Especificação de pisos para briquedotecas e playgrounds não é brincadeira
Cimentados pintados, vinílicos, emborrachados, gramados e areia são os principais tipos recomendados por especialistas
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Pisos ásperos, abrasivos e rugosos são reconhecidos por sua capacidade antiderrapante, o que atesta segurança, certo? Quando se trata de um playground ou brinquedoteca, não. Por poderem provocar machucados em crianças, tais acabamentos não são recomendados. Em contrapartida, acabamentos com superfícies muito lisas e rígidas, também são contraindicados: “É discutível ainda a utilização de pisos com superfícies duras, como os pisos cerâmicos, pela sua incapacidade de absorver os impactos decorrentes de quedas ou mesmo de atividades previstas, como corridas e saltos, comuns nessas áreas”, diz o professor José Bento Ferreira, do departamento de Engenharia Civil, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Guaratinguetá.
Se as noções corriqueiras de segurança para coberturas de piso não valem para essas áreas específicas, quais as indicações? Cimentados pintados, pisos vinílicos, pisos emborrachados, gramados naturais ou artificiais e areia são os principais tipos recomendados por especialistas. Deve-se notar, no entanto, que parte dessas opções é indicada apenas para espaços recreativos indoor – tais como brinquedotecas, quadras e playgrounds cobertos, por exemplo. Um deles é o piso vinílico, que embora apresente boas qualidades para uso interno, não foi fabricado para ficar exposto à ação do tempo.
O que considerar
Para o professor José Bento Ferreira os principais quesitos a serem analisados na escolha desses acabamentos específicos são: estabilidade da superfície (evitando o efeito “chão encerado”), continuidade da superfície (mesmo com peças encaixadas, não pode haver relevos) e aspecto não muito rugoso da superfície (sem grande efeito abrasivo). Esses quesitos estariam ligados à segurança do piso.
Quanto à manutenção, o professor da Unesp e membro da ABNT alerta que é preciso observar a capacidade do material quanto à resistência a intempéries e o desgaste decorrente do uso. Para pisos de áreas externas, também é recomendado dar atenção às colas de fixação das peças, para que sejam resistentes aos ciclos de lavagem da chuva. As tintas ou camadas superficiais também devem ter resistência à ação dos raios UV. Condições de drenagem e declives devem ainda ser avaliadas, para que o acúmulo de água ou umidade permanente não permita a proliferação de micro-organismos.
Mesmo com preocupações específicas, a resistência do material não deve ser deixada de lado: “Nos casos em que se aplicam, devem ser adotados pisos de PEI 4 ou 5, para não gerar manutenção ou substituição excessiva ou onerosa”, diz José Bento Ferreira.
Normas
A partir de 15 de junho de 2013 entra em vigor a norma ABNT NBR 16071 – Playgrounds. Essa diretriz da Associação Brasileira de Normas Técnicas possui sete partes, que abordam desde a terminologia de inspeção, manutenção e utilização de áreas recreativas destinadas a crianças, bem como de todos os seus componentes. As regras valem para locais dessa modalidade instalados em escolas, creches, áreas de lazer públicas, restaurantes, buffets infantis, shopping centers, condomínios, hotéis e outros espaços coletivos familiares.
A parte três da norma, especificamente, trata de requisitos de segurança para pisos absorventes de impactos. O professor José Bento Ferreira alega ser indispensável estar a par de todos os requisitos dessa norma, quando se tem a responsabilidade de projetar, instalar ou construir um playground. “Como de praxe, na elaboração dessa norma, foram reunidos em uma comissão representantes dos diversos segmentos envolvidos, fabricantes, consumidores, laboratórios e instituições de ensino e pesquisa, para que o texto final fosse realista, aplicável e, principalmente, para que protegesse o consumidor de produtos de baixa qualidade”, diz o professor.
Lugares estratÉgicos
Demandas de uso, segurança e manutenção de locais específicos dentro de áreas de diversões destinadas a crianças também devem ser avaliadas. Em espaços de uso mais intenso do playground, como a saída de um escorregador ou balanço, por exemplo, deve-se evitar o uso de grama natural, que sofrerá o efeito de pisoteamento. Nesse caso, seria melhor escolher um piso que absorva melhor os impactos, como um emborrachado.
Espaços recreativos internos ou cobertos gozam de mais opções para aplicação ao piso. O engenheiro Paulo Constantini, da Const Consultoria, responsável por um projeto de playground em um clube da capital paulista, lembra dos benefícios dos laminados, pisos vinílicos, estados de borracha e outros feitos a partir de poliuretano colorido. Todos possuem características favoráveis em comum, tais como propriedades impermeáveis, antiderrapantes, ergonômicos e por permitirem redução de vibrações e choques. O engenheiro lembra ainda outro fator relevante na escolha de um material para áreas infantis: a absorção de calor, que deve ser baixa, para permitir o uso confortável do espaço.
InovaÇÕes
A tecnologia também é uma aliada da segurança das crianças; pisos modernos garantem benefícios extras. Alberto Missrie, diretor da Única Laminados, sugere laminados de alta pressão, que são de rápida instalação e, em alguns casos, possuem proteção antibactericida. Vinílicos com sistema de encaixe “clic” também são recomendados por Alberto para aqueles que precisam acelerar a obra. Produtos com classificação para resistência a alto tráfego e mantas do tipo “capa de uso” também são sugestões do diretor. Alguns deles seguem normas particulares quanto à espessura, resistência a manchas, temperatura, impacto, abrasão e condutividade ôhmica.
Bastante recomendado pelos profissionais ouvidos, o piso vinílico está disponível em régua, placa ou manta, segundo Daniel Damaa, da Damatex. O responsável pela fabricante esclarece que a variedade para o produto também se reflete na classificação do PEI específico para esse material, que vai de 33 a 53. “A definição varia de acordo com o tráfego do local: quanto maior a circulação, maior dever ser o PEI”, diz Damaa.
Muitas vezes, as áreas de playground são administradas por condomínios, com contratação de profissionais sem a devida especialização necessária para a definição de peças e materiais. Experiências assim podem levar a inadequações pontuais, como as que foram conferidas pelo professor José Bento Ferreira em suas análises. Ele cita o caso em que a grama sintética sobre piso de concreto precisou ser substituída por piso de EVA na saída do escorregador, para amortecer impactos. Outro caso real verificado foi a instalação de placas de borracha reciclada sobre um piso de concreto desnivelado, que ocasionou a retenção de água, levando à proliferação de fungos na face inferior das peças. “Pior ainda foi constatar a contratação de um serralheiro para a execução dos brinquedos, sem a menor preocupação com as normas de segurança. Apesar de não se tratar de piso, esse caso mostra a pouca seriedade com que o assunto, algumas vezes, é tratado”, alerta o membro da ABNT.