Estrutura de madeira tem vantagens, mas falta mão de obra especializada
A leveza do material onera menos as fundações e pilares e o preço pode ser menor em estados onde não existem siderúrgicas
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
No Brasil, as estruturas de madeira são empregadas em três situações: coberturas de edificações, pontes de estradas vicinais e em estruturas de fôrmas e cimbramentos para edifícios de concreto, sendo que nessa última a utilização ocorre junto do aço. “Essas são as três principais aplicações dessa solução, entretanto não são as únicas. Em países como Estados Unidos e Canadá, por exemplo, 90% das moradias são construídas a partir da madeira e produtos derivados”, destaca o engenheiro Francisco Antonio Rocco Lahr, professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade de São Paulo – EESC/USP. Ele complementa que a alternativa está sendo bastante utilizada no país, porém enfrenta certa resistência. “Periodicamente, e estamos vivendo essa fase, há um debate entre as estruturas metálicas e as de madeira, sendo que os profissionais que preferem as metálicas têm o mesmo discurso: ‘não cortem as árvores’. Na realidade, esse pensamento é equivocado, pois para se produzir o aço é necessária a queima do carvão, que vem da madeira”, afirma.
As empresas que vendem material certificado têm a satisfação de informar os seus clientes sobre a procedência do produto. Isso facilita no momento da busca por uma matéria-prima de qualidade e certificada
Gradativamente, as estruturas de madeira estão ganhando espaço com o uso de matéria-prima de reflorestamento. “As árvores plantadas e tratadas, já com o objetivo de serem aproveitadas na construção civil, apresentam um desempenho muito interessante. Esse é o tipo de estrutura recomendado pelo Ibramem - Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira. Com isso, a aplicação da madeira tropical está caindo em desuso”, explica o professor, ressaltando que em alguns estados não há madeira de reflorestamento disponível e, por isso, nessas regiões as estruturas com peças tropicais ainda são utilizadas. O docente fala também que as madeireiras estão sendo pressionadas para sair da ilegalidade. “As empresas que vendem material certificado têm a satisfação de informar os seus clientes sobre a procedência do produto. Isso facilita no momento da busca por uma matéria-prima de qualidade e certificada”, adiciona.
Para manter o desempenho adequado, as estruturas de madeira necessitam de alguns cuidados como o tratamento contra fungos e cupins e, em algumas situações, a aplicação de substâncias que retardam a propagação do fogo em caso de incêndio. “Também é preciso uma manutenção periódica. Por exemplo, se uma telha quebra e a água atinge a cobertura de madeira pode acontecer um dano irreversível a toda estrutura se o problema não for resolvido o mais rápido possível. Por isso, é recomendada verificação anual em pontes e a cada dois anos em coberturas”, alerta o docente, complementando que esse setor é regido pela ABNT NBR 7190 - Projeto de estruturas de madeira.
Entre as vantagens do uso das estruturas de madeira, ele destaca a leveza do material, que acaba onerando menos as fundações e pilares. Outro ponto apontado é o preço, que pode ser menor em estados onde não existem siderúrgicas. “Também é importante lembrar que a madeira é elemento renovável, sendo que toda a energia necessária para produzi-la vem do sol. Enquanto que para fazer o cimento ou concreto é preciso realizar a queima de minérios, lançando carbono na atmosfera”, diz Rocco, afirmando que não se pode utilizar a madeira para tudo e, em alguns casos, é necessário recorrer a outras alternativas. “Fazendo uma analogia, construir uma ponte como a Rio-Niterói empregando somente estruturas de madeira resultará em um custo muito elevado. O alto valor dessa solução quando aplicada na construção de grandes obras é explicado pelo fato de que há poucos profissionais que trabalham nesse mercado”, comenta.
Também é importante lembrar que a madeira é elemento renovável, sendo que toda a energia necessária para produzi-la vem do sol. Enquanto que para fazer o cimento ou concreto é preciso realizar a queima de minérios, lançando carbono na atmosfera
O baixo número da mão de obra especializada é resultado de uma fase difícil enfrentada pelo setor da construção civil nos anos 1990. “As escolas técnicas ofereciam uma boa quantidade de cursos de carpintaria, entretanto esse número foi diminuindo com o passar do tempo. Com isso, as estruturas que eram montadas de forma artesanal passam a ser fabricadas de maneira industrializada. Atualmente, estamos nessa fase de transição de métodos e cabe às empresas especializadas treinar seus trabalhadores”, explica o professor.
Outro obstáculo que freia o crescimento do uso dessa solução no Brasil é o baixo número de pesquisadores. “É necessário um esforço dos profissionais dedicados a essa área para manter o desenvolvimento das estruturas de madeira e o avanço da normalização. Apesar disso, as normas técnicas do setor estão tão atualizadas quanto as do aço e do concreto. Mas é importante incentivar os trabalhos de pesquisa, pois são estes que permitem a elaboração de documentos normativos bastante respaldados e atualizados”, finaliza Rocco.
Colaborou para esta matéria
- Francisco Antonio Rocco Lahr – Engenheiro civil formado em 1975 pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP. Desenvolveu na mesma instituição sua carreira acadêmica, ocupando diferentes funções e cargos. Atualmente é professor titular do Departamento de Engenharia de Estruturas e atua na área de Madeiras, de Estruturas de Madeira e de Produtos Derivados da Madeira, em particular nas linhas de pesquisa: propriedades e aplicações das madeiras e dos produtos derivados da madeira, estruturas de cobertura, pontes, fôrmas e cimbramentos, normalização, metodologia de ensaio e insumos alternativos na produção de painéis.