EPS tem desempenho comprovado por certificação ambiental
Sustentabilidade do EPS ajudou em sua popularização na Europa (Foto: divulgação/Grupo Isorecort)
O poliestireno expandido (EPS) recebeu a nota mais alta nas categorias isolamento térmico e acústico do BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method). Essa certificação ambiental britânica foi desenvolvida pelo Building Research Establishment (BRE) e lançou as bases dos demais sistemas de avaliação existentes atualmente no mercado, como o próprio LEED (Leadership in Energy and Environmental Design).
“No BREEAM, há uma classificação ambiental dos materiais de acordo com seu ciclo de vida, que varia de D (mais baixa) até A+ (mais alta). Dentre as categorias, o EPS obteve A+ em isolamento térmico e acústico”, destaca a arquiteta Paula Brasil, professora do Unilasalle-RJ e da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO). O resultado foi conquistado graças à grande presença de ar na composição do EPS, que dificulta a passagem do calor.
"No BREEAM, há uma classificação ambiental dos materiais de acordo com seu ciclo de vida, que varia de D (mais baixa) até A+ (mais alta). Dentre as categorias, o EPS obteve A+ em isolamento térmico e acústico", Paula Brasil
Na Europa, esse bom desempenho é bastante conhecido e aproveitado pelo setor da construção civil. De acordo com a EUMEPS, associação europeia do EPS, naquele continente a indústria do poliestireno expandido detém parcela de 35% de todo o mercado de materiais isolantes. Em muitos países da região, a solução é empregada para melhorar o conforto térmico das edificações há mais de 40 anos.
O reconhecimento dos benefícios do EPS pelas certificações ambientais pode ser considerado um dos fatores que contribuíram para popularizar o material na Europa. Já aqui no Brasil, de acordo com a docente, alguns profissionais da construção têm utilizado padrões/categorias das certificações como norteadores do processo do projeto com diretrizes de sustentabilidade ambiental. “Mas o BREEAM ainda é pouco aplicado no país”, comenta.
Segundo ela, as certificações mais comuns no mercado nacional são o LEED e o AQUA-HQE. “Ambas também incentivam o uso de materiais de baixo impacto ambiental e com as propriedades do EPS”, ressalta. Entre os critérios do LEED, por exemplo, o poliestireno expandido se enquadra no uso de materiais recicláveis e também está fora da RED List — relação internacional de elementos considerados prejudiciais à saúde humana.
Benefícios do EPS
Somado ao bom desempenho termoacústico, a solução conta ainda com outras vantagens, como seu baixo peso, que não aplica cargas elevadas às estruturas da edificação, e a capacidade de absorver pouca água. “Além disso, o conceito de logística reversa pode ser aplicado ao EPS, já que no Brasil ele é descartado em grandes quantidades e pode ser inserido em um novo ciclo de produção, inclusive, de novos materiais da construção”, diz a arquiteta.
Mesmo com os benefícios oferecidos, o EPS é pouco aproveitado no setor. E, na maioria das vezes, seu uso ainda está muito ligado somente a situações que demandam bom desempenho termoacústico. “Outros dois fatores também explicam a aproveitamento incipiente: falta de cultura da construção em reutilizar materiais no processo de produção e o alto volume que o EPS gera, requerendo espaço físico significativo quando não triturado”, opina a professora.
Na prática
Em conjunto com a professora Louise Lomardo, a arquiteta Paula Brasil participou de projeto de pesquisa na Universidade Federal Fluminense (UFF) envolvendo a solução. “Foi desenvolvido bloco de concreto leve para vedação utilizando 49% de EPS em sua composição. Depois, foram realizados testes de compressão no laboratório de materiais de construção do Unilasalle-RJ e, posteriormente, os blocos foram aplicados em duas residências na comunidade Vital Brazil, em Niterói (RJ). As edificações tiveram significativa redução de calor, variando de um cômodo para o outro em função da incidência solar”, detalha.
BREEAM x LEED
O BREEAM foi o primeiro método de avaliação de desempenho ambiental. “Desenvolvido em 1990 pelo Building Research Establishment, na Inglaterra, contém exigências de caráter prescritivo com foco no interior da edificação, no seu entorno próximo e no meio ambiente”, explica a professora.
Essa metodologia oferece um processo de avaliação baseado em auditoria externa aplicada nos estágios de projeto, gerenciamento e operação, e revisão pós-construção em edifícios de escritório, indústrias, residenciais e comerciais. A avaliação ocorre sob o sistema de pontuação nos seguintes aspectos: gestão; saúde e bem-estar; energia; transporte; água, materiais; uso do solo; ecologia e poluição.
Já o LEED foi desenvolvido em 1996 pelo USGBC (United States Green Building Council), tendo a primeira versão publicada em 1999. “Ele enfatiza estratégias para o desenvolvimento sustentável do espaço, aproveitamento de água, eficiência energética, seleção de materiais e qualidade ambiental interna”, conta a especialista. A avaliação ocorre através da somatória de pontos em seis áreas principais: sítios sustentáveis; uso eficiente de água; energia e atmosfera; materiais e recursos; qualidade do ambiente interno; e inovação e projeto.
Novas tecnologias
Na opinião da professora, o uso de metodologias de certificações ambientais vem crescendo no Brasil e, de fato, podem contribuir para a gestão do processo de projeto visando a sustentabilidade, além de funcionarem como indicadores de desempenho.
Entretanto, é importante destacar que tais metodologias não são premissas para sustentabilidade, ou seja, é possível projetar e executar edificações visando à redução de impactos sem que essas sejam certificadas. “É tempo de pensarmos em novas tecnologias de materiais e processos que contribuam para a qualidade ambiental durante o ciclo de vida e, em especial, no produto final edificado”, finaliza Brasil.
"É tempo de pensarmos em novas tecnologias de materiais e processos que contribuam para a qualidade ambiental durante o ciclo de vida e, em especial, para o produto final edificado", Paula Brasil
Para mais informações e detalhes técnicos, acesse www.isorecort.com.br.
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Colaboração Técnica
Paula Brasil — Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Gama Filho. Especialista em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas. Mestre em Arquitetura e Urbanismo (linha de pesquisa Projeto, Produção e Gestão) pela Universidade Federal Fluminense. Doutora em Arquitetura (linha de pesquisa Projeto e Sustentabilidade) na Universidade Federal do Rio de Janeiro - PROARQ/ UFRJ. Tem pós-doutorado em Inovação e Tecnologias para a qualidade do projeto - PPGAU/UFF e Fraunhofer Institut (2016). Pesquisadora do Laboratório de Conservação de Energia e Conforto Ambiental - LabCECA/UFF na área de gestão de processo de projeto em edificações sustentáveis. Coordena o grupo de pesquisa Gestão de projetos e sustentabilidade (GPS). É professora do Unilasalle-RJ e da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO).