Equipamentos maximizam produtividade em obras com paredes de concreto
Sistema usado em construções com alto grau de repetição é beneficiado quando combina máquinas corretas – como gruas e muncks – a um planejamento logístico consistente
O sistema de paredes de concreto resulta em alta produtividade e menos custos com mão de obra (foto: divulgação / Htneim)
Muito aproveitado na construção de casas e edifícios com alto grau de repetitividade, o sistema de paredes de concreto vem sendo amplamente utilizado nos últimos anos, impulsionado por programas de habitação popular como o Minha Casa Minha Vida. Trata-se de uma tecnologia construtiva que consiste na produção de paredes de concreto maciço moldados in loco em fôrmas reutilizáveis metálicas, plásticas ou de madeira.
Reforçadas com telas de aço, as paredes têm função estrutural. Dessa forma, permitem a execução simultânea de estrutura e vedação, o que resulta em alta produtividade e menos custos com mão de obra. A tecnologia chega a ser três vezes mais produtiva em comparação ao método convencional (com pilares e vigas de concreto e blocos para fechamento) e duas vezes mais veloz do que a alvenaria estrutural.
No mercado brasileiro é possível encontrar dois tipos de obras que utilizam paredes de concreto. O primeiro se baseia na moldagem de paredes com fôrmas pequenas, manuseáveis, para casas térreas. Mais recentemente, ganhou força a construção de paredes de concreto com painéis de fôrmas maiores, para atender a projetos de edifícios habitacionais para classe de renda média. Esses projetos, em função do tamanho dos moldes, são naturalmente mais dependentes de equipamentos para movimentação dos painéis.
CONCRETO BOMBEADO
Os ciclos rápidos de execução das paredes de concreto exigem uma dinâmica de suprimentos ágil e estruturada, principalmente em relação aos seus insumos principais (concreto, armações e jogos de fôrmas).
Nas obras, uma série de equipamentos costuma ser especificada em função do porte da construção e dos moldes utilizados. No caso de uso de painéis leves/manuseáveis e concretagem simultânea de paredes e lajes, o principal equipamento exigido é a bomba de concreto.
Em edifícios com até cinco pavimentos é comum o uso de uma bomba-lança para levar o concreto diretamente do caminhão betoneira até o topo das paredes e das lajes que estão sendo moldadasUbiraci Espinelli Lemes de Souza
“Em edifícios com até cinco pavimentos é comum o uso de uma bomba-lança para levar o concreto diretamente do caminhão betoneira até o topo das paredes e das lajes que estão sendo moldadas”, diz o engenheiro Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, professor do Departamento de Construção Civil da Poli-USP. Em estruturas com painéis maiores, o bombeamento pode demandar a presença de uma bomba estacionária para a concretagem das vigas e lajes, podendo, em alguns casos, exigir o uso de mastro de concretagem para melhorar ainda mais a produtividade deste serviço.
EQUIPAMENTOS DE MOVIMENTAÇÃO
No caso do sistema paredes de concreto, estamos falando de equipamentos pesados, como gruas ou minigruas na construção de edifícios, e de muncks no caso de edificações térreasAugusto Guimarães Pedreira de Freitas
Quando se foca na redução dos prazos de execução e da mão de obra empregada, a especificação de equipamentos adequados é decisiva para o sucesso da obra. “No caso do sistema paredes de concreto, estamos falando de equipamentos pesados, como gruas ou minigruas na construção de edifícios, e de muncks no caso de edificações térreas, para auxiliar no içamento dos materiais, concretagem, montagem e desmontagem das fôrmas e dos sistemas de proteção (bandejas e guarda-corpos)”, explica o engenheiro Augusto Guimarães Pedreira de Freitas, sócio titular da Pedreira de Freitas Engenharia.
Segundo ele, quando o projeto utiliza moldes de alumínio – geralmente para produzir paredes com espessuras menores – é possível, mas não desejável, dispensar o uso de grua. Já na construção de edifícios, quando se opta por fôrmas mais pesadas – para fachada e miolo do hall de escada e elevador, por exemplo – o uso da grua é indispensável. “Nestes casos, são necessários equipamentos com capacidade de içamento na ponta de 3 tf”, salienta Pedreira de Freitas. Nas obras com fôrmas de peso intermediário, as gruas utilizadas podem ser mais leves, com 1 tf na ponta. Também podem ser usados guindastes em obras de prédios mais baixos.
Para edifícios que contemplam múltiplos pavimentos, uma solução recorrente são as fôrmas trepantes. Por serem compostos por painéis de grandes dimensões, esses moldes exigem menos etapas de montagem, agregando ainda mais produtividade. Por outro lado, demandam o uso de gruas no canteiro para sua movimentação. “Mas uma vantagem das fôrmas trepantes é a presença de andaimes de trabalho no conjunto da própria fôrma. Através deles, parte dos serviços de acabamento é realizado imediatamente após a execução de determinado pavimento, conferindo ainda mais agilidade à obra”, destaca Pedreira de Freitas.
PROJETO DE LOGÍSTICA
Embora utilize concreto moldado in loco, o sistema de parede de concreto aproxima a construção civil de um processo industrial no qual a logística passa a ser fundamental. “O processo de produção se assemelha ao de uma indústria seriada, onde as atividades, pessoas, materiais e equipamentos devem fazer parte de uma programação cuidadosa”, destaca Ubiraci de Souza. “Nesse contexto, definir previamente a sequência de montagem das peças, estimar e suprir as frentes de serviço com materiais, equipamentos e pessoas na quantidade necessária e na hora certa são pré-requisitos para o sucesso do processo”, acrescenta o professor.
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Colaboração técnica
- Augusto Guimarães Pedreira de Freitas – Engenheiro civil pela Poli-USP, tem especialização na área de projeto estrutural de concreto armado e protendido, alvenaria estrutural e pré-moldados. É sócio titular da Pedreira de Freitas Engenharia. Também é conselheiro e ex-presidente da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece)
- Ubiraci Espinelli Lemes de Souza – Engenheiro civil com doutorado pela Poli-USP e pela Pennsylvania State University. Professor livre docente do Departamento de Construção Civil da Poli-USP, é diretor da Produtime Gestão e Tecnologia e autor de uma série de livros sobre gestão da construção