Esquadrias para grandes vãos devem suportar ação dos ventos
Aberturas extensas requerem estruturas que suportem maiores esforços, além de ensaios de segurança, habitabilidade e durabilidade para especificação de componentes
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Esquadrias de vidro permitem passagem de luz e integração visual (Phongsiri Kittikamhaeng/shutterstock.com)
Traçar amplas aberturas para portas e janelas em um projeto arquitetônico, as chamadas esquadrias para grandes vãos, é uma decisão que permite um melhor aproveitamento da iluminação solar e da ventilação natural nas construções. Sob este conceito, é possível alinhar conforto térmico e redução de consumo de energia ao eliminar a necessidade de acender luzes ou de ligar equipamentos de condicionamento do ar.
A preferência por janelas e portas maiores é comum em espaços de alto tráfego, como em átrios de edifícios, shoppings, fábricas e aeroportos, entre outros, pois também otimiza a acessibilidade aos ambientes.
Nada impede que a solução seja adotada em projetos residenciais, mas, por encarecer os custos da obra, se torna uma alternativa mais restrita a casas de alto padrão. Isso porque, para executar esquadrias de grandes dimensões, são necessárias estruturas que possam vencer grandes vãos e materiais adequados ao conceito.
COMPORTAMENTO ESTRUTURAL
Esquadrias para grandes vãos requerem projeto estrutural que atenda à pressão de obstrução que atuará sobre as paredes que receberão a abertura, a fim de evitar deformações. “Os danos ocorrem quando a estrutura não suporta ações extremas, e podem gerar flechas excessivas, trincas, colapso de parte da estrutura ou até mesmo ruína total”, aponta Luis Claudio Viesti, coordenador técnico da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal).
A solução [da estrutura metálica] é bacana porque permite vencer grandes vãos sem pilaresCecilia Reichstul
O cálculo para encontrar esforços mínimos e máximos adequados à estrutura deve considerar variáveis como topografia, entorno da obra, altura da edificação em relação ao posicionamento da esquadria e outros fatores.
Devido à sua leveza e resistência, a estrutura metálica oferece vantagens para esse tipo de projeto. “A solução é bacana porque permite vencer grandes vãos sem pilares”, diz a arquiteta Cecilia Reichstul, do escritório CR2 Arquitetura.
Outra opção é o concreto protendido, cujo preparo das barras garante níveis de resistência ao sistema construtivo e, assim, possibilita vencer grandes vãos entre pilares.
MATERIAIS E COMPONENTES
O vidro é o material mais empregado em esquadrias para grandes vãos, pois permite a consolidação de dois fatores importantes: passagem de luz e integração visual entre ambientes.
Os produtos são encontrados em tamanhos padronizados, sendo que a dimensão máxima no mercado é de 6.000 x 3.210 mm. Para atender portas e janelas especiais, os projetos costumam recorrer aos vidros de grande dimensão feitos sob medida, também chamados de jumbo no setor.
“Os vidros de grandes formatos são uma ferramenta natural para essas criações, especialmente por serem a forma mais eficiente de trazer luz natural aos ambientes, não apresentarem emendas e proporcionarem ampla visibilidade”, indica o coordenador técnico.
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O perfil da esquadria para grandes vãos, geralmente feita em alumínio, aço, PVC ou madeira, também deve ser desenvolvido especialmente. “Há uma relação entre a espessura do vidro e a bitola do perfil que determina o alojamento adequado do vidro, com calços e guarnições dimensionadas de acordo com o sistema utilizado”, notifica Viesti.
Os vidros de grandes formatos são a forma mais eficiente de trazer luz natural aos ambientes, não apresentarem emendas e proporcionarem ampla visibilidadeLuis Claudio Viesti
Em relação aos componentes, eles devem atender ao tripé de segurança, habitabilidade e durabilidade. Para o primeiro item, é necessário que a porta ou a janela garanta estanqueidade total à construção. “Selamentos, guarnições, escovas e thermal break são componentes importantes para as vedações e para melhorar o desempenho da esquadria”, recomenda Viesti.
Já em relação à habitabilidade, as empunhaduras e os puxadores devem apresentar formato anatômico para tornar as operações de manuseio suaves, sem demandar muito esforço do usuário.
Do ponto de vista da durabilidade, é necessário submeter os componentes das esquadrias para grandes vãos à simulação de ensaio, testando o comportamento de movimentação das peças. “Roldanas, gaxetas e articulações devem ser especificadas e até fabricadas especialmente para cada tipo de projeto, conforme o peso das folhas (perfil e vidro) que serão submetidas a abertura e fechamento”, explica Viesti.
ENSAIOS DE DESEMPENHOA norma técnica 10821 da ABNT — sobre esquadrias externas para edificações — estabelece requisitos de desempenho que regulamentam projetos de esquadrias no Brasil. “Ela fornece, para quatro classes de edifícios, definidas pelas suas alturas e usos, e para diversas regiões do país, as pressões de ensaio necessárias”, informa Viesti.
A NBR 6123, que fixa condições mínimas para atender à ação estática e dinâmica do vento, também apoia o desenvolvimento de projetos.
Colaboração técnica
- Cecilia Reichstul – Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atuou em diversos escritórios, entre eles FGMF e Eduardo de Almeida Arquitetos Associados, ambos em São Paulo. De 2009 a 2012, morou na China, onde trabalhou com o setor público, sendo responsável pelo Pavilhão Brasileiro na Expo Xangai 2010, e em escritórios internacionais, desenvolvendo projetos de larga escala, na China e na Turquia. No escritório CR2 Arquitetura, atua no desenvolvimento de projetos e acompanhamento de obras.
- Luis Claudio Viesti – Coordenador técnico da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (AFEAL).