bairros Integrados)
Está em fase de pré-operação, em Cascavel (PR), a primeira “fábrica de prédios” do país, como afirma Francisco Simeão, CEO da Ecoparque Bairros Integrados, em entrevista ao Portal AECweb.
Ela nasce para materializar na cidade os edifícios de 15 pavimentos, com oito apartamentos por andar, em uma área de 1 milhão de m² de terreno, vinculados ao Minha Casa Minha Vida. Utilizando tecnologia alemã, a indústria tem capacidade instalada para a construção de 4 mil unidades/ano, o que deve acontecer a partir de 2026. O bairro contará com equipamentos públicos que serão doados pela empresa ao poder público.
Leia mais a seguir, na entrevista completa.
AECweb – Como funciona a fábrica da empresa Ecoparque?
Francisco Simeão – Neste início de 2024, a nossa ‘fábrica de prédios’ está refinando a qualidade, envolvendo matérias-primas e ensaios em laboratórios próprios. Na prática, são várias fábricas em uma só. Adquirimos todos os insumos que entram na construção, desde o cimento para a nossa concreteira até os revestimentos cerâmicos. No caso do aço, compramos em bobinas para transformar nas telas que integram as placas de concreto das paredes, lajes e escadas. Fabricamos, também, os banheiros, que saem prontos para o canteiro. Na indústria não há pedreiros nem carpinteiros, mas soldadores no canteiro que montam as peças.
AECweb – Explique a tecnologia alemã empregada.
Simeão – Essa tecnologia foi desenvolvida no fim da 2ª Guerra Mundial e, com ela, a Europa foi reconstruída. Evoluiu com a entrada dos computadores na década de 1960, se sofisticou com a robotização e a internet dos anos 1990. Foi exportada para vários países, como China, Singapura e Malásia. Nós a trouxemos e aprimoramos a qualidade. Como a maior parte dos apartamentos serão destinados à população de baixa renda, através do programa Minha Casa Minha Vida, as placas de concreto devem sair prontas. Elas dispensam acabamento na obra, bastando a pintura.
AECweb – Qual a capacidade instalada da fábrica?
Simeão – Para identificarmos a capacidade instalada, é preciso considerar metros quadrados construídos. No Minha Casa Minha Vida, o apartamento padrão com dois dormitórios e um banheiro tem 34 m² de área privativa e 54 m² de área total. Os apartamentos que projetamos, na mesma faixa de preço do programa, têm, respectivamente, 57 m² e 97 m². Nesse padrão, a fábrica terá capacidade de produzir 5040 unidades/ano.
AECweb – Haverá prédios com apartamentos maiores?
Simeão – No Bairro Integrado que construiremos em Cascavel, em terreno já adquirido de 1 milhão m², teremos três tipologias de apartamentos em prédios. Além do básico, idealizamos o que chamamos de MCMV ‘turbinado’, com suíte em 71 m² de área privativa e 130 m² total. E o terceiro, que vai representar 20% do bairro e estará fora do programa, terá três dormitórios sendo uma suíte. Levando em conta esse mix de tipologias, a fábrica estará apta para produzir 4 mil unidades/ano, capacidade plena prevista para 2026. Mas já no próximo ano, deve atingir 50%. Nossa meta é construir, a partir de 2026, outras 20 fábricas no país, com igual capacidade produtiva cada uma.
AECweb – As obras já se iniciaram?
Simeão – Construímos um primeiro prédio baixo, com três pavimentos e seis apartamentos – três destinados a diretores da fábrica e os demais como showroom. Estamos agendando para pessoas do Brasil inteiro que querem conhecer a fábrica e a construção. Estamos aguardando a autorização da prefeitura de Cascavel para iniciar as obras dos três primeiros prédios de 15 andares, o que deve ocorrer a qualquer momento. A fábrica já está produzindo e estocando.
AECweb – A empresa investe recursos próprios?
Simeão – Sim, não dependemos do BNDES nem do sistema bancário. Foram R$ 400 milhões, sendo R$ 200 milhões investidos na fábrica, R$ 100 milhões na compra do terreno em Cascavel para o primeiro Bairro Integrado Ecoparque, com 1 milhão de metros quadrados, onde vamos construir 4360 apartamentos em prédios de 15 pavimentos, com oito por andar. Vamos construir creche, escola, unidade de saúde e posto policial, que daremos de presente para a administração municipal e estadual. A educação é parte fundamental deste projeto, que pretende que as escolas, em tempo integral, atinjam a nota 8 do IDEB.
AECweb – Qual é o perfil dos funcionários da fábrica?
Simeão – Os operários da fábrica são treinados por nós para operar a tecnologia embarcada nas máquinas e equipamentos. Portanto, são bastante qualificados, para operar computadores e robôs. Dado o alto elevado percentual de automação, é uma quantidade pequena de funcionários. O salário-mínimo parte de R$ 5 mil para turnos de 6h. A fábrica funcionará em quatro turnos, seis dias/semana e um para manutenção. Quando atingirmos a capacidade plena, teremos 150 funcionários na fábrica. Já no canteiro de obras, a equipe será maior, basicamente constituída por soldadores para a montagem dos prédios.
AECweb – Como a Ecoparque vai lidar com a exígua oferta de gruas e guindastes para içar as peças pré-moldadas?
Simeão – Todos os prédios terão 15 pavimentos. Para içar as peças pré-fabricadas, estamos adquirindo gruas que vão atender um prédio em cada canteiro, e serão vários simultâneos. Feitas as fundações, as obras dos andares são executadas rapidamente. Cada prédio ficará pronto em seis meses. Isso significa economia de escala, inclusive na gestão do condomínio, com custos reduzidos da taxa de energia, num mix de solar e elétrica; de água, com poços artesianos; e tratamento de esgoto. Adicionalmente, vamos oferecer aos compradores das unidades um pacote completo de eletrodomésticos, móveis planejados e decoração.
AECweb – Como estão lidando com a tributação, gargalo da industrialização da construção?
Simeão – Nós fizemos um planejamento tributário ideal, que reúne todas as atividades numa única empresa. A Ecoparque é, ao mesmo tempo, fábrica, loteadora, incorporadora, construtora e imobiliária. Ou seja, a obra não vai comprar sistemas pré-fabricados de terceiros, mas receberá de sua própria indústria. Dessa forma, o único tributo que incidirá são os 4% do RET (Regime Especial Tributário).
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Colaboração técnica
- Francisco Simeão – Neste início de 2024, a nossa ‘fábrica de prédios’ está refinando a qualidade, envolvendo matérias-primas e ensaios em laboratórios próprios. Na prática, são várias fábricas em uma só. Adquirimos todos os insumos que entram na construção, desde o cimento para a nossa concreteira até os revestimentos cerâmicos. No caso do aço, compramos em bobinas para transformar nas telas que integram as placas de concreto das paredes, lajes e escadas. Fabricamos, também, os banheiros, que saem prontos para o canteiro. Na indústria não há pedreiros nem carpinteiros, mas soldadores no canteiro que montam as peças.