Esquadrias antirruído são indicadas para casos críticos de isolamento de fachada
Mais robustas e estanques, janelas e portas externas são projetadas sob medida para barrar sons indesejáveis
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
shutterstock - alexandre zveiger
Por fazerem parte da fachada, as esquadrias são itens fundamentais no projeto acústico. Nos grandes centros urbanos, especialmente em regiões próximas a grandes avenidas, bares ou casas noturnas, e nas proximidades de rodovias e aeroportos, nem sempre os modelos tradicionais de portas e janelas são eficazes na tarefa de barrar os ruídos externos. Em casos como esses, é necessário considerar o investimento em um produto acústico, de desempenho superior.
Feitas sob medida e para cada necessidade, as esquadrias acústicas têm a função de reduzir o barulho excessivo para índices próximos ou inferiores aos considerados aceitáveis. A Organização Mundial da Saúde recomenda, para uma boa noite de sono, que o ruído não ultrapasse 30 decibéis (dB) dentro dos dormitórios. As normas brasileiras ABNT NBR 10151 e NBR 10152 estabelecem em 45 dB o índice de conforto acústico em dormitórios e 50 dB em salas de estar.
Em grandes avenidas, informa Edison Claro de Moraes, diretor da Atenua Som, empresa especializada na fabricação de esquadrias com tratamento termoacústico, o ruído alcança índices de cerca de 85 dB. “Para um mínimo de conforto, é necessária uma janela que isole pelo menos 40 dB”, diz. É aí que entram os caixilhos especiais.
Para um mínimo de conforto, é necessária uma janela que isole pelo menos 40 dBEdison Claro
Robustez e estanqueidade
Gerente comercial da fabricante Silence Acústica, Thomas Massami explica que as esquadrias antirruído se diferenciam dos modelos convencionais pelos perfis mais espessos e tubulares, que são preenchidos com material isolante, o uso de acessórios de vedação e vidros especiais – no mínimo, duas camadas do material. “O produto tradicional é projetado para receber vidros de 6 a 8 mm de espessura. Já os caixilhos acústicos podem vir com câmaras de 45 mm”, afirma.
“É um produto mais complexo, mais pesado, com vedação melhor”, acrescenta Edison Claro, da Atenua Som. Uma janela antirruído, afirma, chega a pesar, em média, três vezes mais que uma equivalente comum.
É um produto mais complexo, mais pesado, com vedação melhorEdison Claro
Um dos princípios que regem a acústica, a lei de massa indica, grosso modo, que quanto mais pesada é uma barreira, menor é o ruído transmitido através dela. O uso preferencial do alumínio na fabricação dos perfis relaciona-se, em parte, com esse conceito – a opção pelo material também ocorre em função da sua resistência, durabilidade e flexibilidade. “O ferro seria a melhor opção, por seu peso específico ser maior, mas existem poucas opções de perfis”, observa. Caixilhos acústicos também são encontrados em aço, PVC e madeira.
E vale o quanto pesa. Enquanto uma esquadria comum de alumínio com dimensões de 1,20 x 1,20 m custa entre R$ 200 e R$ 400, o preço para uma acústica de mesmo formato sai por cerca de R$ 1.800 (com instalação), informa Thomas Massami.
Cada ruído, uma solução
Divulgação - Atenua-Som
O projeto da esquadria acústica parte do conhecimento das características do local onde o produto será instalado. Mais do que a intensidade sonora (medida em decibéis), interessa conhecer o espectro da frequência do ruído na região (expressa em Hertz, Hz), se é alta, média ou baixa. O barulho da turbina de um avião, por exemplo, situa-se em uma faixa de frequência diferente da do som do tráfego de caminhões. A distância entre a fonte do ruído e o local de recepção também é levada em conta na análise.
De posse de informações como essas, é possível desenhar a solução mais adequada, combinando os diferentes componentes, em diferentes tipos e espessuras para alcançar o nível de atenuação pretendido. Uma das definições tomada no projeto é sobre o sistema de fechamento. No geral, afirma Edison Claro, os modelos de correr são os que apresentam os maiores desafios em termos de vedação por apresentarem muitas frestas. As tipologias de giro e maxim-ar costumam ter melhor desempenho em termos de estanqueidade.
Um alternativa dos fabricantes para as situações em que há restrições de alteração na fachada do edifício é o sistema de sobreposição. Nele, a esquadria antirruído é aplicada sobre a janela existente pelo lado interno.
Vidros, escolha milimétrica
Por ocupar boa parte da superfície da esquadria, o vidro é peça-chave no isolamento acústico. A escolha, por isso mesmo, deve ser criteriosa. Sobre os produtos que podem apresentar desempenho superior, o gerente-técnico da Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro), Silvio Ricardo Bueno de Carvalho, cita os vidros laminados e os insulados. Para obter resultados mais eficientes ele reforça a importância de conhecer o tipo de ruído a ser isolado e, principalmente a sua frequência.
Como regra geral, explica Thomas Massami, da Silence Acústica, os vidros insulados (ou duplos) têm performance melhor em altas frequências, assim como os monolíticos de maior espessura. Já os laminados costumam ser mais eficazes para o isolamento de ruídos de média e baixa frequências.
Barreiras planas
Insulado (ou duplo) - O sistema alia as vantagens técnicas e estéticas de pelo menos dois tipos de vidro (temperado, laminado, colorido, incolor, metalizado e baixo emissivo). Entre os dois vidros há uma camada interna de ar ou de gás desidratado – dupla selagem. A primeira selagem evita a troca gasosa, enquanto a segunda garante a estabilidade do conjunto. O sistema pode conter uma persiana entre os vidros.
Laminado - É formado por duas ou mais lâminas de vidro fortemente interligadas, sob calor e pressão, por uma ou mais camadas de polivinil butiral (PVB) ou resina. O conforto acústico se dá em função da espessura da camada intermediária.
Fonte: Abravidro
Especificação
Segundo Edison Claro, da Atenua Som, esteticamente é possível projetar qualquer produto, desde que se respeite a norma ABNT NBR 10821 (Esquadrias externas para edificações). Considerada a norma mãe das esquadrias, ela traz requisitos quanto às vedações de ar, água e cargas de vento, além de metodologias de ensaios.
A questão da estanqueidade, inclusive, é fundamental para o isolamento da fachada via janelas e portas acústicas. Além da união entre vidro e o caixilho e da vedação do fechamento, é preciso evitar frestas entre a esquadria e a alvenaria. Ou seja, a boa instalação também é determinante para a eficiência do produto.
É bom saber
Acompanhando as exigências da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15.575), em vigor desde julho, o setor de esquadrias aguarda a publicação de um novo capítulo da NBR 10821, específico sobre o conforto acústico e térmico dos produtos. Pela norma atualmente em consulta, as esquadrias serão classificadas de ‘A’ a ‘D’, dependendo do desempenho. O nível ‘A’ é o que apresenta o melhor isolamento, com índice de redução acústica (Rw) acima de 30 dB. Serão classificadas com ‘B’, as esquadrias que assegurarem entre 24 e 30 dB, e com ‘C’, entre 18 e 24 dB. Janelas que obtiverem nível inferior a 18 dB estarão na classe D, classificação que se extingue em dois anos após a entrada em vigor da norma. Passará a ser obrigatória a realização de ensaios pelos fabricantes para avaliação. A classe de desempenho da esquadria obtida nos ensaios será informada através de uma etiqueta colada no vidro. As informações são da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal). A entidade prevê que as novas exigências passarão a valer ainda neste ano.
Colaboração técnica
- Edison Claro de Moraes – Empresário formado em economia com especialização em Administração de Materiais na Fundação Getúlio Vargas (FGV); é pós-graduado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), possui 30 anos de experiência em soluções acústicas para caixilhos.
- Thomas Massami – Gerente comercial da Silence Acústica. Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade São Marcos, cursou Vendas e Marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
- Silvio Ricardo Bueno de Carvalho – Profissional experiente na área de normalização de vidros, é gerente-técnico da Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro) e chefe de secretaria do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37), órgão responsável por desenvolver e atualizar as normas técnicas relacionadas aos vidros planos sob a responsabilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).