Equipamentos de proteção individual garantem a segurança dos operários
Embora a utilização seja satisfatória nas capitais, no interior ainda deixa a desejar. As principais causas para a recusa são falta de instrução, desconforto e ausência de fiscalização
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Se colocado no orçamento final de uma obra, o custo dos Equipamentos de Proteção individual (EPIs) é relativamente baixo, mas o uso na Construção Civil brasileira ainda está aquém do esperado. A recusa na utilização se dá por três motivos: falta de instrução e orientação sobre os riscos à segurança e à saúde; desconforto; e ausência de fiscalização por parte da própria construtora.
De acordo com Giovani Pons Savi, consultor em Segurança no Trabalho, nas obras civis de grande porte executadas, sobretudo nas regiões centrais, a utilização é até satisfatória. Porém, situação preocupante ocorre fora das capitais. “Em geral, a cultura de trabalho não é a mesma em regiões mais afastadas, como no interior, por exemplo, cujo número de operários que não fazem o uso de EPIs ou o fazem de maneira inadequada, ainda é grande”, afirma.
Para Haruo Ishikawa, vice-presidente de relações capital-trabalho do Sindicato da Construção de São Paulo (SindusCon-SP), o aquecimento na indústria da construção, impulsionado pelas obras de infraestrutura, logística e urbana levou as empresas a investirem em qualificação de mão de obra. “A vantagem é que passamos a contar com uma geração de trabalhadores não só preparada para oferecer melhor qualidade nos serviços, mas, principalmente, ciente de que aspectos como segurança e saúde são fundamentais à atividade”, diz.
Mas, apesar do trabalho de conscientização, as estatísticas não são muito animadoras. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 40 mil trabalhadores do setor se acidentaram em 2011. “Os acidentes ainda ocorrem, pois os maiores desafios são dimensionamento e planejamento correto dos equipamentos de proteção coletiva, bem como a conscientização dos trabalhadores quanto aos riscos e procedimentos seguros de trabalho”, acrescenta Savi.
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Desconforto inibe o uso
De acordo com a NR-18, referente às condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção, os EPIs devem ser usados quando os sistemas coletivos, SPCs, são insuficientes para neutralizar os riscos de acidentes. Vale lembrar que os EPIs não evitam esses acidentes, contudo, diminuem os impactos das possíveis lesões.
No Brasil existem excelentes fabricantes de equipamentos certificados pelo Ministério do Trabalho (MT). “A eficiência do EPI é garantida pelo MT por meio de testes. A partir daí, é emitido um Certificado de Aprovação (CA) ao fabricante ou importador da peça”, explica Haruo Ishikawa. Ele acrescenta que a certificação não representa somente qualidade, mas atesta a segurança dos equipamentos.
Laércio Silva, consultor em Saúde e Prevenção de Acidentes, lembra que mesmo com garantia oferecida pela certificação, ainda são comuns reclamações por parte dos trabalhadores. Isso porque, muitas vezes, alegam total desconforto. Por outro lado, é necessário saber a origem destes incômodos. “Se na construtora as compras são feitas por profissionais não especializados em segurança e medicina do trabalho, corre-se o risco das escolhas serem feitas somente com base no preço, uma vez que existem fabricantes e importadores de má qualidade”, alerta. Além disso, para Silva, os operários também devem colaborar, utilizando o equipamento conforme as recomendações, e mantendo ainda cuidados no manuseio e higiene.
Desconforto
Existem casos em que o conforto das peças realmente deixa a desejar. Mas isso só pode ser resolvido quando o operário manifestar sua insatisfação. “As empresas que trabalham com equipamentos certificados devem orientar seus funcionários que há peças com melhor adaptabilidade”, explica Ishikawa. “Atualmente, os capacetes, por exemplo, possuem uma ergonomia melhor, com tamanhos adequados para cada um”, acrescenta. Por outro lado, às vezes, o operário não compreende que alguns incômodos sempre irão ocorrer. “O uso de óculos de proteção pode não ser dos mais agradáveis, mas vale destacar os benefícios oferecidos por ele. É preciso chamar a atenção dos trabalhadores que, em uma obra, fragmentos ou partículas podem ser prejudiciais e até comprometer a visão pelo resto da vida”, enfatiza Silva.
AdequaÇÃO É essencial
Orientações simples no dia a dia do canteiro podem fazer a diferença se a empresa investir em EPIs de qualidade. Assim como os óculos, os calçados, por exemplo, são igualmente importantes. O uso da numeração certa e com meias é fundamental para não causar bolhas, irritações etc. O mesmo ocorre com as luvas que, para cada função requerem determinado tipo de material, como PVC na concretagem e raspa na execução de armaduras. “Os problemas começam quando o trabalhador utiliza o equipamento de forma inadequada, à sua maneira e sem orientação ou fiscalização. Nesse caso, pouco importa se a peça é certificada ou não, pois sua função acaba sendo prejudicada”, conclui Ishikawa.
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
Haruo Ishikawa é engenheiro civil; vice-presidente de Relações Capital Trabalho do SindusCon-SP; conselheiro do Instituto Falcão Bauer de Qualidade; conselheiro da Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes (ABPA) e membro efetivo da Comissão Permanente de Relação trabalhista da CBIC e do Comitê Permanente Nacional da NR 18 (CPN NR18). É também sócio presidente da Construtora H. Ishikawa Engenharia e Construções Ltda.
Giovani Pons Savi é Consultor em Segurança no Trabalho e editor do blog Nossa Segurança do Trabalho. Há 13 anos atua na área de Segurança do Trabalho
Laércio Silva é professor da Universidade Estadual da Paraíba, consultor em Saúde e Prevenção de Acidentes e atua como técnico em Segurança do Trabalho. Além de Presidente do Conselho Fiscal da ASTEST-PB, mantém um blog com dicas de segurança e saúde.