Equipamentos viabilizam a execução de estruturas em balanço
Escoramento com perfis metálicos I e W, treliças, escoras e torres são algumas opções. Em alguns casos protensão pode ser indispensável
Os escoramentos de balanço devem atender à ABNT NBR 15.696 (Andrej Antic/ Shutterstock.com)
Verdadeiros desafios para a engenharia, as estruturas de concreto em balanço são aquelas em que uma ou mais extremidades ficam suspensas no ar, sem o apoio de pilares. A solução costuma trazer formas arrojadas à arquitetura, sendo muito utilizada na criação de marquises e sacadas, por exemplo.
Em função de suas características, as lajes e vigas em balanço, quando submetidas a cargas e esforços, tendem a ser mais flexíveis do que aquelas totalmente apoiadas. Para tanto, o projetista estrutural precisa lançar mão de soluções capazes de controlar as deformações desses elementos. “Quanto maior for o balanço, por exemplo em grandes terraços de edifícios residenciais, maiores serão as espessuras das lajes, que consequentemente serão mais pesadas, resultando em maiores deslocamentos”, comenta o engenheiro Ênio Canavello Barbosa, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e sócio-diretor da Edatec Engenharia.
Barbosa lembra que uma solução alternativa para viabilizar os balanços é estruturar a peça com vigas, mas isso muitas vezes apresenta limitações por causa da altura piso a piso e pela condicionante arquitetônica.
Outro complicador é o fato de os balanços serem estruturas isostáticas, que dependem totalmente do engastamento. “Isso significa que se houver sobrecargas excessivas ou corrosão de armaduras devido à falta de manutenção, há grande possibilidade de ruína”, alerta Barbosa.
Escoramento
Uma verificação simplificada, somente do momento fletor atuando nos equipamentos, por exemplo, não garante a segurança nesses casosMichael Rock
Por tudo isso, as estruturas em balanço de concreto armado demandam procedimentos executivos adicionais. Em comparação a estruturas mais convencionais, as lajes e vigas em balanço exigem um projeto de escoramento mais sofisticado. “Uma verificação simplificada, somente do momento fletor atuando nos equipamentos, por exemplo, não garante a segurança nesses casos”, comenta o engenheiro Michael Rock, diretor técnico da SH Fôrmas. Ele lembra que, além do dimensionamento, devem ser analisados os pesos dos equipamentos, bem como o posicionamento do escoramento no local da montagem.
Para escorar pequenos balanços é muito comum o uso de perfis metálicos, como os perfis I e W de aço estrutural. “Um modelo interessante para suportar soluções de 2 a 3 metros é o perfil extrudado de alumínio AL22, que se caracteriza por ter baixo peso e alta resistência à torção”, comenta Rock. De acordo com o engenheiro, para balanços com dimensões maiores, a partir 4 metros e cargas elevadas, a saída é recorrer ao uso de treliças metálicas.
Em geral, em edificações, o sistema mais recorrente para terraços em balanço é o de escoras simples. “Já em edifícios com lajes piso a piso superior a 3,5 metros é comum o uso de torres, porque as escoras simples não têm capacidade de resistência para esses casos”, acrescenta Ênio Barbosa.
Além da fôrma e da estrutura de apoio, o projeto executivo deve prever uma plataforma de trabalho segura, incluindo equipamento com guarda-corpo e eventuais medidas de proteção contra quedas. “Muitas vezes, a estrutura em balanço só é viabilizada com o uso de protensão. Nessa hora, é imprescindível que o andaime tenha espaço suficiente para a operação do uso dos macacos de protensão”, salienta o diretor da Abece.
Ponto crítico
As boas práticas recomendam que a retirada de fôrmas ocorra sempre no sentido da extremidade do balanço para o apoioÊnio Barbosa
Cuidados especiais devem ser adotados no processo de desforma de elementos em balanço. “As boas práticas recomendam que a retirada de fôrmas ocorra sempre no sentido da extremidade do balanço para o apoio, mantendo as condições do sistema estrutural concebido”, comenta Ênio Barbosa. Ele sugere que projetistas das empresas de fôrmas e escoramentos mantenham contato constante com o engenheiro estrutural para melhor definição do sistema a ser utilizado. “Em algumas situações, a solução dada pelos projetistas é o cimbramento em leque, que resulta em esforços horizontais a serem averiguados pelo engenheiro”, revela o projetista.
Independentemente de haver balanço, todos os escoramentos devem atender aos requisitos da ABNT NBR 15.696 – Fôrmas e escoramentos para estruturas de concreto – Projeto, dimensionamento e procedimentos executivos. Mas nem todos os aspectos de cálculo são tratados nesta norma. “Para escoramento de aço, por exemplo, uma referência muito importante é a ABNT NBR 8.800 – Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios, que trata do dimensionamento de estruturas metálicas”, destaca Rock.
Falhas no dimensionamento e na montagem do escoramento de estruturas em balanço podem gerar uma série de prejuízos à construtora, que vão de patologias no concreto de difícil correção a atrasos na concretagem, passando por colapsos que podem gerar acidentes fatais.
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Colaboração técnica
- Ênio Canavello Barbosa – Engenheiro civil, é vice-presidente de Tecnologia e Qualidade da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e sócio-diretor da Edatec Engenharia./dd>
- Michael Rock – Formado em engenharia mecânica na TU München (Alemanha), é sócio e diretor técnico da SH Fôrmas.